Um dos grandes problemas com que se deparam as forças progressistas na dita “democracia liberal” é a desinformação, a descarada manipulação dos problemas. É aquilo a que Andrea Zhok se refere como “a história de uma involução: da política estrutural (em que se fundamenta a análise marxista) ao moralismo histérico. A lição marxista foi fundamental para compreender, e deixar claro, que, no mundo moderno, qualquer mudança de moral e de opinião que se torne hegemónica tem sempre uma raiz primária na "estrutura", isto é, na esfera da produção económica e na correspondente gestão do poder. É apresentada uma análise da política e da geopolítica que, esquecendo a verdadeira causalidade, se dedica a leituras moralistas do mundo, a notícias sangrentas, ao gosto do escândalo, ao politicamente correto, à fofoca política.”
Os media ocidentais promovem constantemente os adeptos do (neo)liberalismo. As teses da extrema-direita encontram eco acrítico, mas diabolizam (distorcem ou põem a ridículo) o que quer que seja progressista, quando não pode ser totalmente ignorado. Os resultados deste processo reacionário estão à vista e sentidos no quotidiano.
Quando um sistema entra na fase final da sua deterioração – quer seja um sistema institucional, um Estado, um império ou o corpo humano – todos importantes os fluxos de informação suportes de uma comunicação coerente começam a falhar. Vemos a disfunção absoluta de como a informação a nível global está a gerar apatia generalizada, desespero, insanidade em enorme escala.
Os media são incapazes de processar informações consistentes de forma a que sejam obtidos conhecimentos que possam levar as pessoas a concretizar com sucesso a transição para um sistema que resolva os seus problemas. Pelo contrário, os media globais agravam-nos. Fazem-no, com versões da realidade a que chamam informação.
Os fluxos de informação estão ligados aos processos dominantes de maximização do lucro para uma pequena minoria; tanto é assim, que a relação das pessoas com a informação é gerida como um mecanismo de controlo sobre a atenção e a persuasão ideológica.
As “notícias falsas” funcionam como uma extensão estrutural de uma forma extrema de capitalismo predador, usando informações para capturar a riqueza de poucos em detrimento de muitos, através da captura das mentes das pessoas.
Nos EUA, seis enormes conglomerados transnacionais possuem a totalidade dos meios de comunicação, incluindo jornais, revistas, editoras, redes de TV, estúdios de Hollywood, marcas de gravação e websites populares: Time Warner, Walt Disney, Viacom, News Corp., CBS Corporation e NBC Universal. No Reino Unido, 71% dos jornais nacionais são possuídos por apenas três corporações gigantes, enquanto 80% dos jornais locais são de propriedade de apenas cinco empresas.
Juntos, Google e Facebook monopolizam um quinto da receita publicitária global. E todas essas corporações controlam a maior parte do que se lê, vê e ouve, incluindo on-line. Eles definem a nossa compreensão do mundo e de nós próprios. Representam um pequeno número de pessoas que têm uma visão muito estreita do mundo. Portanto, a maioria do que se lê, vê ou ouve através dos media é estruturalmente condicionado por essa rede de interesses.
William Blum, escrevia em 2014 (http://www.informationclearinghouse.info/article37559.htm)
Existem mais de 1 400 jornais diários nos Estados Unidos. Num único ou uma única TV, se opôs inequivocamente às guerras contra a Líbia, Iraque, Afeganistão, Jugoslávia, Panamá, Granada e Vietname.
Alguma
vez foi apresentado
de uma maneira razoavelmente justa o ponto de vista de
Hugo
Chávez, Nicolás Maduro; Fidel ou Raúl Castro de Cuba; Bashar
al-Assad, da Síria; Mahmoud Ahmadinejad, do Irão;
Rafael Cornea do Equador; ou Evo
Morales da Bolívia?
Ou
qualquer do passado recente, como Slobodan Milosevic, da Sérvia,
Moammar Gaddafi da Líbia, Robert Mugabe do Zimbábue, ou
Jean-Bertrand Aristide do Haiti?
Quem nos grande media apoia o Hamas de Gaza? Ou Hezbollah do Líbano? Quem nos grandes media critica o tratamento de Israel aos palestinianos e mantém o emprego?Quem nos grande media trata Julian Assange ou Chelsea Manning como os heróis que são?”
Edward S. Herman e Noam Chomsky analisaram o modelo de propaganda dos EUA no seu livro Manufacturing Consent. A sua análise concentra-se nos efeitos decorrentes no predomínio do sistema económico nos media. Nenhum dos regimes sangrentos de Duvalier do Haiti, Los Trujillo, Somoza, Videla, Pinochet, Mobutu, Idi Amín e muitos outros, saiu do conceito de "sociedade de mercado livre".
Escrevia Paul Criag Roberts, em Silenciar os críticos: A ideia de que os EUA são uma democracia quando não têm, em absoluto, uma imprensa que funcione como um observador atento, é risível. Mentem. Tal como o Governo, cada vez que os grandes meios de comunicação abrem a boca ou escrevem uma palavra, estão a mentir. De facto, os grandes senhores corporativos pagam aos seus empregados para mentir. É esse o seu trabalho.
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