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12 de maio de 2021

O imperialismo e la peau de chagrin – 4

 Em 1685, Luís XIV revoga o Édito de Nantes que assegurava liberdade religiosa em França. Para ele a tese era: um reino, um rei, uma religião. As consequências foram desastrosas em termos humanos (crueldades inexcedíveis para os “hugenotes”), materiais e mesmo militares, devido à fuga de gente muito competente nas suas profissões.

O imperialismo assumiu uma postura semelhante: um planeta, um poder, uma ideologia. Tudo isto ditado pelos EUA. Quem não o seguir, é declarado inimigo da “ordem internacional”, das suas “regras” e de “desafiar o domínio da América no mundo” (em Janela Global, RTP 3). A China terá de cumprir “as estruturas internacionais” (?!), à Rússia não se pode tolerar “o afastamento do Ocidente e do modelo liberal”. 

A UE (que a Rússia, e não só, trata como uma sucursal de Washington) quer agora, reconhecer a Índia como parceira, como forma de pressão sobre a China.

A Alemanha pretendia equidistância entre os EUA e aqueles países. Isso não é permitido. “Não há equidistância, a dinâmica é entre regiões autocráticas e democracia”.Não é possível ser a favor de Navalny e do gasoduto Nord Stream 2” (!) Por isso na Alemanha, os Verdes, “europeístas e atlantistas”, são já uma opção do império e poderão vir a ficar em primeiro lugar nas próximas eleições, apenas para criar mais confusão política (não vão ter maioria absoluta) e na economia que não pode prescindir de energia barata para permanecer competitiva.

Quanto mais o império parece avançar, mais a sua “pele” se reduz… Se tudo isto não envolvesse um extenso rol de tragédias seria ridículo. Segundo Manlio Dinucci registam-se 20 a 30 milhões de mortes desde o fim da 2ª Guerra Mundial para os EUA e aliados instaurarem a sua “ordem internacional livre e aberta”. Apenas desde o 11 de setembro de 2001, estimam-se 5 a 7 milhões de mortes em guerras, e mais de 70% das ditaduras recebem ajuda dos EUA. Um estranho recorde para uma nação que justifica as suas intervenções no estrangeiro visando "promover a “democracia” e os “direitos humanos" e que se vale para manter o seu poder do recrudescimento de forças neofascistas, neonazis, e ditaduras oligárquicas mascaradas de “democracia liberal”.

É esta “ordem” que se sente ameaçada pela Rússia e pela China. De facto, A Rússia é um obstáculo à hegemonia dos EUA cujo complexo militar e de segurança necessita de inimigos para justificar o orçamento e o poder. Isto torna muito difícil a melhoria das relações.

Como Paul Craig Roberts afirmou, e os últimos acontecimentos comprovam: A NATO nunca igualará o poder militar russo, porque a aliança tem apenas uma função propagandística, serve principalmente para uma aprovação europeia da política externa dos EUA".

Segundo  porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, as sanções são encaradas como um "gesto de desespero" e uma manifestação da incapacidade das elites locais abandonarem os estereótipos do seu pensamento baseado em não reconhecer o direito da Rússia a determinar de forma independente a sua via de desenvolvimento e relações internacionais. O facto óbvio é que as sanções anti-Rússia são uma arma de dois gumes que não inflige menos danos a que a empunha.

O sistema capitalista está à beira da falência, baseando-se na exploração e no saque dos povos. A ambição que os conduz leva a que a sua “peu de chagrin” reduz-se inexoravel e fatalmente. Quando perdem ficam mais fracos, mas quando ganham mais fracos ficam, visto apenas criarem mais caos, instabilidade, despesas incomportáveis, Estados inviáveis que sobrevivem como excrescências do império, como os atuais Israel, o Kosovo, Ucrânia.

A questão central neste momento, é que com o propósito de permanecerem senhores do mundo, os EUA podem dar origem a uma conflagração de resultará uma destruição mundial em poucas semanas. O que parece ser irrelevante tanto para os media e políticos do sistema como para os ambientalistas do CO2...

As ameaças que pesam tanto sobre a democracia e a autodeterminação dos povos, como sobre o ambiente e a paz, resultantes do totalitarismo imperialista, devem levar-nos a colocar como questão central, a que foi há muito enunciada por Rosa Luxemburgo: socialismo ou barbárie.

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