Dois textos das redes sociais
1 Maj. General Raul Cunha
Vi
este texto no Telegram, traduzi-o e adaptei-o e depois hesitei bastante
se valeria a pena publicá-lo, e, finalmente, decidi que não só valia a
pena, como também era necessário...
Assisti ontem
no Telegram a vários vídeos sobre o rescaldo da tomada de Soledar. Não
apenas foram emocionalmente difíceis de assistir, foram sobretudo
impressionantes de ver (e posso garantir já ter observado muita coisa do
mesmo teor) – corpos mutilados deitados lado a lado, cabeças e rostos
ensanguentados, braços e pernas rasgados, caoticamente, nada tão estéril
e organizado como em Bucha, onde os cadáveres trazidos com antecedência
foram dispostos em posições estratégicas ao longo das ruas para obter o
efeito desejado. Nestes vídeos de Soledar, pode-se ver que os corpos,
deitados lado a lado, são de combatentes que foram mortos naquele local e
quase simultaneamente...
Nunca fui adepto da
chamada “pornografia” militar, nem mesmo nadinha, não gosto de assistir a
filmes com enorme violência, intensos tiroteios, torturas,
desmembramentos, as entranhas de fora, e outros “encantos” da interação
de uma pessoa com outra, com a ajuda de uma variedade de armas. Mas
ontem assisti a esses vídeos até ao fim, superando em mim vários
sentimentos – desgosto, nojo, horror e, imagine-se, pena. Não importa o
que tem vindo a acontecer, não importam os crimes que foram cometidos
por alguns elementos das Forças Armadas da Ucrânia e pelas suas Forças
de Segurança Interna, entre aqueles mortos estavam provavelmente os
desgraçados que chegaram a essa frente por “mobilização” forçada, e não
por motivos ideológicos. E esses também foram destroçados. Não me
interpretem mal, como dizem os franceses “à la guerre, comme à la
guerre” (na guerra, como na guerra) e a morte é espectável e inevitável.
Mas é realmente muito difícil olhar para esta matança sem sentido, na
qual o registo genético do povo eslavo, que já foi um povo fraterno,
está a ser destruído...
E não, não culpo a política
da Rússia, não culpo as Forças Armadas Russas e os “músicos” da Wagner –
eles fizeram tudo certo, foram a isso forçados, mas isso foi o certo.
Eu culpo, sim, esse canalha do Zelensky, a quem foi oferecida uma saída
da situação antes da guerra começar e, depois, em março, com a
consequente preservação da vida de muitos milhares de pessoas, e esse
criminoso preferiu obedecer aos seus patrões do MI6 e da CIA e
sacrificar o povo eslavo ortodoxo, ele, que não é nem eslavo, nem
ortodoxo, nem sequer uma pessoa decente. Todos esses cadáveres poderiam
ter sido evitados. Mesmo os de ontem, se lhes tivesse sido dada a ordem
de se retirarem ou de se renderem. Mas não – o registo genético do povo
eslavo tinha de ser destruído. Vi também, em algum lugar, que os
militares ucranianos resistiram até ao fim, não queriam desistir, vários
combatentes das FAU foram dados como exemplo, a quem os ‘Wagner’ deram a
possibilidade de se renderem, e eles recusaram, preferindo em vez disso
saltar de um quinto andar com as inevitáveis consequências. Veja-se até
que ponto as suas mentes foram condicionadas com propaganda e mentiras
para que preferissem a morte ao cativeiro...
Todas
estas mortes sem sentido, cada uma delas – ficarão todas na consciência
desse miserável, de quem se diz que irá ter um busto no Capitólio...
pela bem-sucedida destruição dos eslavos. Sou cristão e sei que ninguém
deve ser amaldiçoado, porque a maldição pode-se voltar contra o
amaldiçoador, mas vou correr esse risco – espero que o Zelensky e todos
os seus apaniguados nazis sejam amaldiçoados pelo que fizeram ao seu
país, ao seu povo e a todos nós, acabando mesmo por nos despertar
sentimentos terríveis, nomeadamente muita raiva e rancor...
