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19 de abril de 2021

Direita e extrema-direita – 2

 A extrema-direita é uma consequência da persistente crise capitalista e do agudizar das suas contradições. É o resultado em termos ideológicos de anos de paranoia anticomunista e de calúnias contra tudo o que mesmo com leves traços progressistas pusesse em causa privilégios do grande capital. Os que puseram em prática políticas de direita e neoliberais, contra os interesses populares e a soberania nacional, andaram chocar o “ovo da serpente” fascista.

O fascismo, os fascismos, são capitalismo. São formas de organização política e social a que o sistema capitalista recorre para garantir a sua lei económica fundamental: a maximização da taxa de lucro monopolista. Sem este sistema ser substituído, a possibilidade de retorno a formas fascistas está sempre presente.

O capitalismo tende para formas fascizantes se a isso não se opuser a luta dos trabalhadores. A social-democracia tenta convencer que outro capitalismo é possível. O facto é que não é possível a democracia manter-se sob o sistema monopolista, tal como sob o imperialismo apenas existe uma liberdade condicional.

Em nome da “economia de mercado” ou da “democracia liberal” foi dada liberdade praticamente total ao grande capital, reprimindo os trabalhadores, atacando o sindicalismo das formas mais soezes, promovendo o corporativismo da “concertação social” que se coloca acima do parlamento. Tudo isto evidencia a tendência do capitalismo se encaminhar para formas fascizantes.

Os partidos social-democratas supõem (ou fingem supor) que é possível submeter a lei fundamental do capitalismo às instituições democráticas. As políticas de direita orientadas na defesa dos interesses da oligarquia, abrem as portas à direita e extrema-direita.

As diversas formas de fascismo, os neofascismos, a extrema-direita nunca chegaria ao poder sem o apoio da direita. Estão ao serviço dos mesmos senhores, a diferença é mais na forma que no conteúdo. Assim aconteceu e acontece, na Grécia, Itália, Polónia, Hungria, etc. Recorde-se que a ascensão de Hitler a Chanceler, se dá quando estava a perder votos, a esquerda de novo a recuperar. O “centro” e a “direita”, deram-lhe então o apoio necessário. Escreveu Aquilino Ribeiro, referindo-se à Alemanha dos final dos anos 20 do século passado: “A social-democracia pôde continuar a chocar com encardido conservantismo os pintos nacionalistas”. (1)

O que a extrema-direita tem para oferecer é um mundo repressivo, de desigualdades, baseado no racismo (negros, ciganos, emigrantes), no obscurantismo, e recalcadas mentiras sobre o socialismo, ódio ao humanismo marxista, para o qual não têm limites as calúnias.

Os países onde a extrema-direita se instalou, foram cenários de crises e repressão extremas. Com as suas bandeiras anti-corrupção e eficiência económica, semeram miséria, economias destroçadas e totalmente endividadas, obscenas desigualdades baseadas na corrupção e em verdadeiros crimes contra bens públicos. Os exemplos sobram por toda a América Latina, à Indonésia de Suharto, à África de Mobuto e outros que tais.

O Brasil do Bolsonaro é mais um exemplo da extrema-direita no poder. Há alguns anos o Brasil era a sexta maior economia do mundo agora é a 12ª, controlada por uma máfia de interesses, que o ministro neoliberal e pinochetista Paulo Guedes gere. A Amazónia é destruída, exterminando a população indígena, sem falar na guerra contra os negros e pobres das favelas. É uma tragédia o que acontece no Brasil, mas é basicamente o que acontece sempre que a extrema-direita atinge o poder. (2)

Os pruridos democráticos do chamado centro caem pelo apoio ou silenciamento perante os neofascismos que se desenvolvem na UE e na Ucrânia, com glorificação de ex-nazistas e colaboracionistas. Caem com o reconhecimento de Guaidó e de outros golpistas na América Latina, caem com o alinhamento com a agenda conspirativa e belicista do imperialismo, em que a extrema-direita não passa de um peão dos seus jogos de pretensa hegemonia.

1 - A Alemanha ensanguentada, Ed. Bertrand, 2016, p. 158

2 - https://www.resistir.info/m_hudson/entrev_26mar21_2.html

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