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4 de fevereiro de 2023

"Land Lease" e outros mitos

 Das redes sociais

Do facebook do Maj general Raul Cunha   . Dois textos.      

Nota : A ajuda americana e europeia à Ucrânia é também em regime de  " Land Lease"

!º texto -Em resposta a um escrito foleiro da comentadeira HFG em que, entre outros disparates, referia que a URSS só tinha vencido os nazis graças à ajuda americana, anexo um esclarecimento histórico, que espero bem que alguém faça chegar à fulana, embora não acredite que o seu neurónio consiga absorver tanta informação:

"Um mito comum, de proveniência revisionista, é o da preponderância do famoso programa “Lend-Lease”, a dita “altruísta” ajuda americana sem a qual, supostamente, a URSS nunca teria vencido. Pois bem, desmistifiquemos esse mito com recurso a simples factos: 
1 - O Lend Lease foi um projeto de lei com vista a fortalecer os interesses de segurança americanos fora das suas fronteiras. O programa decretado consistia em apoio material, sobretudo militar, mas também financeiro e alimentar a países que “apresentassem interesse” aos EUA na esfera da segurança nacional, pelo que os beneficiários teriam de devolver a soma dos valores da ajuda material em dinheiro. Por outras palavras: de altruísmo, não existia absolutamente nenhum no Lend-Lease; 
2 - A ajuda militar americana não pode deixar de ser acompanhada por uma “pequenina” grande nuance: os EUA, durante anos, apoiaram e financiaram a Alemanha nazi. E mesmo durante o período do Lend-Lease e depois do início da guerra, em 1 de setembro de 1939, continuaram a financiar Hitler e os aliados do Eixo. O próprio futuro presidente dos EUA, Truman, afirmou, no verão de 1941: “se virmos que os russos estão a ganhar, devemos ajudar mais os alemães, e se virmos o contrário, devemos ajudar os russos. É conveniente para nós que se matem uns aos outros o mais possível.” 
3 - O Lend-Lease representava, a nível de produção material, de apoio financeiro, de fornecimento alimentar e de apoio militar, 94% do exército da “Résistance”, 56% do Exército Britânico e 28% do Exército Vermelho. Significativo? Sem dúvida. O principal factor decisivo? Nem por isso. Afinal de contas, os números não mentem: tanto no caso francês como no britânico, a percentagem total proveniente do apoio americano era avassaladora, principalmente no caso francês. Contudo, não é menos verdade que ambos os exércitos, juntamente com o americano, eliminaram um total de 176 divisões do exército alemão em toda a guerra. A URSS, por sua vez, com um apoio a representar 28% de exatamente os mesmos indicadores, eliminou 607 divisões do Exército Alemão em toda a guerra, mais do que o triplo dos restantes; 
4 - Por fim, quiçá o factor mais importante e acerca do qual mais valerá a pena refletir: os EUA apenas começaram a reduzir, progressivamente, o fornecimento da Alemanha e das restantes forças do Eixo após, precisamente, a Batalha de Estalinegrado. Foi também a partir desse período que a URSS começou a receber cada vez mais apoio, fosse ele militar, financeiro, industrial ou alimentar, perfazendo os ditos 28% anteriormente mencionados. Até lá, nos dois anos mais sangrentos e decisivos da guerra – 1941 (quando os alemães estiveram às portas de Moscovo) e 1942 (onde, em Novembro, começou a contraofensiva em Estalinegrado) – o apoio americano à URSS nunca representou mais do que 0,7% e 12%, respectivamente. Por outras palavras: lucrando com os dois lados e percebendo que um deles não venceria, os americanos alteraram o rumo dos seus financiamentos. Se a Alemanha tivesse vencido em Estalinegrado, os EUA, do lado de lá do oceano, teriam tido todo o gosto em continuar a lucrar com o apoio à Wehrmacht. No entanto, graças ao heroico Exército Vermelho, tal não aconteceu."

2º Texto.  Um artigo interessante do Sr. Coronel (ret) do US Army - Douglas Macgregor

"Desta vez é diferente
Até decidir confrontar Moscovo com uma ameaça militar existencial na Ucrânia, Washington limitou o uso do poder militar norte-americano a conflitos que os norte-americanos podiam dar-se ao luxo de perder, guerras com oponentes fracos no mundo em desenvolvimento, desde Saigão a Bagdade e que não representavam uma ameaça existencial às forças dos EUA ou ao território norte-americano. Desta vez – uma guerra por procuração com a Rússia – é diferente. 
Ao contrário das esperanças e expectativas iniciais[...], a Rússia não se desmoronou internamente nem capitulou perante as exigências colectivas do Ocidente no sentido de uma mudança de regime em Moscovo. Washington subestimou a coesão social da Rússia, o seu potencial militar latente, e a sua relativa imunidade às sanções económicas ocidentais. 
Como resultado, a guerra por procuração de Washington contra a Rússia está a falhar. O Secretário da Defesa dos EUA Lloyd Austin foi invulgarmente franco sobre a situação na Ucrânia quando disse aos aliados na base aérea de Ramstein, na Alemanha, a 20 de Janeiro: "Temos aqui uma janela de oportunidade, entre agora e a Primavera", admitindo, "Isso não é muito tempo".
Alexei Arestovich, conselheiro recentemente despedido do Presidente Zelensky e "Spinmeister," não oficial, foi mais directo. Ele expressou as suas próprias dúvidas de que a Ucrânia possa ganhar a sua guerra com a Rússia e agora questiona se a Ucrânia irá mesmo sobreviver à guerra. As perdas ucranianas – pelo menos 150.000 mortos, incluindo 35.000 desaparecidos em acção e presumivelmente mortos – enfraqueceram fatalmente as forças ucranianas, resultando numa frágil postura defensiva ucraniana que provavelmente se estilhaçará sob o peso esmagador do ataque das forças russas nas próximas semanas. 
As perdas materiais da Ucrânia são igualmente graves. Estas incluem milhares de tanques e veículos blindados de combate de infantaria, sistemas de artilharia, plataformas de defesa aérea, e armas de todos os calibres. Estes totais incluem o equivalente a sete anos de produção de mísseis Javelin. Num cenário onde os sistemas de artilharia russos podem disparar quase 60.000 munições de todos os tipos – foguetes, mísseis, drones e munições de 'cápsula dura' – por dia, as forças ucranianas são duramente pressionadas para responder a estas salvas russas com 6.000 munições por dia. Novas plataformas e pacotes de munições para a Ucrânia podem enriquecer a comunidade de Washington, mas não podem alterar estas condições.
Previsivelmente, a frustração de Washington com o fracasso do Ocidente colectivo em travar a maré da derrota ucraniana está a crescer. De facto, a frustração está rapidamente a dar lugar ao desespero.
[…]
Na II Guerra Mundial, Washington teve sorte com o timing e os aliados. Desta vez é diferente. Washington e os seus aliados da OTAN defendem uma guerra total contra a Rússia, a devastação e a desagregação da Federação Russa, bem como a destruição de milhões de vidas na Rússia e na Ucrânia. 
Washington segue o seu exemplo. Washington não pensa, e é também abertamente hostil ao empirismo e à verdade. Nem nós nem os nossos aliados estamos preparados para travar uma guerra total com a Rússia, a nível regional ou global. A questão é que, se a guerra rebentar entre a Rússia e os Estados Unidos, os norte-americanos não devem ficar surpreendidos. A administração Biden e os seus apoiantes bipartidários em Washington estão a fazer tudo o que está ao seu alcance para que isso aconteça."


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