Depois de apresentarmos algumas contradições da descarbonização, vejamos como as suas soluções são meros álibis para reforço das estratégias capitalistas. É o caso dos automóveis elétricos e das energias renováveis.
Apresentados como panaceia para a descarbonização, os veículos elétricos podem provocar uma catástrofe ambiental. Não passam de uma falácia em termos ambientais com impactos ambientais, componentes altamente consumidores de recursos e intensos agentes poluidores, designadamente as baterias e sua reciclagem, além dos custos que só serão evidenciados quando o Estado retirar os subsídios.
No sector da energia, a descarbonização vem mesmo a calhar. Com o fim da vida útil das centrais térmicas, refinarias, etc., as empresas teriam de realizar elevados investimentos - antes feitos pelo Estado - para se manterem no negócio. Nada disso, vão receber subsídios para investimentos em energias alternativas. A “energia limpa”, as energias renováveis, privatizadas e subsidiadas pelo Estado, têm constituído efetivamente um rendoso negócio para os oligopólios da eletricidade.
A questão é calcular como vão ser satisfeitas as necessidades energéticas atuais e futuras e a que preço. Não há desenvolvimento económico sem energia abundante e barata. Como vão poder desenvolver-se, em particular os países ditos em vias de desenvolvimento, com as chamadas “energias limpas”? Tudo aponta que provocarão ainda maior desigualdade entre países e estagnação no subdesenvolvimento e dependência dos mais pobres.
Não está explicado nem quantificado, como as energias renováveis podem satisfazer as necessidades energéticas no mundo. A Agência Internacional de Energia divulgou no seu relatório anual em 2019 que o consumo global de energia aumentará 50% até 2050 e as energias renováveis não serão suficientes. (1) Recorde-se que segundo o Banco Mundial 11% da população mundial não tem acesso à eletricidade.
Na UE pretende-se, no âmbito de um "Acordo Verde Europeu" (previsto ser apoiado em 1 milhão de milhões euros em dez anos), alcançar a neutralidade carbónica em 2050, reduzindo a partir de 2030, 50% a 55%, as emissões. Lembremos que a UE representa apenas 9,6% das emissões mundiais.
O Atlantic Council, defendia que o capital privado deve ser mobilizado para evitar os piores impactos das mudanças climáticas. “Agora vemos oportunidades de negócios e investimentos atraentes e rentáveis em alternativas de baixo carbono. A New Climate Economy estimou que ações ousadas sobre as alterações climáticas resultariam em oportunidades económicas de 26 milhões de milhões de dólares e 65 milhões de novos empregos, até 2030. Uma análise do Banco Mundial recomendava que uma fração dos 100 milhões de milhões de dólares mantidos por fundos de pensão e outros investidores institucionais, sejam aplicados em investimentos considerados verdes, limpos ou favoráveis ao clima.
No fundo, trata-se de promover mais uma “destruição criadora” que o capitalismo necessita periodicamente para resolver as suas crises e aumentar a taxa de lucro, garantido por subsídios e apoios públicos. Com esta perspetiva o grande capital e a direita deixaram de atacar os “fundamentalistas do ambiente” e ei-los ecologistas anti CO2
Outro negócio da “oportunidade climática”, é o mercado de licenças no âmbito da descarbonização. Como sempre, a tese é que o mercado resolve tudo - a quem? - mantendo os países mais pobres no subdesenvolvimento, sem acesso a energias menos onerosas, enquanto as transnacionais vão poder continuar a desflorestar e a produzir a milhares de quilómetros dos centros de consumo, porque dá mais lucro.
Os EUA com pouco mais que 4% da população mundial consomem anualmente 25% dos recursos mundiais - e geram resíduos na mesma proporção. Seria o último modelo de sociedade que um ambientalista promoveria, mas os ecologistas do CO2 nada de concreto dizem sobre isto. Por último refira-se a cimeira da alteração climática , na qual as grandes promessas são sobretudo retóricas, visto que o Pentágono continuará a ser a maior entidade poluidora da Terra.
Quatro
condições se impõem para redução da carga ambiental:
-
Redução das desigualdades entre países e no interior de cada país,
reduzindo
o
alto consumo supérfluo e o desperdício, fomentado pela
oligarquia e pelas
transnacionais.
-
Alteração dos processos tecnológicos reduzindo os impactos
ambientais resultantes das teses neoliberais de mercado livre.
-
Retorno à agricultura familiar sustentável, reflorestação
do planeta, promoção do transporte público do Estado.
-
Limitação do crescimento demográfico, em particular nos países
pobres, pela elevação dos níveis de vida e de educação.
Como disse Hugo Chaves : “Não mudemos o clima, mudemos sistema, e é assim que podemos começar a salvar o planeta. O capitalismo, este modelo de desenvolvimento destrutivo, está acabando com a vida, ameaça destruir permanentemente a espécie humana”.
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