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23 de maio de 2021

Totalitarismo - 3

 Definições que consideram totalitarismo sistemas em que “todas” as atividades sociais são dominadas pelo o Estado, colocam automaticamente o socialismo no descrédito, na ignomínia de totalitário.

São definições instrumentais, destinadas a diabolizar sistemas que a oligarquia não domina. Quando a oligarquia transnacional impôs como sistema universal – e “fim da História” - a “democracia liberal”, pretendeu substituir a discussão sobre os sistemas à sua forma, em vez do conteúdo, os meios pelos fins. A discussão sobre os fins perdia sentido, sendo os fins determinados como axiomas pela ideologia dominante, isto é, os interesses da classe dominante.

O resultado teria de ser como é: desastroso, caótico, até porque os sistemas políticos e sociais de cada país resultam dos seus processos históricos. 

Se no socialismo a participação dos cidadãos nos processos sociais é fundamental, no capitalismo, nenhuma liberdade se sobrepõe à mercantil e à circulação de capital. Todos os direitos e liberdades políticas do proletariado foram e são obtidos através de duras lutas, inclusive com sacrifícios de vidas. O liberalismo promove o individualismo, sob formas de egoísmo, opondo-se aos valores coletivos, aos direitos e deveres sociais. 

No capitalismo, a liberdade instituída é em primeiro lugar para assegurar que o poder real se mantém nas mãos dos grandes industriais e financeiros, a oligarquia. Ou seja, como a realidade comprova, em capitalismo, os direitos e liberdades do povo trabalhador estão sempre em risco, enquanto a população é mantida numa atmosfera de alienação e velhas calúnias. Mas nenhuma destas políticas foi apelidada de “totalitarismo”, tal como o recrudescimento de forças neofascistas, neonazis, e xenófobas, para além de ditaduras oligárquicas mascaradas de democracia meramente formal.

Os pruridos democráticos do chamado centro, caem pelo apoio ou silenciamento perante os neofascismos e partidos de extrema-direita que se desenvolvem na UE e na Ucrânia, com glorificação de nazistas, supressão de elementares regras democráticas, disseminação do racismo e xenofobia. Caem enfim com o alinhamento com a agenda conspirativa e belicista do imperialismo. 

Na Colômbia, a repressão abate-se  sobre um povo heroico e sofredor de há muito, sob o jugo fascista, os media escamoteiam os acontecimentos, a Amnistia Internacional ignora-os, a Human Riggts Watch nunca classificou a Colômbia de ditadura, mas Cuba sim, de totalitarismo. (ver também https://rebelion.org/un-paro-que-anuncia-al-nuevo-poder/)

Com o horroroso Plano Condor, para derrubar dirigentes progressistas eleitos democraticamente e liquidar tudo o que tivesse laivos de progresso, a América Latina tornou-se um antro de prisões, torturas, assassinatos políticos. Procedimentos análogos foram levados para outros continentes, servindo-se de asquerosos ditadores, meros agentes do capitalismo transnacional, deixando os seus povos na pobreza e na opressão. 

Estes países não deixaram de ser considerados do “mundo livre”. Tal como Israel, que despreza resoluções da ONU, destrói, ocupa e mata o povo palestiniano em sucessivas guerras de agressão. 

São estes os “valores” arrogantemente proclamados ao serviço do imperialismo. “Valores” que morrem nos muros para deter mexicanos, em resultado do “comércio livre” NAFTA, ou para deter os que fogem do Médio Oriente ou África em resultado das agressões de países da NATO.

Marx referiu-se ao “cretinismo parlamentar, a forma não de dar expressão à vontade do povo, mas de bloquear essa vontade", para onde se deixavam arrastar forças populares. Um parlamentarismo alheado do povo, reduzindo a democracia a uma retórica por representantes que renegam praticamente tudo o que prometem antes de eleitos. 

As formalidades democráticas, não impediram que os detentores da riqueza se transformassem em novos senhores feudais aos quais quase tudo é permitido em nome dos “mercados”, de “dar confiança aos investidores” ou dos “riscos sistémicos”.

O que as oligarquias mais temem é que a sua “democracia liberal” seja substituída por formas de democracia participativa. Daí que o esclarecimento militante, seja necessário nesta conjuntura dramática a vários títulos, opondo-se à trágica disfuncionalidade de um sistema que terá de ser substituído: o capitalismo. 

socialismo tem de ser considerado  uma livre opção democrática, concretizada na soberania do Estado e no aprofundamento da democracia e em todas as suas vertentes: política, económica, social e cultural. Sem a participação consciente e ativa dos cidadãos naquele sentido, a democracia corre o risco de se tornar uma ficção política e as diatribes parlamentares não irem além de uma competição por lugares ao serviço da oligarquia.

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