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21 de abril de 2021

Direita e extrema-direita - 3

 A diferença entre a direita e a extrema-direita é que a direita querendo no essencial as mesmas políticas, pretende concretiza-las através das “reformas estruturais” enquanto a extrema-direita quer leva-las ao limite, de forma radical e o mais possível imediata, eliminando constrangimentos constitucionais. PSD e CDS estiveram lá muito perto, com o ir para além da troika ou com as “forças de bloqueio” democráticas do cavaquismo.

As políticas de direita mostraram a sua completa falência económica, financeira, social, ambiental e colocam a paz cada vez mais em perigo. Face a estes falhanços, poder-se-ia pensar estarem criadas as condições para a substituição do sistema capitalista. Quanto às condições objetivas, sim existem e há muito, mas não as subjetivas.

Se não fosse a audiência que lhes é concedida direta ou indiretamente pelos media, as políticas da direita e extrema-direita não passariam de mera ignorância e obscuras lucubrações. Mas os “comentadores” nunca analisam as causas, escamoteiam-nas ou deturpam-nas, servem-se dos seus efeitos para criticar tudo o que tenha um aspeto progressista. A emoção negativista, impede a análise racional, que seria a forma de se encontrarem respostas consistentes.

Agitar a indignação na superfície das coisas é a forma de esconder o poder oligárquico e seus procedimentos. O objetivo é estabelecer o descrédito das instituições democráticas, desorientar as pessoas com a ideia de um incontrolado laxismo, de modo a favorecer o aumento de poder da oligarquia.

Como é possível que proletários apoiem ou acreditem numa extrema-direita, que os despreza, reprime, liquida direitos, os atira para a pobreza? É a tragédia da alienação, transformando proletários em lumpen proletariado, capazes de se voltarem contra aqueles que com lutas e sacrifícios a seu favor permitiram os direitos democráticos e laborais que usufruem. Quando a consciência de classe não existe, camadas sujeitas à exploração, pobreza e perda de direitos, acabam votando em forças que promoveram e promovem aquelas situações. Esta uma questão central que se se coloca à esquerda.

Antes da eleição de Bolsonaro, ouvintes duma rádio manifestavam a sua opinião. Mais de 90% (para não dizer a totalidade) dos brasileiros era a favor de Bolsonaro, com a seguinte característica: eram trabalhadores que aparentemente defendiam medidas de esquerda. Porém no final, era nele que diziam ir votar. Diga-se que em Portugal, apesar do que passou na rádio, Bolsonaro teve 64%.

O vírus fascista encontra campo na frustração social que atinge muitas pessoas, revoltadas e impotentes perante as políticas de direita postas em prática. Os media promovem este estado de espírito, dado que a alternativa libertadora através de políticas de esquerda e patrióticas não é divulgada nem esclarecida, pelo contrário omitida, deturpada ou caluniada. A ignorância política, a promoção do individualismo afasta as pessoas do que socialmente lhes diz respeito, fomenta personalidades antissociais, propicia a adesão a teses da extrema-direita.

As forças alinhadas com políticas de extrema-direita ou lá próximas conseguem chegar ao poder mentindo, escondendo suas reais intenções. Foi isto que aconteceu com o governo PSD - CDS. 

O fascismo atual aparece sempre que possível, mascarado “democracia”, como eufemismo para garantir o domínio político e económico da oligarquia, recebendo assim o beneplácito da NATO e aliados, a chamada “comunidade internacional”. Para instaurar este tipo de domínio, são utilizados meios desde a chantagem financeira à agressão militar, aplicadas sanções, promovidos golpes de Estado e assassinatos políticos, etc. O Chile sob Pinochet, prefigura o terror fascista ao qual não escapou praticamente nenhum país da América Latina, a Indonésia sob Suharto prefigura os crimes cometidos na Ásia tal como Mobuto  em África.

Esta sucessão de guerras de rapina e respetivo mundo de horrores, é escamoteado pelos media, levado à conta de instaurar a “democracia”, apresentando as próprias vítimas como responsáveis pelo que lhes acontece. É o esquema usual dos agressores, tanto domésticos como imperialistas.



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