Ou seja, para onde a demagogia da extrema-direita, leva os países. Basta vê-los: a sua tática é o ataque constante, inconsequente, promovendo o irracionalismo e a incapacidade de crítica. O barulho a partir de casos que necessitam a devida investigação, sujeitos aos procedimentos legais e constitucionais, são promovidos por motivos políticos a escândalo público, encobrindo o que na realidade pretendem: mais neoliberalismo, mais NATO, mais subserviência ao imperialismo. Os media são grandes aliados neste falso sensacionalismo da direita, concedendo “tempo de antena” aos seus temas e em estilo idêntico. O outro aspeto é tornar invisível da opinião pública, a esquerda consequente que procura a reflexão.
Consequências: países no caos, desigualdades e corrupção levada a níveis estratosféricos. É o que sempre – sempre – a extrema-direita em ditadura ou mascarada de “democracia” – agora “liberal” comprovam.
O texto de Eduardo J. Vior (sociólogo, especialista em política internacional, professor de Filosofia da Universidade de Buenos Aires) fala-nos da Argentina. Para já, Milei, o presidente, decidiu que a Argentina não iria integrar os BRICS. A decisão é justificada dizendo que “não se considera adequado participar uma vez que muitos eixos da atual política externa diferem da anterior". No entanto, reafirmou "o compromisso" de intensificação os laços bilaterais em particular o aumento dos fluxos de comércio e investimento.
A impudência de Milei só agravou a relação com a China, já muito afetada pelas suas declarações contundentes durante a campanha eleitoral. Em resposta à incerteza na relação bilateral, imediatamente após a segunda volta em 19 de novembro, a China suspendeu a troca de moedas em vigor desde 2013. Como a Argentina já havia gasto todos os yuans disponíveis gratuitamente para pagar parcelas do empréstimo do FMI, o Banco Central da Argentina viu-se sem recursos e ainda está nessa situação.
Enquanto isso, o governo pediu ao Congresso Nacional que aprove um acordo com a China sobre bitributação, ou seja, que as empresas que já pagam impostos no país asiático não o façam na Argentina. Uma forma de autorizar a fuga fiscal e desfalcar o Estado.
Uma delegação do FMI vai ser recebida para renegociar o empréstimo de 2022 de 44 mil milhões de dólares destinados a pagar o crédito concedido em 2018 ao governo de Macri. Tenta-se retomar o acordo que "está praticamente colapsado". Sem yuan ou crédito privado, o governo argentino baixa a cabeça e aceita as ordens dos burocratas do FMI.
Entre os magnatas argentinos que apoiam o novo governo destaca-se Elsztain, dono de uma holding imobiliária, representante da congregação mística neocapitalista Javad Lubavich e vice-presidente do Congresso Judaico Mundial. Milei (hospedado há 45 dias num hotel de sua propriedade), nomeou um executivo do grupo de Elsztain para chefiar a Administração de Ativos do Estado.
No início de 2024, a Argentina distanciou-se do Brasil e da China, os seus dois principais parceiros comerciais, não participa no Brics e não se preocupa em acionar o Mercosul, a Unasul ou a Celac, que poderia aproveitar economicamente. Também não mantém relações harmoniosas com os Estados Unidos ou outras potências ocidentais. (1) Tornou-se dependente de alguns grupos rentistas nacionais inseridos na economia de casino. Para a gestão da dívida externa, depende completamente do FMI, facilitando a conversão da dívida interna do Banco Central em dólares e a fuga desse empréstimo adicional para paraísos fiscais.
O governo de Milei tem um projeto neocolonial de submeter o país a capital financeiro especulativo e em desarranjar de toda a estrutura política, económica, social e cultural para que fique ingovernável por décadas. A Argentina depende de injeções diárias de dólares para manter o funcionamento mínimo da administração.
Vior, fala no caos criado por diretivas anteriores, no saque ao saque do Fundo de Garantia da Sustentabilidade e do leilão projetado a preços vis de empresas públicas e companhias aéreas. Com os problemas da Black Rock na Ucrânia, provavelmente vai querer compensar isso aumentando os lucros de seus investimentos na Argentina. Grandes corporações podem também deitar as mãos em Vaca Muerta (depósitos de petróleo e gás de xisto).
A Argentina aparece isolada e à mercê dos acontecimentos. Qualquer deles irá provocar brigas entre os bandidos que tomaram o poder, para se protegerem e guardar os restos do naufrágio. Seria bom, então, que o movimento nacional e popular não apenas mantivesse a sua unidade, mas também deixasse de lado qualquer ilusão de obter vantagens por meio de negociações e fortalecesse seus laços com os movimentos populares da América Latina e do Sul Global. A geopolítica tornou-se um assunto sério demais para ser deixado apenas para os governos.
1 – Aliado ao caos criado, Milei, reclama do RU as Malvinas. Sem a mínima hipótese de sucesso, apenas procura internamente iludir os problemas com demagogia nacionalista.
Sem comentários:
Enviar um comentário