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20 de dezembro de 2022

A Ucrânia transformada em Estado fantasma

O que define um Estado? Território, população, economia, grau de independência política. O território é definido pelas suas fronteiras e nada mais equivoco que as fronteiras da Ucrânia. A oeste a Polónia tem em vista ocupar uma parte das terras ricas, alegando direitos históricos, mas por agora não é este o problema. A Leste, para a Rússia são umas, para o Ocidente são outras.

Putin teve recentemente reuniões com do dirigentes de países limítrofes, como a China, Turquia, Bielorrússia (que, é evidente, se tornou uma fronteira estratégica). Estas reuniões devem ser enquadradas na reunião com os chefes militares, em que terão sido definidas as fronteiras da Rússia, com linhas de defesa estrategicamente estáveis, e posteriores declarações ao país. Putin esclareceu que a missão das Forças Armadas Russas (FAR) é defender as fronteiras do país, torna-las seguras e responder a qualquer ataque “com todos os meios ao dispor” incluindo “forças especiais”.

Esta posição de passar a uma posição defensiva tira argumentos aos neocons e seus vassalos europeus de que a Rússia quer conquistar… não só a Ucrânia mas o resto da Europa - Portugal na versão de alguns não estaria em segurança.

Mas quais são as fronteiras oeste da Rússia? Não sabemos. Apenas as próximas ações militares russas vão definir as do Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia, que fazem já parte da Rússia, de facto.

Esta estratégia – que passará a ser defensiva - tem a virtude de encontrar alguma aceitação no Pentágono: “Alguns oficiais dos EUA, incluindo militares seniores como Mark Milley, presidente do Estado-Maior Conjunto, começaram a defender negociações com base no facto de que a Ucrânia não será capaz de expulsar todas as forças russas, seja qual for a ajuda militar que os EUA e seus aliados injetem.”

Não é provável que a Rússia avance militarmente para Odessa, a estratégia poderá ser outra. De qualquer forma, o clã de Kiev, já perdeu o acesso ao mar, com a Rússia a controlar o mar de Azov e a margem norte de Mar Negro. Odessa só funciona quando, após negociações, a Rússia o permite e para fins específicos.

Quanto aos que consideram que a Kiev deve repor as fronteiras de1991, deviam explicar ao Pentágono como, ou seja, na visão agora oficialmente estabelecida por Putin, invadir a Rússia.

Quanto a população, o que resta sob controlo de Kiev deve andar pelos 30 milhões ou nem isso, contando com os que fugiram para a Rússia, os que estão sob administração russa, os que fugiram para o Ocidente e que com o agravar do inverno vão continuar a sair do país. Note-se que os que fugiram dificilmente voltam, não têm casa, nem condições de vida e as mulheres não vão encontrar os homens com quem viviam ou pensavam ir viver.

Mas enfim, é população suficiente para estabelecer um Estado desde que… Vejamos a parte económica. O clã de Kiev não tem o mínimo poder económico. Perdeu-o desde 2014 com o golpe financiado pelos EUA, que levou o país ao caos. As regiões do Leste, industrializadas e ricas em ricas em matérias-primas não aceitaram o golpe e agora fazem parte da Rússia. A Kiev resta a agricultura que necessita de fertilizantes – russos… - que a UE não tem. A energia abundante e barata foi-se na loucura russofóbica e neonazi de 2014.

Desde então, obedecendo à geoestratégia de Washington o FMI teve de ignorar as suas próprias regras para financiar a Ucrânia, um Estado totalmente falido. Centenas de milhares de milhões dólares foram já enterrados na Ucrânia em armas, para financiar o governo, manter o exército, além do que os oligarcas e os governantes roubaram, é caso para dizer, do “nosso dinheiro”. (1)

O ministro das finanças de Kiev pede ao Ocidente 38 mil milhões de dólares para 2023 – o grau de autonomia política do governo de Kiev está, pois, no zero absoluto. Só por hipocrisia em Washington diz dar a Zelenskyy, a última palavra sobre negociações. Nisto se baseia a ficção de um Estado independente, mas seria mais convincente se em Kiev se permitisse aos ucranianos um debate sobre a continuação da guerra. Porém, ignorado pelos media, o governo ucraniano fechou onze partidos políticos da oposição e introduziu legislação para dar ao Conselho Nacional de Radiodifusão um poder sem precedentes para controlar os media, suprimindo a discussão e escondendo o facto de que para milhões de ucranianos a vitória é uma completa ilusão.

Que futuro para aquela ex-República Soviética próspera, em que num referendo promovido por Gorbatchov, 70% votou a favor da manutenção da URSS? Nada brilhante. Que esperar quando se está submetido a um governo que incentiva a destruição de monumentos à derrota do nazismo e aos soldados soviéticos também da ucrânia que por isso morreram, substituindo-os por monumentos a criminosos de guerra nazis como o Bandera e outros, escandalosamente levados à condição de heróis da independência.

A independência que traidores apadrinhados pelo Ocidente lhe consignaram, é afinal uma caótica ficção e um interminável rol de tragédias humanas.

1 – Sobre a corrupção na Ucrânia: The Autumn of Oligarchs in Ukraine (consortiumnews.com) ou https://www.resistir.info/ucrania/zelensky.html

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