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16 de dezembro de 2024

Dezembro de 1991, fim da URSS - 1

 Formalmente a União Soviética deixou de existir em 26 de dezembro de 1991, foi o culminar de um processo longamente preparado por um punhado de traidores seduzidos pela riqueza das oligarquias imperialistas. Já em 6 de novembro Iéltsin proibira por decreto todas as atividades do PCUS na Rússia.

A direita e as social-democracias exultavam, desdobrando-se em argumentos contra o “totalitarismo comunista”, o triunfo da liberdade e da democracia. Na realidade, estendiam a passadeira ao neofascismo e às agressões imperialistas.

Com Iéltsin, o que restava da economia socialista da Rússia, depois das “reformas” de Gorbachov, foi erradicado através de privatizações e liberalização económica, a "terapia de choque". Grande parte da riqueza nacional passou para a posse de gente ligada ao ocidente, criando-se uma classe de oligarcas. As maravilhas do capitalismo fizeram-se sentir desde logo: corrupção, colapso económico, pobreza generalizada, crime organizado (violência, prostituição, inclusive infantil, toxicodependência).

As “reformas” liberais devastaram os padrões de vida da população. O PIB caiu 50%, a desigualdade social e o desemprego cresceram dramaticamente, empresas produtivas foram destruídas. A inflação descontrolada anulou as poupanças dos trabalhadores obtidas nos “horrores” da “era soviética”. Com o colapso dos serviços médicos, antes considerados os melhores do mundo, a esperança de vida regrediu ao nível dos países pobres.

Alexander Rutskoi, comunista, líder na Duma - o PCFR era maioritário - denunciou as reformas como "genocídio económico". Em 1993 a Duma opõe-se ao prosseguimento das reformas liberais conduzidas por “especialistas” dos EUA. Iéltsin decreta a dissolução do parlamento. Em resposta a Duma anuncia o processo de destituição de Iéltsin, proclamando Rutskoi, novo presidente.

Dezenas de milhares de cidadãos marcharam para o parlamento protestando contra as terríveis condições de vida e o autoritarismo de Iéltsin, que se afirmara criticando o “autoritarismo soviético”. Face à resistência popular e da Duma às políticas pró-capitalistas, Iéltsin ordenou o seu bombardeamento. Provocadores com interferência dos EUA, dispararam sobre a população que se juntara em apoio dos deputados, resultando na morte de 187 pessoas. Deputados que se opunham a Iéltsin foram presos, a Constituição foi anulada, estabelecendo outra que consagrava as “reformas” odiadas pelo povo.

Nos países capitalistas esta tragédia foi apresentada como o triunfo da democracia e Iéltsin herói democrático. As mortes foram ignoradas, os correspondentes ocidentais cortavam a palavra a quem criticasse o que acontecia. A imagem de Iéltsin num tanque fazendo declarações sobre o triunfo da democracia, foi repetidamente passada nas TV. Era o neoliberalismo a nu, na imagem de um corrupto e alcoólico, totalmente manipulado do exterior.

A democracia festejada pelos media era a gestão do FMI e dos EUA. Quando não foi mais possível esconder o que os povos ex-soviéticos sofriam, os propagandistas trataram a questão com sobranceria, como sendo o resultado dos problemas herdados da “era soviética”.

As maravilhas do neoliberalismo traduziram-se em austeridade, desemprego, cortes na segurança social. No final dos anos 1990 largas dezenas de milhões de pessoas estavam a viver na pobreza extrema, milhões de crianças sofriam de desnutrição. A economia estava dominada por grupos do crime organizado e estrangeiros. Parte do dinheiro dos empréstimos ao Estado, era roubado pelos oligarcas e guardado em bancos estrangeiros, levando o país ao descalabro financeiro.

Em 1998, o governo não pagou o serviço de dívida, levando a Rússia à beira da bancarrota. Em maio de 1999, Iéltsin foi acusado na Duma de atividades inconstitucionais, incluindo o fim da União Soviética, apesar da escolha do povo ter sido à favor da existência do país; do golpe de Estado de 1993; da guerra da Chechénia. As acusações não receberam 2/3 dos votos necessários para a destituição, porém em agosto, Iéltsin demitiu o governo e indicou Vladimir Putin, ex-tenente-coronel do KGB, vice-prefeito de S. Petersburgo, como primeiro-ministro.

O fim da União Soviética demonstrou que: se de acordo com o marxismo a passagem do capitalismo para o socialismo representa uma fase mais avançada do progresso da humanidade, então a passagem de experiências socialistas para o capitalismo representa uma regressão civilizacional. Foi isso que aconteceu.

Uma regressão civilizacional evidente nos países ex-socialistas, traduzindo-se em pobreza e obscenas desigualdades, dependência económica, instabilidade social, crime organizado, com todos os seus dramas, tornando-se peões das estratégias de guerra do imperialismo e avanço da extrema-direita.

Apesar da intensa propaganda durante a “perestroika” para denegrir o socialismo e o passado soviético e elogiar os países capitalistas, apenas 18% dos cidadãos era favorável a que se fomentasse a propriedade privada. No referendo realizado em março de 1991, a esmagadora maioria da população soviética votou a favor da manutenção da URSS. Em 1989, já com as reformas de Gorbatchov, havia segundo a ONU 14 milhões de pobres na URSS parte europeia e países socialistas europeus, em 1996, 168millhões.

O Economist de 21/09/1996 titulava: “Finalmente livres, para morrer”, a esperança de vida masculina tinha descido para 58 anos. “Cada mês mais de 20 000 russos morrem, os quais sob o comunismo podiam esperar viver muito mais tempo.”

Em 1953 havia 114 mil cooperativas no sector industrial e serviços, com cerca de dois milhões de trabalhadores, que produziam 6% da produção industrial. As cooperativas eram incentivadas e apoiadas. Esta situação foi revertida com Kruschov, com consequências negativas. Na fase final de Brejnev o oportunismo fez carreira dentro do Partido, culminando nas opções de Gorbachov e Iéltsin.

Fontes - Do fim da URSS à atual Russofobia, 1ª e 2ª partes - notas de Dimitri Rogozin,
- Dezembro de 1991, fim da União Soviética – início do século XXI



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