Desenvolve-se uma guerra bastante mais perigosa que a anterior "guerra fria", onde foi possível estabelecer acordos e limites relativamente respeitados. Agora estamos perante o confronto de dois blocos, ambos lutando por razões existenciais: ou o imperialismo deixa de o ser ou o bloco liderado pela Rússia e China se submete ao império.
No primeiro caso, a queda do nível de vida, já em retrocesso, seria drástica, pior para o sistema seria o facto da oligarquia das transnacionais verem o seu poder económico e político praticamente anulado tendo de competir em pé de igualdade com empresas do bloco rival, que não têm como vencer, dado apoiarem-se no poder do dólar e na capacidade de exploração dos países dominados, em ambos os casos em declínio
Quanto aos principais países do bloco da multipolaridade, as trágicas experiências vividas num passado de submissão ao imperialismo, levando-os a uma quase não existência, obriga-os a lutarem pela sua soberania até às últimas consequências. A razão intrínseca do conflito com a Rússia, foi claramente expressa por Gobbels no seu Diário em 24 de maio de 1941: “A Rússia deve ser dividida nos seus componentes. Não se pode tolerar a existência a Oriente de um Estado tão vasto”.
Quem ousa contrariar o domínio unipolar dos EUA é apontado como agressor e o mecanismo de propaganda põe-se em ação. As "regras" determinam que ninguém nem nenhum Estado tem o direito de se opor aos desígnios e estipulados interesses dos EUA.
Neste contexto, vale tudo ou quase, começando pela propaganda em que "uma mentira repetida mil vezes, passa a verdade". Os países que se opõem aos EUA são tratados como "regimes", os que se submetem são referidos como governos, democracias, mundo livre, mesmo que a sua prática seja a de Israel. Como disse Caitlin Johnstone: "Eles mentiram sobre Gaza, mentiram sobre o Iraque, mentiram sobre a Líbia, mentiram sobre a Ucrânia e estão mentindo sobre a Síria".
Declarações de líderes mostram quão longe se está de um entendimento. Kamala Harris, secundando Biden, chamou Putin, Orban, Xi Jinping e Kim Jong-un de assassinos: "ditadores e líderes autoritários que foram bem descritos como 'assassinos'". Algo nuca aplicado aos Pinochets, Mobutus, Suharto (1), Nethanyahu.
Da NATO ao Japão a corrida aos armamentos está em curso. O comissário da defesa da UE, diz ser necessário desembolsar 500 mil milhões de euros em defesa em 10 anos, contra a ameaça russa. Lavrov diz que a NATO não deve enganar-se. A Rússia responderá adequadamente à agressão da aliança e usará todos os meios para garantir sua própria segurança (Geopolítica ao vivo – Telegram 05/11)
A reunião da OCSE, em Malta, foi marcada por tensão e acusações entre a delegação russa e países ocidentais. Lavrov acusou os Estados Unidos, de “desestabilizar o continente euro-asiático” e de reencarnar a Guerra Fria, “agora com o risco muito maior da sua escalada para a fase quente”. A presidente da Assembleia Parlamentar da OSCE, Pia Kauma, declarou o "apoio inabalável" à soberania (!) e integridade da Ucrânia, invadida pela Rússia: "esta guerra só terminará quando a Rússia retirar as suas tropas da Ucrânia e respeitar os Acordos de Helsínquia. Quando Lavrov discursava, os representantes polaco e estónio abandonaram a sala. Após a sua intervenção Lavrov abandonou a reunião.
Na entrevista de Lavrov, a Tucker Carlson a posição russa ficou clara: a Rússia não aceita a entrada da Ucrânia na NATO, nenhuma base militar ocidental na Ucrânia, nenhum exercício militar em solo ucraniano com a participação de tropas estrangeiras e é necessário levar em consideração o facto de que quatro regiões juntaram-se à Federação Russa". "Kiev deve abandonar suas políticas russofóbicas. Leis que proíbem a língua russa, a cultura russa, os media russos e a Igreja Ortodoxa Ucraniana são inaceitáveis. Isso viola as obrigações da Ucrânia sob a Carta da ONU". A Rússia não quer agravar a situação, mas ao testar o Oreshnik, quer transmitir ao Ocidente que fará de tudo para proteger seus interesses. As declarações do Ocidente sobre a falta de "linhas vermelhas" da Rússia são "um erro muito sério". Moscovo usará todos os meios para impedir que o Ocidente inflija uma "derrota estratégica" à Rússia. A fórmula "sem guerra nuclear" atende aos interesses vitais da Rússia e dos EUA, nela não pode haver vencedores. (Intel Slava Z – Telegrama 06/128)
A guerra travada na Ucrânia e no Médio Oriente, ameaça tornar-se global com a tensão em torno de Taiwan. É a guerra entre duas visões de mundo, um mundo dominado pela hegemonia americana que se impõe pela força, mentiras, corrupção, chantagem, manipulação (inversão de valores, inversão acusatória) e um mundo multipolar onde países se organizam da melhor maneira possível para manter a paz, a ordem, o respeito mútuo.
Sem ter sido claramente explicitado o império consignou à UE/NATO o confronto com a Rússia, para os EUA assumirem plenamente o Médio e Extremo Oriente contra o Irão e contra a China. Na Ásia Central os esforços são repartidos conforma a implantação dos EUA ou da UE/NATO. Para a resolução destes conflitos a posição dos povos é fundamental, tal como foi no passado, para pôr fim à intervenção estrangeira na dita guerra civil contra o poder soviético.
1 - As estimativas mais divulgadas chegam a 1 milhão de pessoas mortas, atrocidades descritas como genocídio. As autoridades indonésias receberam apoio dos Estados Unidos, Reino Unido, etc.
Sem comentários:
Enviar um comentário