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13 de dezembro de 2024

Que belo negócio

 João Oliveira

O negócio da guerra a criar excêntricos todos os dias

O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, sugeriu o uso de uma fracção dos gastos na Saúde e nas Pensões para o orçamento da Defesa.

Isto não é uma gaffe. O  que foi sugerido foi mesmo o sacrifício das verbas destinadas à Saúde ou às Pensões para aumentar os montantes destinados às despesas militares. E ainda acrescentou que os governos terão de dar explicações se não fizerem tal opção.

Estas palavras somam-se a muitas outras proferidas no mesmo sentido. Somam-se, por exemplo, à Resolução do Parlamento Europeu aprovada em Setembro passado em que os Estados-membros são instados a gastar 0,25% do seu PIB no apoio militar para a continuação da guerra na Ucrânia. No caso de Portugal, estaríamos a falar de cerca de 600 milhões de euros da riqueza nacional destinados a esse destrutivo fim.

Estas palavras não são para o vento levar. Para o confirmar, repito o exemplo que já aqui deixei noutra circunstância do Orçamento da União Europeia para 2025 que destina mais de 21 mil milhões de euros (mais de 10% do Orçamento) à guerra, ao militarismo, à política de confrontação e ingerência, ao controlo de fronteiras.

A dimensão dos gastos militares que atravessam todas essas tomadas de posição são apenas uma ponta do imenso iceberg que é o negócio milionário da guerra. Ainda assim, eles chegam para nos dar uma pequena amostra das milionárias razões que estão por trás da propaganda de guerra que entremeia hoje o discurso político dominante.

Não é por acaso que ouvimos responsáveis políticos falar de guerra a propósito de todo e qualquer assunto. Só com uma propaganda de guerra feita nesses termos é possível falar da guerra como se se tratasse de uma necessidade social a que é preciso atender e para a qual é preciso desviar recursos antes destinados a outros fins considerados socialmente mais relevantes.

Também não é por acaso que nesse discurso político dominante a guerra aparece quase sempre dando-se como certa e inevitável. Só com uma propaganda de guerra feita com essa intensidade é possível criar um ambiente de aceitação geral de gastos militares de tamanha dimensão e, de uma penada, condicionar também previamente quem ouse opor-se-lhes.

É dentro desses critérios da propaganda de guerra que se vão posicionando muitos dos principais responsáveis políticos nacionais e europeus. O à-vontade com que o fazem parece revelar o sentimento que têm de que a táctica está a dar resultado. Os milhares de milhões de lucros das grandes empresas de armamento e os contratos bilionários para repor stocks  de arsenais militares parecem indiciar que o negócio está bem e recomenda-se.

É preciso é que ninguém se deixe enganar.

As palavras de Rutte procuram esconder o negócio da guerra, mas o seu tom de chantagem e ameaça não tem como destinatários os governos, nem os responsáveis políticos europeus. Os seus verdadeiros destinatários somos nós, as nossas consciências, a nossa capacidade de decisão e de acção. E o objectivo é que fiquemos mudos e quedos a assistir à excentricidade de haver quem enriqueça com a guerra. 

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