Linha de separação


9 de dezembro de 2024

Acerca do episódio Sírio

O episódio Sírio mostra as limitações da Rússia, mas não constitui uma derrota como a dos EUA no Afeganistão, que contudo não diminuiu, pelo contrário, a sua agressividade. Só será uma derrota para a Rússia se forem expulsos das bases militares que têm atualmente na Síria.

A Rússia não caiu na armadilha de apoiar Assad até ao fim. A situação económica da Síria estava muito degradada devido às sanções que bloquearam importações de bens essenciais como alimentos, energia e medicamentos básicos além dos EUA ocuparem os campos de petróleo contrabandearam cereais de regiões sírias ocupadas. O recuo russo evitou que caísse na situação de crise económica do bloco dos EUA tendo de sustentar militar e economicamente o regime de Kiev, falido e derrotado. O governo sírio não tinha dinheiro para manter as forças armadas, o que pode explicar a ausência de resistência e entendimentos prévios com os grupos islâmicos.

Isto também explica que a embaixada russa em Damasco tenha sido respeitada e a embaixada síria na Rússia tenha hasteado a bandeira da revolta. O chefe da delegação da oposição armada síria disse procurar relações normais com a Rússia e a comunidade internacionalAs bases militares russas na Síria estão em alerta máximo, mas não houve ameaças à sua segurança

Israel e Turquia são para já os vencedores, pois estabeleceram vínculos com os grupos da ex al-Qaeda, preparando-se para criar suas esferas de influência no território sírio. Grupos apoiados pela Turquia assumiram o controle de Aleppo e Idlib, porém subsiste o problema curdo, que Israel e os EUA apoiam, situação inaceitável para a Turquia no sentido em que aproveitando as divisões na Síria e com esses apoios tentarão estabelecer um Estado.

Quanto a Israel há muito que tem contatos diretos com os grupos islâmicos que operam no sul da Síria. Não é segredo que esses grupos foram orientados pelo exército israelita durante mais de uma década. Entretanto Israel avançou nos Montes Golã e cruzou a fronteira sul. A situação atual, permite a Israel anexar Gaza e a Cisjordânia e fragmentao Líbano enfraquecendo o Hezbollah. Netanyahu exulta com a queda do "regime de Assad, um elo central no eixo do mal do Irão", isto enquanto sua guerra brutal contra os habitantes de Gaza prossegue.

Quem definitivamente parece perder são os palestinos, ignorados neste vespeiro em que o Irão sofre um sério revés e por consequência os grupos de resistência pró palestina, em grande parte xiitas. É vantajoso para Israel, mas provoca uma mudança no equilíbrio de forças na região.

Os países árabes estão preocupadas com o êxito dos grupos islamistas que pode representar um desafio para os seus sistemas. Não é de surpreender que se aproximem do Irão, que veem como um fator de estabilidade regional, unindo-se para evitar o desafio desses grupos. É claro, os EUA combaterão essa tendência regional que levantaria problemas a Israel.

Saliente-se que a Arábia Saudita reiterou o apoio ao povo sírio e à sua soberania, instando a comunidade internacional a evitar interferir nos assuntos internos da Síria, defende a cooperação para ajudar a resolver a crise e preservar a integridade territorial da Síria. Também o Catar diz ser necessário preservar as instituições nacionais e a unidade do Estado para evitar cair no caos.

O que está agora em causa é a soberania e a integridade territorial do país ou a desintegração da Síria. Conquistado Damasco, as contradições vão acentuar-se. Nenhum dos protagonistas vai recuar ou sair do país. O que resta para Damasco governar? Quais os recursos? Que conciliação vai existir entre os diversos grupos e seus diferentes apoios?

Os idiotas do costume, aplaudem o reino do caos, ignorando o destino dos palestinos. Scholz diz que o fim do governo de Assad é uma boa notícia", António Costa diz que é uma oportunidade para a democracia. Isto quando Damasco foi ocupada por grupos considerados pela ONU e mesmo os EUA "terroristas"! Claro que repetem Biden: "A situação na Síria é incerta, mas pode ser usada para construir um futuro melhor.". É caso para perguntar que futuro melhor construíram na Líbia, no Iraque, no Afeganistão em que as pessoas acabaram por preferir os talibãs!

Fontes - Vencedores e perdedores na Síria - M. K. Bhadrakumar;

Geopolítica ao vivo – Telegram

Sem comentários: