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3 de janeiro de 2024

Que futuro para Israel – 2

 O texto de Chris Hedges (1) mostra que a matança em Gaza ficará como uma indelével nódoa sobre Israel e o sionismo, tal como o nazismo não se libertou (exceto na Ucrânia e nos Bálticos...) das matanças nos campos de concentração e países ocupados. Os EUA associados a esta tragédia, também não, fazendo vir ao de cima a sua participação noutras. A atual retirada de algumas tropas israelitas de Gaza, resulta do nervosismo dos EUA e da incapacidade dos propagandistas NATO, vulgo “comentadores”, esconderem a realidade, por mais que se esforcem por baralhar factos e conceitos.

 Diz C. Hedges: Em 7 de outubro, Israel embarcou nesse caminho ao promulgar uma série de leis que discriminam os não-judeus semelhantes às racistas Leis de Nuremberg que privavam os judeus de direitos na Alemanha nazista. A Lei de Reconhecimento das Comunidades permite que as povoações exclusivamente judaicas excluam outros requerentes de residência com base na "adequação com os princípios fundamentais da comunidade".

Muitos dos jovens israelitas mais qualificados deixaram Israel para países como Canadá, Austrália e Reino Unido, cerca de um milhão partiu para os Estados Unidos, cerca de 470 mil israelitas deixaram o país desde 7 de outubro. Em Israel, defensores dos direitos humanos, intelectuais e jornalistas – tanto israelitas quanto palestinos – são taxados de traidores em campanhas de difamação patrocinadas pelo governo, colocados sob vigilância e submetidos a prisões arbitrárias. O sistema educacional de Israel é uma máquina de doutrinação para o exército.

O estudioso israelita Yeshayahu Leibowitz alertou que, se Israel não separar Igreja e Estado e acabar com a ocupação dos palestinos, dará origem a um rabinato corrupto que transformará o judaísmo num culto fascista. "Israel não merecerá mais existir e não fará sentido preservá-lo", disse.

Os Estados Unidos, após duas décadas de guerras desastrosas no Médio Oriente e a invasão do Capitólio em 6 de janeiro, estão tão contaminados quanto seu aliado Israel. O governo Biden, em seu fervor de apoiar incondicionalmente Israel e apaziguar o poderoso lobby israelita, contornou o processo de verificação do Congresso para aprovar a transferência de 14 000 tanques para Israel. O secretário de Estado, Blinken, argumentou que  "circunstâncias de emergência exigem a transferência imediata dessas munições". Ao mesmo tempo, cinicamente pediu a Israel que minimizasse as baixas civis.

Israel não tem intenção de minimizar as baixas civis. Já matou 18.800 palestinos, ou 0,82% da população de Gaza (dados anteriores a 17 de dezembro) o equivalente a cerca de 2,7 milhões de americanos. Outros 51 mil ficaram feridos. Metade da população de Gaza está passando fome, de acordo com as Nações Unidas. Todas as instituições e serviços palestinos essenciais à vida – hospitais (apenas 11 dos 36 hospitais de Gaza ainda estão "parcialmente" operacionais), estações de tratamento de esgoto, redes elétricas, sistemas de esgoto, habitação, escolas, edifícios governamentais, centros culturais, sistemas de telecomunicações, mesquitas, igrejas, pontos de distribuição de alimentos da ONU – foram destruídos. Israel assassinou pelo menos 80 jornalistas palestinos, bem como dezenas de seus familiares e mais de 130 trabalhadores humanitários da ONU com familiares. Esta não é uma guerra contra o Hamas. Esta é uma guerra contra os palestinos. O objetivo é matar ou expulsar 2,3 milhões de palestinos de Gaza.

A morte de três reféns israelitas que aparentemente escaparam de seus captores e foram mortos depois de se aproximarem das forças israelitas de peito nu, agitando uma bandeira branca e pedindo ajuda em hebraico não é apenas trágica: informa-nos sobre as regras de Israel em Gaza. As regras são: matar tudo o que se move.

Como escreveu o major-general aposentado israelita Giora Eiland, que chefiou o Conselho de Segurança Nacional de Israel, no Yedioth Ahronoth: "Israel não tem escolha a não ser transformar Gaza num território temporária ou permanentemente impróprio para viver.

A presidência Biden, que, ironicamente, pode ter assinado o seu próprio atestado de óbito político, está enraizada no genocídio israelita. Tentará distanciar-se retoricamente, mas, ao mesmo tempo, fornecerá milhares de milhões de dólares em armas a Israel – incluindo 14,3 mil milhões em ajuda militar adicional para complementar os 3,8 mil milhões de ajuda anual. Os EUA são um parceiro de pleno direito no genocídio israelita.

Israel é um Estado pária. Isso foi exibido publicamente em 12 de dezembro, quando 153 Estados-membros da Assembleia Geral da ONU votaram a favor de um cessar-fogo, com apenas 10 contra - incluindo Estados Unidos e Israel - e 23 abstendo-se. A política de "terra arrasada" de Israel em Gaza significa que a paz não será alcançada. Não haverá solução de dois Estados. O apartheid e o genocídio caracterizarão Israel. Isso prenuncia um longo conflito, que o Estado judeu não será capaz de vencer a longo prazo.

1 - La mort d’Israël | Le Saker Francophone

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