Algumas notas em torno do crescimento do PIB em 2022
O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou há alguns dias as suas primeiras estimativas de crescimento do PIB em 2022.
No conjunto do ano de 2022 o PIB cresceu em termos reais 6,7%, depois de ter crescido em 2021 5,5% e de ter registado uma queda histórica de 8,3% em 2020, na sequência dos impactos da pandemia sobre a actividade económica no nosso país.
É de tal forma assim que se a nossa economia mantiver em 2023 o ritmo de crescimento verificado nos três últimos trimestres, o PIB em termos reais não crescerá sequer 1% no corrente ano, ritmo de crescimento que exceptuando o ano da pandemia é o mais baixo desde 2014, quando PSD e CDS mais a troika governavam o nosso país.
A evolução da inflação em 2022, com um crescimento do IPC sem habitação de 8,1%, depois de em 2021 esse crescimento ter sido de 1,2%, acompanhada por uma queda em termos reais das remunerações brutas mensais médias por trabalhador de 4,7% até Setembro de 2022 e por uma actualização das pensões que ficou muito aquém dos níveis atingidos pela inflação, levou a um abrandamento considerável das despesas de consumo das famílias.
A forte subida nas taxas Euribor, fez disparar o valor das prestações mensais com a habitação e agravou ainda mais as condições de financiamento não apenas das famílias mas também das empresas.
Com tudo isto, apesar do crescimento do PIB de 6,7%, não me parece que o governo PS tenha motivos para se vangloriar com a evolução registada na nossa economia em 2022.
A economia cresceu mas os níveis elevados atingidos pela inflação e a falta de vontade do governo em combater as subidas de preços, em especial dos bens e serviços essenciais e em repor o poder de compra das famílias portuguesas, faz com que milhões de portugueses passem por cada vez mais dificuldades.
A economia cresceu mas o défice externo é cada vez mais preocupante. Em 2022 a Balança Corrente e de Capital, pela 1ª vez desde 2011, apresenta um défice que atinge já os 1,7 mil milhões de euros (cerca de 0,7% do PIB), devido fundamentalmente ao agravamento da Balança de Bens (Mercadorias) que até Novembro atingiu, em termos anualizados, um défice de 26 mil milhões de euros (10,2% do PIB) e ao agravamento da Balança de Rendimentos Primários (-4,3 mil milhões de euros).
A economia cresceu mas o investimento total pesa cada vez menos na nossa economia, representando hoje apenas cerca de 20% do PIB, quando no início do século estava próximo dos 30%. E, com o investimento público a situação é ainda mais preocupante: pesa hoje cerca de 2,5% do PIB quando no início do século atingia os 5%.
A economia cresceu mas temos no final de 2022 mais cerca de 40 mil desempregados do que em igual período de 2021.
Por fim, a economia cresceu mas é cada vez maior o desequilíbrio na distribuição do rendimento, com os salários e as pensões a perderem poder de compra todos os dias e os lucros dos grandes grupos económicos a crescerem de forma exponencial. Os resultados apresentados até ao 3º trimestre de 2022 por estes grandes grupos económicos aí estão para o demonstrar. Faltando conhecer os resultados do 4º trimestre do ano, os resultados já conhecidos até ao final do 3º trimestre superam os lucros obtidos na totalidade do ano de 2021.
02 de Fevereiro de 2023
José Alberto Lourenço
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