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5 de janeiro de 2025

Pepe Escobar: 2025, renascimento ou caos? -

2024 foi o Ano do BRICS – com mérito para o trabalho incansável da presidência russa. Foi o Ano do Eixo de Resistência Palestina, os golpes sofridos nos últimos meses representam um desafio que impulsionará o seu rejuvenescimento. Definiu os contornos do final da guerra na Ucrânia: o que resta saber é a profundidade à qual a “ordem internacional baseada em regras” será enterrada.

Quanto às perspetivas, 2025 será o ano da consolidação da China como principal força económica do planeta. O ano em que a batalha decisiva do século XXI – Eurásia versus NATO – será agudizada de forma imprevisível. E será o ano do avanço dos corredores de conectividade, fator da integração da Eurásia. O Irão é fundamental para essa conectividade, desde o Estreito de Ormuz (transita pelo menos 23% do petróleo mundial) até Chabahar, que liga a Ásia Ocidental ao Sul da Ásia.

Importantes corredores económicos são o oleoduto Turcomenistão-Afeganistão-Paquistão-Índia, com 1.800 km; o Corredor Norte-Sul, que liga Rússia-Irão-Índia e vários aspirantes ao BRICS; o Corredor China-Paquistão, o projeto da Iniciativa Cinturão e Rota; a Rota Marítima do Norte, alternativa mais barata e mais rápida ao canal de Suez. A Rússia e o Irão assinam o acordo de parceria estratégica abrangente em Moscovo, um acordo importante entre dois dos principais BRICS, com repercussões imensas em termos de integração da Eurásia.

A Rússia, tem o roteiro mais realista para um fim aceitável da guerra na Ucrânia. “Aceitável”, embora para as “elites” políticas do Ocidente, nada é aceitável, exceto a derrota estratégica da Rússia, que não acontecerá. Putin está contendo setores que em Moscovo favorecem não apenas o corte da cabeça da cobra, mas também do corpo. Trump, por sua vez, tem zero incentivos para ser arrastado para um novo atoleiro; deixe isso para os caniches europeus sem noção da realidade.

Os dois primeiros meses de 2025 serão decisivos para o esboço de um possível compromisso. Putin procurará não minar a atuação de durão de Trump. O problema é como fazer isso sem prejudicar o poder de pop star de Trump – e sem adicionar mais combustível à pira belicista da NATO.

A determinação das esferas de influência fará parte de um possível acordo, mas isto deve ser mantido impermeável às informações ocidentais. Trump precisa de um canal de negociação completamente selado com Putin. Uma tarefa difícil, já que no Deep State estão atordoados com as últimas vitórias psicopatológicas do Velho Testamento no Líbano e na Síria, e com a forma como enfraqueceram Teerão. Mas isso não significa que a ligação Irão-Rússia-China-BRICS esteja em perigo.

Putin e o Conselho de Segurança devem estar prontos para implementar um jogo diplomático bastante complexo. O trio, democratas dos EUA, britânicos e Kiev, derrotados e extremamente irritados aplicará pressão máxima sobre Trump e o transformará em “inimigo da América”. Mas Moscovo não aceitará tréguas nem congelamento: apenas uma solução real. Se isso não funcionar, a guerra continuará e Moscovo não terá problemas com isso. A humilhação do Império do Caos será total.

A Guerra Fria 2.0 entre a China e os EUA avançará mais na propaganda que na substância. Os chineses sabem que a verdadeira competição não é por ideologia, mas por tecnologia, desde a IA até a atualização de cadeias de fornecimentos garantidas. Trump, em princípio, não tem interesse em desencadear uma guerra por procuração – estilo Ucrânia – contra a China em Taiwan e no Mar do Sul da China. A China tem muito mais recursos geoeconómicos que a Rússia.

O Estado Profundo verá isso como a maior praga – e lutará contra até a morte. Se isso for adiante, os caniches europeus serão deixados afogando-se num pântano. As “elites” que nomeiam espécimes acéfalos como a "Medusa von der Lying" e a "estoniana maluca" como representantes máximos da UE; que iniciam uma guerra contra seu fornecedor de energia mais importante; que apoiam totalmente um genocídio transmitido 7 dias por semana, para todo o planeta; que estão obcecadas em erradicar a cultura que os definiu; e que falam apenas da boca para fora sobre democracia e liberdade de expressão, essas “elites” merecem chafurdar na imundície.

Em relação à tragédia síria, Putin sabe que o verdadeiro inimigo não é um bando de mercenários jihadistas. O sultão de Ancara também não é o inimigo; apesar de todos os seus sonhos grandiosos, é um ator geoeconómico e geopolítico de menor importância.

Parafraseando o inestimável Michael Hudson, é como se, nesta conjuntura as elites americanas dissessem: “A única solução é a guerra total com a Rússia e a China”; a Rússia: “Esperamos que haja paz na Ucrânia e na Ásia Ocidental”; a China: “Queremos paz, não guerra”.

A dinâmica está definida: a classe dominante dos EUA continuará impondo instâncias de caos, enquanto a Rússia, a China e o BRICS continuarão testando no “laboratório do BRICS” modelos de desdolarização, alternativas ao FMI e ao BM e, por fim, uma alternativa à NATO. De um lado, anarquia e Guerra do Terror; do outro, um realismo coordenado e frio. Esteja preparado – para tudo. Caminhe com cuidado num 2025 cheio de perigos.

Fonte: https://strategic-culture.su/news/2024/12/31/2025-second-renaissance-or-chaos/

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