1 De Alfredo Barroso
Não atires pedras ao vizinho pois tens o telhado de vidro
por George Kennan - diplomata e historiador americano (1904-2005)
Aqui
fica o célebre artigo do historiador e diplomata norte-americano George
Kennan, no New York Times de 5 de fevereiro de 1997, alertando para os
perigos de expansão da NATO para leste contra as promessas feitas pelos
líderes ocidentais (Khol e Thatcher, entre outros) a Gorbachev: um erro
fatal.
============================== ============
No
final de 1996, permitiu-se, ou fez-se prevalecer, a impressão de que,
de alguma forma e em algum lugar, havia sido decidido expandir a OTAN
até as fronteiras da Rússia. Isso apesar do facto de que nenhuma decisão
formal pode ser tomada antes da próxima reunião cimeira da aliança, em
junho.
O momento dessa
revelação - coincidindo com a eleição presidencial e as consequentes
mudanças das personalidades responsáveis em Washington - não tornou
fácil para quem está de fora saber como ou onde inserir uma modesta
palavra de comentário.
Nem a garantia dada ao público de que a decisão, ainda que preliminar, era irrevogável encorajou a opinião externa.
Mas algo da maior importância está em jogo aqui.
E
talvez não seja tarde demais para apresentar uma opinião que, acredito,
não é apenas minha, mas é compartilhada por várias outras pessoas com
experiência extensa e, na maioria dos casos, mais recente em assuntos
russos. A visão, declarada sem rodeios, é que expandir a NATO seria o
erro mais fatal da política americana em toda a era pós-guerra fria.
Pode-se esperar que tal decisão
- inflame as tendências nacionalistas, anti-ocidentais e militaristas na opinião russa;
- tenha um efeito adverso no desenvolvimento da democracia russa;
-
restaure a atmosfera da Guerra Fria nas relações Leste-Oeste e
impulsionar a política externa russa em direções decididamente não do
nosso agrado.
- e, por
último, mas não menos importante, possa tornar muito mais difícil, se
não impossível, garantir a ratificação do acordo Start II pela Duma
russa e alcançar novas reduções de armamento nuclear.
É,
claro, lamentável que a Rússia seja confrontada com tal desafio em um
momento em que seu poder executivo está em um estado de grande incerteza
e quase paralisado.
E é
duplamente lamentável, considerando a total falta de necessidade dessa
mudança. Por que, com todas as possibilidades esperançosas engendradas
pelo fim da Guerra Fria, as relações Leste-Oeste deveriam se centrar na
questão de saber quem seria aliado de quem e, por implicação, contra
quem em algum futuro fantasioso, totalmente imprevisível e improvável,
entrar em conflito militar.
Estou
ciente, é claro, de que a NATO está conversando com as autoridades
russas na esperança de tornar a ideia de expansão tolerável e palatável
para a Rússia. Pode-se, nas circunstâncias existentes, apenas desejar o
sucesso desses esforços.
Mas
quem dá atenção séria à imprensa russa não pode deixar de notar que nem
o público nem o governo estão esperando que a expansão proposta ocorra
antes de a ela reagir.
Os
russos estão pouco impressionados com as garantias americanas de que ( a
expansão da NATO) não reflete intenções hostis. Eles veriam seu
prestígio (sempre em primeiro lugar na mente dos russos) e seus
interesses de segurança como prejudicados. Eles não teriam, é claro,
escolha a não ser aceitar a expansão como um facto militar consumado.
Mas eles continuariam a considerá-lo uma rejeição do Ocidente e
provavelmente procurariam em outro lugar garantias de um futuro seguro e
esperançoso para si mesmos.
Obviamente
não será fácil mudar uma decisão já tomada ou aceite tacitamente pelos
16 países membros da aliança. Mas faltam alguns meses antes que a
decisão seja finalizada; talvez esse período possa ser usado para
alterar a expansão proposta de forma a mitigar os efeitos infelizes que
ela já está tendo na opinião e na política russas.
Sem comentários:
Enviar um comentário