“A Rússia é o inimigo”, diz-se nos media. Putin “um ditador, um tirano”. Escapam-me as razões. Preferia que em vez de adjetivos, falassem com substantivos e verbos. Isto é, factos.
Agora com o avião desviado para a Bielorrússia é o delírio. Vê-se que desesperadamente procuram argumentos para… não percebemos bem para quê. Mais uma “revolução colorida”? Propaganda interna dado que a "democracia liberal" se mostra tão disfuncional e em declínio que precisa de “inimigos”? Querem convencer-nos que os russos nos vão invadir? Querem invadir a Rússia, como a NATO tem feito noutros países?
Já lembrámos o caso do avião desviado à ordem dos EUA em 2013. Mas há outro caso curioso, que Maxime Vivas recorda: o do avião impedido de sobrevoar os EUA por ter a bordo como passageiro um jornalista do Le Monde Diplomatic! Por este motivo, o avião teve de ser reabastecido na Martinica, antes de chegar ao seu destino, o México. Tratou-se de Hernando Ospina, “o homem que fez tremer os EUA”!
Hernando Calvo Ospina fugiu da Colômbia país onde jornalistas que não alinhem com o governo acabam na valeta, baleados no pescoço. A Colômbia, país onde há mais de um mês decorrem protestos populares contra o governo fascista de Uribe, que decidiu agora enviar o exército para a cidade de Celi. Tudo isto tem sido silenciado nos media e a Colômbia nã deixa de ser uma "democracia liberal" (tal como Israel...) onde as eleições são sempre "livres e justas", ao contrário da vizinha Venezuela...
Nos media os comentadores exultam porque a UE encontrou nos EUA alguém que lhes dá ordens. Estão felizes, o Trump ignorava a UE, tratava-a como um mero súbdito que apenas tem que obedecer e nem é preciso ser consultado. Com Biden as coisas mudaram, têm a honra do imperador lhes dar ordens diretamente. Fingem que são consultados, embora nos EUA esteja como terceira figura da política externa Victória Nuland, a senhora do "f... european union", como disse na Ucrânia.
A Rússia é o inimigo porque não aceita a "democracia liberal" controlada pelo dólar e pelas transnacionais. Porque desenvolve uma política de soberania, não aceita tratamento de inferioridade com os EUA e países da UE. Porque não pede licença aos EUA para desenvolver as suas forças militares, fazer acordos comerciais ou políticas financeiras.
Logo, a Rússia é o inimigo, dirigida por um tirano. O humanismo dos que disto acusam morre no silêncio quanto aos crimes de Israel, à repressão assassina na Colômbia, aos neonazis da Ucrânia, aos fascistas da Polónia e Estados Bálticos, à repressão brutal no Chile, Honduras e em França contra os "coletes amarelos", etc., etc. O que mais enerva o império é que tendo escrito o "fim da História" - como mais lhe agradava - já não tem na Rússia um Ieltsin, bêbado e corrupto às suas ordens. Dimitri Rogozin no seu livro The hawks of peace , relata a sua história e a da Rússia, desde jovem ex-KGB (quando Ieltsin procedia ao seu desmantelamento) até embaixador da Rússia junto da NATO e apoiante de Putin. A resenha do livro pode ser vista aqui e aqui.
Lá descreve como traidores e corruptos, agiam em conluio com o "ocidente" (NATO) para o desmembramento da Rússia em vários Estados satétites de países da NATO. Se a Rússia não tivesse armas atómicas ter-lhe-ia acontecido o mesmo que à Jugoslávia.
Segundo ele Gorbatchov é admirado no ocidente pelas mesmas razões que na Rússia é desprezado ou mesmo odiado. D R expressa desta forma o sentimento do povo russo: “Uma permanente marca de desonestidade. Esta a essência antinacional dos liberais.” “O cinismo da NATO ultrapassa os piores cínicos deste mundo.”
Estando os "liberais", na realidade neoliberais, totalmente desacreditados na Rússia e não só, não admira que o império se sirva de neonazis e dos neofascistas da extrema-direita para as suas "revoluções coloridas".
A Rússia tornou-se de facto um problema grave para o império. Muito deve ao seu passado que permanece orgulhosamente na sua memória. Partindo de um atraso semifeudal, a URSS tornou-se uma superpotência mundial e inspiração para muitos povos. O seu povo tinha um alto nível de vida, de educação e qualificação. Numa sondagem em 2020, 70% dos russos consideram agora que Estaline desempenhou um papel positivo. Claro que isto só pode irritar os devotos do neoliberal "fim da história".
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