Maldito seja para sempre...!
2 L. Fino HÁ 60 ANOS
COMO A CIA DERRUBOU E ASSASSINOU LUMUMBA
Em
17 de janeiro de 1961, cumprem-se agora sessenta anos, o primeiro
primeiro-ministro legalmente eleito da República Democrática do Congo -
RDC foi assassinado após ser deposto com a ajuda de Washington. Um
episódio sinistro que Larry Devlin, o 'Sr. Congo' da CIA de 1960 a 1967,
revelaria meio século depois em seu fascinante livro, 'Chief of
Station, Congo: Fighting the Cold War in a Hot Zone'.
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Em
11 de julho, a rica província de Katanga, onde reina a “União Mineira”
belga, se separa sob a liderança de Moïse Tshombe. South Kasai ameaça
fazer o mesmo. Este novo estado-continente está prestes a implodir.
UM TIPO DURO
É
nesse contexto que o novo chefe da estação da CIA desembarcou em
Leopoldville Beach em 10 de julho de 1960. Agente da CIA desde 1949,
Lawrence (Larry) Devlin é um homem experiente e durão. Seu “disfarce” é o
de um cônsul comum, e seu chefe local é a embaixadora americana Clare
Timberlake.
Muito
rapidamente, os dois homens acreditaram na mesma coisa, compartilhada em
Washington por seus superiores: o primeiro-ministro Lumumba, o
nacionalista Kasai e co-fundador do poderoso Movimento Nacional
Congolês, é um homem perigoso. Um comunista? Não. Um agente da URSS?
Provavelmente não. Um homem que poderia ser facilmente manipulado pelos
soviéticos e pela KGB? Certamente. Portanto, é necessário fazer todo o
possível para isolá-lo.
Com
a máxima discrição, Devlin começa então a sondar, com vista a um
possível recrutamento, alguns dos mais proeminentes líderes políticos
congoleses, reputados pela sua animosidade em relação a Lumumba. Entre
eles estão Albert Kalonji, líder dos Balubas de South Kasai; Paul Bolya,
um líder mongo do Equador, Pierre Soumialot, secretário particular do
próprio Lumumba, o sindicalista Cyrille Adoula e, acima de tudo, o homem
que se tornaria um de seus mais leais contactos, o Ministro dos
Negócios Estrangeiros, Justin Bomboko.
Durante
o mês de julho de 1960, a situação piorava um pouco mais a cada dia. Em
Matadi, na costa atlântica, paraquedistas belgas foram mobilizados para
proteger seus compatriotas do exército congolês que lutava com armas
pesadas.
No dia 13,
Lumumba anuncia o rompimento das relações diplomáticas com a Bélgica e
ameaça pedir a intervenção soviética caso os ocidentais não se mexam. No
dia 17, um primeiro contingente de soldados da paz da ONU pousou no
aeroporto de N’Djili, liderado pelo general britânico Alexander, que
disse: “Os políticos congoleses ainda não desceram de suas árvores”.
Um turbilhão de violência e saques
No
centro desse turbilhão de violência e saques, os americanos estão mais
obcecados do que nunca pelo primeiro-ministro. Não apenas as
chancelarias socialistas – URSS, Tchecoslováquia, China, Alemanha
Oriental, Gana, Guiné – apoiam Lumumba, mas sua própria comitiva está,
de acordo com a CIA, cheia de “agentes da KGB”.
Estamos
no meio da Guerra Fria e os americanos não vão parar por nada para
combater seu alvo. Ao saber que a prestigiosa revista Time está
planeando publicar uma reportagem de capa sobre Lumumba, o embaixador
Timberlake avisa seu colega na Bélgica, que liga para seu amigo Henry
Luce, o dono da revista. Resultado: Lumumba desaparece da capa em nome
dos interesses supremos da América.
