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23 de dezembro de 2023

A economia num país excecional

 Será que um “país excecional” – como os EUA se consideram – pode criar as leis económicas que lhe são aplicáveis e mesmo mudá-las conforme o que lhe convier? Eles acham que sim e os seus vassalos também parecem achar, mas estão errados. Tanto na prática como na teoria. Na prática é o que a realidade mostra. Na teoria, já o marxismo o tinha evidenciado.

Embora se trate de um autor pouco conhecido, vale a pena lembrar a perspetiva marxista sobre leis económicas: “O marxismo entende as leis da ciência – quer as das ciências naturais, quer as da economia política – como o reflexo de processos objetivos que ocorrem independentemente da vontade das pessoas. As pessoas podem descobrir, conhecer, estudar, ter em conta as leis (da ciência) nos seus atos, utilizá-las no interesse da sociedade, mas não podem modificá-las nem aboli-las. Muito menos podem formar ou criar novas leis da ciência".

A violação das leis da natureza, provoca o fracasso do procedimento. O mesmo se deve dizer a respeito das leis do desenvolvimento económico, das leis da economia política, tanto faz tratar-se do período do capitalismo ou do período do socialismo". "Pode-se limitar a esfera de ação destas ou daquelas leis económicas, pode prevenir-se a sua ação destruidora, caso exista, mas não podem ser "transformadas" ou "eliminadas". “O poder soviético não pode eliminar as leis da ciência e formar novas leis. É por isso uma tese completamente errada considerar que graças à atividade consciente dos cidadãos soviéticos ocupados na produção material se impõem as leis económicas do socialismo".

Para manter a sua “excecionalidade” os EUA impuseram o neoliberalismo e a sua globalização, mascarados de “democracia liberal”, o resultado foram sucessivas crises económicas, sociais, até militares como se sabe. Para isso, em defesa das suas falácias Marx foi declarado desatualizado e quem isto contesta corre o risco de se tornar suspeito de "estalinismo".

Marx não esteve nem está desatualizado e se numa sociedade futura algumas análises em, por exemplo, "O Capital" poderão não se aplicar, nem por isso o materialismo-dialético deixa de ser válido. O neoliberalismo, num processo para salvar o capitalismo das suas insanáveis contradições, consagrou a financeirização, deitando fora o valor trabalho, e considerando que dinheiro é riqueza. As teses de Marx sobre capital fictício, (O Capital, Livro Terceiro, Tomo VII, Ed. Avante), são uma base fundamental para a compreensão dos processos capitalistas atuais e neste particular as políticas dos EUA e do dólar.

Vejamos quanto aos EUA o resultado de “violar as leis da natureza”. Em 22/12/2023, Dívida federal – 33,9 milhões de milhões; (122,16% do PIB); Dívida dos Estados + dívidas locais – 3,68 milhões de milhões (135,4%%) Dívida total – 103,9 milhões de milhões, 457,8% PIB; Riqueza do 1% mais rico (média) – 18,2 milhões; dos 50% menos ricos – 33 mil; Dívida por cidadão – 75 mil (valores em dólares) Desemprego – 11,2 milhões; Pobres - 43,37 milhões; Mortes por droga - 120 151; Défice BC – 1,05 milhões de milhões de dólares;  (1) A população dos “sem abrigo” aumentou 12% relativamente a 2022, atingindo cerca de 653 mil, mesmo sem discutir o que neste critério se inclui.

Em 2020 (mesma data) Dívida federal – 27,35 milhões de milhões de dólares; (120,6% do PIB) PIB 22,7 milhões de milhões ; Dívida dos Estados mais dívidas locais – 3,33 milhões de milhões (135,1%%); Pobres 40,8 milhões; Desemprego 9,5 milhões.

Em 3 anos a dívida federal cresceu 2,18 MM por ano (6,4% do PIB de 2023). PIB cresceu em 3 anos média 7,4% ao ano, com inflação em média no período de cerca de 4%, fica um crescimento em termos constantes cerca de 3,4% ao ano.

Parece que o “país excecional” criou uma lei económica para si, que é criar riqueza a partir do nada que, olhando para os números da pobreza e endividamento das famílias, não serve para coisa alguma, exceto fazer armas. Despesas militares são despesas improdutivas (para 2024 mais de 880 mil milhões de dólares, além do que vai para “segurança”). Se exportadas tornam-se bens transacionáveis, mas para quem as compra são sempre despesas improdutivas – mesmo que sejam muito necessárias à soberania do Estado, porém na NATO quanto mais armas compram aos EUA menos soberania dispõem.

O PIB dos países da “democracia liberal” está profundamente inflacionado pelo capital fictício resultante da especulação financeira, desindustrialização, endividamento, etc. Os "quantitative easing" na UE e nos EUA , são capital fictício consequência dos danos das políticas neoliberais, visando reforçar a finança especuladora e a usura à custa do endividamento dos Estados.

Mas tudo isto tem um custo, as consequências da produção de capital de capital fictício, estão definidas no que o marxismo diz sobre essa questão e sobre as leis económicas. A oligarquia tem de transformar o capital fictício em valor (sem isto seria o colapso económico) o que é feito pela austeridade - a subida dos juros é um aspeto – mas também pelo domínio sobre outros povos (mesmo pela guerra) permitindo alargar o campo da exploração sobre o proletariado criador de valor.

1 – Dados sobre os EUA em usdebtclock

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