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7 de novembro de 2023

Terroristas e terrorismo

 É preciso saber o que significam as palavras usadas para todos se entenderem. O problema é que há quem queira o desentendimento. Alterando o significado das palavras alteramos a perceção dos acontecimentos e portanto as ideias. Democracia, direitos humanos passou a ser o que os EUA dizem que é, mau grado os Pinhochets, Mobutos, Suhartos, etc. Como disse de Gaulle, o “mundo livre nada melhor tinha a fazer do que aceitar a liderança de Washington. Eis do que se tratava: nada de fronteiras, desacordos, garantias.”  Portanto, politicamente as palavras acabam por significar o que o hegemónico quer que signifiquem. Cuba, Venezuela, RPDC (Coreia do Norte), China, etc., que o digam.

Terrorismo é a prática de atos violentos (assassinatos, raptos, colocação de bombas) fundamentalmente contra pessoas desconhecidas de modo a incutir medo, pânico obtendo efeitos psicológicos com o objetivo de impor objetivos políticos.

Assim o Hamas é terrorista, Israel também. Com diferenças: entre 2008 e 2020, Israel matou 5 590 palestinos, os palestinos mataram 251 israelitas. Isto é, Israel é 22 vezes mais terrorista que o Hamas. Porém, para o ocidente o único terrorista é o Hamas, visto que “nada melhor tem a fazer que aceitar a liderança de Washington”.

Os “comentadores amestrados” tentam agora ganhar terreno face à perda de apoio de Israel na opinião pública. Como de costume repetem o que vem de Washington, porque contradizer é caminho para ser saneado dos grandes media, que dão um dinheirinho muito útil nos tempos difíceis para todos, bem, para a maioria….

Para uns: não se sabe o que se passa ao certo porque não há observadores independentes no terreno. Como dizem os italianos: “si non é vero, é bene trovato”! É que podiam acrescentar que sob as bombas de Israel - em nome do direto de defesa! - já mataram 36 jornalistas e 88 funcionários da ONU. (Geopolítica ao vivo – Telegram 04/11 e 06/11).

Culpam o Hamas pelo sofrimento dos civis palestinos em Gaza, acusando o Hamas de usar "cínica e monstruosamente" pessoas como "escudos humanos”. Mas nisto apenas repetem Blinken! “His master’s voice”… Outros, fazem votos compungidos pelas vítimas e pela pausa – transitória e “humanitária” - dos ataques. A habitual hipocrisia manifesta-se em armar e financiar Israel (e o que resta da Ucrânia) e pedir a Israel que mostre moderação nas operações militares para "minimizar as mortes de civis, enquanto procura acabar com os terroristas do Hamas e sua infraestrutura de violência". Mas, para que não haja confusões, "Israel nunca ficará sozinho: reiterei ao primeiro-ministro Netanyahu e deixei claro nosso apoio ao direito de Israel de se defender, na verdade, sua obrigação de se defender", disse Blinken. Os “comentadores” repetem. É a vida...

O general propagandista NATO, que conseguiu dizer tudo errado sobre a Ucrânia, continua com bom desempenho no seu papel. Descobriu que “a Resolução das Nações Unidas sobre alvos permitidos é muito clara”. Se por lá anda o inimigo, deixa de ser zona civil e passa a militar. Boa, general, com isto justifica o que quer que a Rússia faça na Ucrânia, mas também o ataque do Hamas no dia 7! Convém dizer que Israel matou num mês, tantos civis como a Rússia em 18 meses.

O secretário-geral do Hezbollah, acusa os Estados Unidos de assumir total responsabilidade pela crise. "Se Israel continuar a atingir nossos civis, digo: todas as opções estão sobre a mesa na frente libanesa". Nasrallah continuou a descartar o posicionamento de navios de guerra dos EUA na região, "ameaças contra nós são inúteis. As vossas forças navais no Mediterrâneo não nos assustam e nunca nos assustaram. Esses navios com que nos ameaçam, nós preparámos uma resposta para eles", disse Nasrallah.

Posto isto, tudo está complicado, provou-se serem inúteis os pedidos para pararem os ataques a Gaza, os EUA não querem que parem, talvez daqui a semanas, disseram. Agora têm um submarino com mísseis nucleares no Mediterrâneo, não se sabe bem para quê. A Rússia olha para tudo isto mais ou menos tranquila, enquanto desenvolve novas armas que a NATO não sonha sequer ter.

Evidência: o mundo entrou em estado de guerra, que ninguém vai parar, nem sabe como continuará. Uma coisa sabemos: mais uma vez, estamos tramados. Disse Brecht: “Seria preciso saber que o capitalismo é um mal em si, para compreender que a guerra e as suas desgraças, são um mal, isto é, inúteis.” (Brecht, por Frederic Ewen, pág. 301).

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