A descarbonização permite iludir todo um conjunto de problemas ambientais como a poluição dos solos, do ar, dos rios e do mar, etc. Segundo a organização da ONU para a biodiversidade (IPBES) um milhão de espécies estão à beira de extinção, das cerca de 8 milhões estimadas. Desde 1960, 680 espécies de vertebrados, 559 raças domesticadas de mamíferos para a alimentação; mais de 40% das espécies anfíbias, um terço das mamíferos marinhos, etc.
A pegada ecológica (quantidade de solo e água necessários para produzir os recursos necessários ao que se consome e absorver os resíduos) excede em mais de 50% o que que o planeta permite. Calcula-se que após 2030 serão necessários dois planetas para satisfazer as “necessidades” existentes, isto é, os excessos.
Esqueçamos tudo isto e vamos admitir a tese da descarbonização: o CO2 é responsável pelas alterações climáticas. Ora as floresta são o grande meio de fixação de CO2, recupera-las seria a melhor forma não só de capturar CO2, mas também aumentar a biodiversidade. Não seria lógico que fosse esta a prioridade?
A agricultura industrial é a grande responsável pela desflorestação, em particular das espécies autóctones e portanto do aumento de CO2 atmosférico, cuja concentração aumentou em 80 anos 50%. Por ano são cortadas 15 mil milhões de árvores. As áreas naturais, incluindo as florestas tropicais, são metade do que eram em 1940. A Amazónia está em vias de reduzir-se em 75% da sua área de origem até 2030.
Centenas de milhões de ha de floresta tropical foram destruídas para a produção de óleo de palma, soja, pastagens, nomeadamente para as transnacionais do hambúrguer. Metade do solo fértil atualmente cultivado, é sobrecarregado com culturas intensivas e produtos químicos, como os pesticidas, perdendo húmus, fungos, microrganismos, tornando-as estéreis, ao mesmo tempo que são potenciadas as emissões de óxido nitroso e metano. (ver 1ª parte)
A agricultura industrializada destrói habitats naturais autosustentáveis, elimina as produções locais substituindo-as por monoculturas em grande escala com vistas à exportação a milhares de quilómetros, influi decisivamente na degradação da biodiversidade; água é retirada de outros locais afetando sistemas naturais.
Provoca ainda o êxodo rural, elimina a agricultura familiar sustentável e é fator de encarecimento dos bens alimentares. Devido à exaustão, 500 milhões de ha de terra foram abandonados. As culturas intensivas, os OGM e plantas híbridas requerem muito mais água e produtos químicos do que a agricultura tradicional familiar sustentável. Não há forma de acabar com isto sem parar com a agricultura industrial.
A aquacultura tornou-se também um grave problema de poluição dos oceanos, juntamente com os plásticos. Doenças das populações de peixes, obrigam a antibióticos e desinfetantes, o alimento para estas reservas é capturado às toneladas retirando alimento às espécies selvagens. Além disto são destruídos habitats costeiros (mangues, sargaços).
O comércio livre e a globalização neoliberal, permanece na prática intocável e é mesmo defendido pelos adeptos da “descarbonização”, quando dezenas de milhares de navios e milhões de camiões percorrem em cada instante mares e estradas, associados a este comércio, responsáveis pelas emissões que contestam. Transportes públicos foram privatizados, menorizados, deixados degradar para promover o transporte privado de mercadorias e o automóvel individual.
Tudo isto passa ao lado dos devotos da descarbonização. Diz David Attenborough: Caminhamos como sonâmbulos rumo à catástrofe, quando a agricultura regenerativa podia ajudar a tornarem-se de novo produtivos espaços esgotados e reter 20 mil milhões de toneladas de CO2.
Parece evidente que para serem coerentes os ambientalistas da descarbonização deveriam combater drasticamente a agricultura e pecuária industriais e a globalização neoliberal, lutando contra a “sociedade de consumo”, a sociedade do desperdício, impulsionada pela chamada “economia de mercado”. Podemos assim aferir da sinceridade ou da eficácia dos diversos movimentos ecologistas, pelo seguinte: qual a posição que concretamente tomam:
Perante a globalização neoliberal? Perante a agricultura industrializada? Perante as desigualdades no interior de cada país e entre países? Prante as guerras de agressão e ameaças de guerra imperialistas? Dir-se-à que a agricultura da pequena propriedade familiar não é viável. Mas o que significa ser viável?
A única viabilidade sustentável será a satisfação das necessidades humanas de forma sustentável para a vida na Terra, o que exige com toda a evidência outro modelo de sociedade, não baseado na maximização do lucro, mas sim na maximização dos benefícios sociais - e por consequência também ambientais. Ou seja: uma sociedade guiada pelo socialismo.
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