UM PAÍS SITIADO
Nicolás Maduro Moros toma posse, dentro de três dias, como presidente da República Bolivariana da Venezuela, país que, no ano findo, abriu o grande circo eleitoral das democracias ocidentais em que ou ganha quem nós queremos ou não vale. Seguiram-se-lhe, em circunstâncias diferentes mas sempre com igual receita, Moçambique, Geórgia, Moldávia, Roménia e o prenunciável etc. numa minagem do dispositivo eleitoral de futuro bastante promissor, tendencialmente capaz de suspender/acabar com eleições em lugares menos a jeito (e não me refiro necessariamente a geografias distantes).
Tendo as maiores reservas petrolíferas do mundo, para além de numerosas outras riquezas naturais, a Venezuela é hoje um país cercado pela guerra económica declarada por Obama, acentuada por Trump I e mantida por Biden. O país e o seu povo que têm conseguido, ainda assim, níveis consideráveis de crescimento económico comparado na América Latina, dadas as relações com Rússia e China, principalmente, está também rodeado de gente preocupada com a sua democracia.
Em apoio à democracia local, têm-se manifestado Elon Musk (que reparte a sua generosidade por Corina Machado e Urrutia González -os chamados “oposicionistas” venezuelanos- e a AfD neonazi alemã), o protofascista argentino Javier Millei, amigo do Vox espanhol e que alberga, por estes dias, os dois oposicionistas democráticos venezuelanos, toda a chamada extrema-direita europeia de mãos dadas com toda a chamada direita moderada europeia. E também uma parte substancial da esquerda mais liberal do nosso decrépito continente, salvando-se, dentre esta, o voto contrário ao “reconhecimento da vitória” de Corina/Urrutia, destemidamente assumido no Parlamento Europeu pela eurodeputada e ex-ministra da Saúde, Marta Temido.
Em Julho passado, aquando das eleições, os esquadrões da morte anticomunistas colombianos Autodefensas Conquistadores de la Sierra Nevada (ACSN) revelaram ter rejeitado um contacto desta democrática “oposição” venezuelana para intervirem militarmente contra Caracas ver: https://www.swissinfo.ch/spa/maduro-pide-investigar-video-de-paramilitares-acusando-a-la-oposici%C3%B3n-de-plan-de-sabotaje/82867104.
Também outro grupo de democratas manifesta a sua preocupação pelas liberdades na Venezuela. Trata-se (na imagem) de Erik Prince, o fundador da "empresa" de mercenários Blackwater que interveio em massacres de civis no Iraque e no lúgubre centro de tortura de Abu Grahib, ao serviço da tropa "ocidental". Neste caso, a campanha Ya Cási Venezuela (Está Quase, Venezuela) é abertamente apresentada na Internet, como se pode verificar pelas ligações que aqui se junta: : https://yacasivenezuela.com e https://www.youtube.com/watch?v=h1BikO2LhmM
Há mais, mas para mim bastaram estes exemplos e o que pude ver em duas anteriores viagens à Venezuela para estar novamente de partida para Caracas para participar em reuniões da estrutura internacional antifascista que aí tem vindo a ser organizada, num momento especialmente difícil da vida sitiada daquele povo. Não me pesará na consciência, independentemente do que possa pensar-se sobre os seus assuntos internos, ter faltado à revolução venezuelana, a troco de umas “democráticas” palmadinhas nas costas das direitolas europeias do momento, nas quais incluo a contragosto mas necessariamente algumas esquerdas mais fofas.
Cada um responda por si.
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