Das redes sociais
facebook de Jorge Bateira
Levar o país a sério
Os
maus resultados do Podemos em Espanha, e do Syriza na Grécia, mostram
que a esquerda radical (não-comunista) precisa de repensar a sua
estratégia política, o que também inclui repensar o seu discurso e
formas de comunicação com o povo. Sofrer pesadas derrotas e não mudar
nada de fundamental conduz ao definhamento político e à desilusão.
Há
quem defenda que o BE pode recuperar os votos perdidos através de uma
melhor articulação com os sindicatos e movimentos sociais, explorando o
impacto da contestação política na rua. Combinando a dimensão de
partido-movimento com a inegável competência institucional de Mariana
Mortágua na Assembleia da República, os militantes e apoiantes do BE (a
grande maioria) sentem que melhores dias virão.
Em
meu entender, não creio que isso baste. Para evitar que o cansaço do
eleitorado dê uma nova oportunidade à direita, como está a acontecer em
Espanha, é preciso formular propostas políticas fundamentadas para
robustecer o Estado social, alcançar o pleno emprego e, a partir daí,
apresentar a visão de uma sociedade solidária. O eleitorado precisa de
entender como é que essas políticas vão ser postas em prática e como vão
ser financiadas no actual quadro da UE. O povo já não suporta um
discurso feito de slogans, fórmulas simplistas e muita indignação. O
clamor da rua só será eficaz se tiver uma tradução política convincente.
Uma
"vida boa", como Mariana Mortágua defendeu, exige serviços públicos de
qualidade, para todos, e acessíveis em tempo. E exige uma economia que
respeite a sustentabilidade do planeta. Tudo isso é desejável. Porém,
sem uma palavra clara sobre a forma como o BE se propõe gerir o enorme
constrangimento ao investimento público constituído pelas exigências de
Bruxelas, no âmbito do Semestre Europeu, o discurso ficou vago, sem
espessura política. Faltou-lhe credibilidade.
Na
apresentação da nova liderança do BE, o partido varreu para debaixo do
tapete o colete de forças neoliberal imposto por Bruxelas. Como
conciliar as suas propostas para o desenvolvimento do país sem entrar em
conflito grave com o quadro institucional da UE? Algum compromisso
melhor do que a actual política do PS terá de haver (e eu entendo que
há), mas a ausência de uma alternativa orçamental ao discurso das
"contas certas" é um rombo na credibilidade da oposição do BE. E, disso
estou certo, não é por falta de competência técnica que o discurso foi
assim. Nesta apresentação da nova liderança, o BE não está a levar o
país a sério. Lamento.
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