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31 de dezembro de 2022

Leituras

 1 De Alfredo Barroso

Não atires pedras ao vizinho pois tens o telhado de vidro



2 XPANSÃO DA NATO - UM ERRO FATAL  de C.F.
por George Kennan - diplomata e historiador americano (1904-2005)

Aqui fica o célebre artigo do historiador e diplomata norte-americano George Kennan, no New York Times de 5 de fevereiro de 1997, alertando para os perigos de expansão da NATO para leste contra as promessas feitas pelos líderes ocidentais (Khol e Thatcher, entre outros) a Gorbachev: um erro fatal.
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No final de 1996, permitiu-se, ou fez-se prevalecer, a impressão de que, de alguma forma e em algum lugar, havia sido decidido expandir a OTAN até as fronteiras da Rússia. Isso apesar do facto de que nenhuma decisão formal pode ser tomada antes da próxima reunião cimeira da aliança, em junho.

O momento dessa revelação - coincidindo com a eleição presidencial e as consequentes mudanças das personalidades responsáveis ​​em Washington - não tornou fácil para quem está de fora saber como ou onde inserir uma modesta palavra de comentário. 

Nem a garantia dada ao público de que a decisão, ainda que preliminar, era irrevogável encorajou a opinião externa.
Mas algo da maior importância está em jogo aqui. 

E talvez não seja tarde demais para apresentar uma opinião que, acredito, não é apenas minha, mas é compartilhada por várias outras pessoas com experiência extensa e, na maioria dos casos, mais recente em assuntos russos. A visão, declarada sem rodeios, é que expandir a NATO  seria o erro mais fatal da política americana em toda a era pós-guerra fria.

Pode-se esperar que tal decisão 

- inflame as tendências nacionalistas, anti-ocidentais e militaristas na opinião russa; 

- tenha um efeito adverso no desenvolvimento da democracia russa; 

- restaure a atmosfera da Guerra Fria nas relações Leste-Oeste e impulsionar a política externa russa em direções decididamente não do nosso agrado. 

- e, por último, mas não menos importante, possa tornar muito mais difícil, se não impossível, garantir a ratificação do acordo Start II pela Duma russa e alcançar novas reduções de armamento nuclear.

É, claro, lamentável que a Rússia seja confrontada com tal desafio em um momento em que seu poder executivo está em um estado de grande incerteza e quase paralisado. 

E é duplamente lamentável, considerando a total falta de necessidade dessa mudança. Por que, com todas as possibilidades esperançosas engendradas pelo fim da Guerra Fria, as relações Leste-Oeste deveriam se centrar na questão de saber quem seria aliado de quem e, por implicação, contra quem em algum futuro fantasioso, totalmente imprevisível e improvável, entrar em conflito militar.

Estou ciente, é claro, de que a NATO está conversando com as autoridades russas na esperança de tornar a ideia de expansão tolerável e palatável para a Rússia. Pode-se, nas circunstâncias existentes, apenas desejar o sucesso desses esforços. 

Mas quem dá atenção séria à imprensa russa não pode deixar de notar que nem o público nem o governo estão esperando que a expansão proposta ocorra antes de a ela reagir.

Os russos estão pouco impressionados com as garantias americanas de que ( a expansão da NATO) não reflete intenções hostis. Eles veriam seu prestígio (sempre em primeiro lugar na mente dos russos) e seus interesses de segurança como prejudicados. Eles não teriam, é claro, escolha a não ser aceitar a expansão como um facto militar consumado. Mas eles continuariam a considerá-lo uma rejeição do Ocidente e provavelmente procurariam em outro lugar garantias de um futuro seguro e esperançoso para si mesmos.

Obviamente não será fácil mudar uma decisão já tomada ou aceite tacitamente pelos 16 países membros da aliança. Mas faltam alguns meses antes que a decisão seja finalizada; talvez esse período possa ser usado para alterar a expansão proposta de forma a mitigar os efeitos infelizes que ela já está tendo na opinião e na política russas.

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