Michael Brenner (professor emérito de Assuntos Internacionais, Universidade de Pittsburgh, autor de vários livros, artigos e estudos), escreveu sobre os dilemas das várias potências em conflito: EUA, Rússia e China, UE/NATO, dito os "europeus". O texto é duplamente importante, não só pelo que diz, mas por ser um cidadão dos EUA.
Vivemos um período de transição global. Para onde o mundo vai permanece obscuro. Alguns estados resistem implacavelmente a essa transição; outros procuram promover um sistema internacional que esteja de acordo com as realidades emergentes. O problema é que as ações desses governos têm táticas incompatíveis. Este é o contexto das grandes crises na Ucrânia, Médio Oriente, Taiwan. As guerras em curso têm o potencial de escalar com consequências desastrosas e de longo alcance.
UE/NATO
As elites políticas europeias estão ainda menos conscientes da sua situação insustentável que os americanos. Têm a crença grosseira de que os Estados Unidos podem e devem continuar a desempenhar o papel dominante nos assuntos mundiais, não fazem nenhuma avaliação própria, exceto que é imperativo enquadrar seus projetos e estratégias de acordo com o que seu parceiro superior pensa e faz.
Têm vivido num estado de dependência estratégica quase total dos Estados Unidos. Mais de 30 anos depois dos líderes europeus terem sido libertados de qualquer ameaça militar significativa, permanecem política e psicologicamente incapazes de exercer as prerrogativas da sua soberania, individual ou coletivamente. Estão presos numa relação de subordinação aos EUA, tão profundamente enraizada que se tornou uma segunda natureza das elites políticas.
Nestas condições anormais, infligiram graves danos a si próprios, comprometendo o seu futuro estratégico e económico. Seguindo Washington no objetivo de neutralizar a Rússia nos assuntos internacionais, desde 2008 separaram-se do seu parceiro natural no comércio, recursos naturais, desenvolvimento tecnológico e investimento. Institucionalizaram uma relação hostil com um vizinho que é uma grande potência mundial. Tornaram-se guardiões de um Estado ucraniano falido e corrupto, que acarreta pesados custos financeiros. Ao fazê-lo, minaram a legitimidade de suas instituições democráticas de uma forma que abre as portas aos movimentos radicais de extrema direita.
Estas consequências destrutivas são reforçadas na guerra económica e política americana contra a China. Este movimento equivocado inverte uma política sensata de aprofundar os laços económicos com a superpotência mundial em ascensão.
O imprudente efeito de se tornarem vassalos americanos representa um distanciamento da comunidade internacional para além da comunidade transatlântica alienando-se da opinião mundial, enojada com o apoio entusiástico do Ocidente ao genocídio palestino. Os outrora orgulhosos líderes do globo estão agora numa postura defensiva contra forças que mal entendem e não têm planos de enfrentar.
A fraca resposta da Europa a esse desafio formidável é uma série de planos esquemáticos sem qualquer efeito real, apresentados como totalmente eficazes. A resposta da UE à sua terrível situação energética é uma estratégia vagamente delineada, cujo elemento central é a diversificação de fornecedores e projetos de energia verde. O principal substituto do gás natural russo tem sido o GNL dos EUA; as tentativas de concluir acordos preferenciais com outros fornecedores (como o Catar) falharam. O GNL dos EUA é 3 a 4 vezes mais caro que o gás russo, entregue por gasoduto. O mais revelador é o facto de países europeus comprarem clandestinamente petróleo e gás russos no mercado negro. Há dados indicando que Estados da UE, importavam mais GNL de origem russa do que GNL americano!
Fala-se muito em Bruxelas sobre a construção de um aparelho de segurança puramente europeu, vinculado à NATO, podendo agir independentemente dos Estados Unidos. É o renascimento de uma ideia dos anos 1990 que deu origem à moribunda Política Comum de Segurança e Defesa. Essa agitação pode ser vista como mero teatro, dado que não há ameaça concreta à segurança europeia além da imaginação febril de uma classe política inflamada pelos alarmes americanos de que Putin está determinado a restaurar o Império Soviético e sonha ir até ao Canal da Mancha, mencionando as ações provocadoras da Rússia, "aproximando-se das instalações militares da NATO". (!!).
O que realmente falta é uma estratégia diplomática convincente e realista que corresponda à atual configuração de forças no mundo. Em vez disso, testemunhamos uma intensificação da retórica anti Russa, promessas solenes de acompanhar a Ucrânia até à vitória final e de se juntar a Washington em medidas cada vez mais duras contra a China, apresentada como um predador económico e uma ameaça à segurança.
A probabilidade desta iniciativa produzir algo substancial é pequena. A Europa carece de dinheiro, sua situação financeira é tensa, não tem base industrial para equipar forças armadas modernas e carece certamente de vontade política. Ouvimos muita ênfase de von der Leyen, Macron, Mark Rutte e seus companheiros sonhando com uma UE federal. Isto expressa-se por um ditado do Texas: "Chapéus grandes, mas sem gado!"
Sem comentários:
Enviar um comentário