Em
mensagem telegrafada para a sede da CIA, Devlin escreveu: “Patrice
Lumumba nasceu para ser um revolucionário, mas ele não tem as qualidades
para exercer o poder depois de tomá-lo. Mais cedo ou mais tarde,
Moscovo tomará as rédeas. Ele acredita que pode manipular os soviéticos,
mas são eles que puxam os cordões.”
Em
26 de agosto de 1960, Allen Dulles, o diretor da CIA, respondeu: “Se
Lumumba continuar no poder, o resultado será, na melhor das hipóteses, o
caos e, na pior, uma eventual tomada do poder pelos comunistas, com
consequências desastrosas para o prestígio da ONU e os interesses do
mundo livre. Sua demissão deve, portanto, ser um objetivo urgente e
prioritário.”
Enquanto o
embaixador Timberlake está trabalhando para convencer o presidente
Kasavubu a demitir Lumumba (isso requer uma votação parlamentar), Devlin
está trabalhando para minar a autoridade do primeiro-ministro. Com a
ajuda de agitadores contratados para a ocasião – ele tinha um orçamento
de US$ 100 mil, uma quantia considerável na época – o chefe da estação
da CIA organizou manifestações anti-Lumumba que muitas vezes degeneravam
em violência.
Em 5 de
setembro, Kasavubu demitiu Lumumba e o substituiu por Joseph Ileo. No
entanto, o líder nacionalista revida, recusa-se a deixar o cargo e ganha
apoio parlamentar. O caminho constitucional parece bloqueado. A CIA
acredita que chegou a hora de começar a trabalhar: o golpe de estado.
O ENIGMÁTICO MOBUTU
Foi
então que um certo Joseph-Désiré Mobutu apareceu. É certo que o homem
não é um estranho para os americanos, mas eles não entendem sua
motivação. Por um lado, consideram-no moderado, competente e
pró-Ocidente; por outro, desconhecem que foi um dos mais próximos
colaboradores de Lumumba, que o fez Secretário de Estado e depois Chefe
do Estado-Maior do Exército. Em suma, esse coronel de apenas 30 anos
ainda é um enigma – que logo ficará mais claro.
Certa
noite, no início de setembro de 1960, Devlin teve uma reunião com
Kasavubu na casa do presidente. Enquanto ele espera na sala, Mobutu
aparece. “Eu queria muito falar consigo”, disse ele. “Estou cansado
desses jogos políticos, não é assim que vamos construir um Congo forte,
independente e democrático. Os soviéticos invadiram o país. Você sabia
que eles enviaram uma delegação a Camp Kokolo para ensinar o marxismo
aos soldados e distribuir sua propaganda? Eles afirmam que vocês,
ocidentais, estão saqueando o Congo, enquanto eles são nossos
verdadeiros amigos. Falei com Lumumba sobre isso. Ele me disse para
cuidar da minha vida. Reuni meus comandantes de zona: todos concordaram
comigo. Então deixe me ser claro. O exército está pronto para derrubar
Lumumba e estabelecer um governo de transição composto por meus
partidários. Os EUA vão nos ajudar?”
Nesse
ponto da conversa, o chanceler Bomboko, que Devlin considera
praticamente um de seus agentes, entra pela porta dos fundos. Antes de
se sentar ao lado do Coronel Mobutu, ele entrega a Devlin um pequeno
bilhete dobrado ao meio no qual escreveu: “Ajude-o”.
Convencido,
o chefe da estação da CIA respondeu: “Posso garantir que os EUA estão
dispostos a reconhecer um governo de transição formado por civis”.
Mobutu tem um pedido final: “Preciso de $ 5.000 para meus oficiais: se o
golpe falhar, suas famílias ficarão sem um tostão”. O pedido é
concedido.
Em 14 de
setembro de 1960, Mobutu tomou o poder pela primeira vez. Lumumba foi
preso, um governo civil no qual Bomboko permaneceu ministro das Relações
Exteriores foi nomeado e as relações diplomáticas com a URSS, China e
Tchecoslováquia terminaram. Mas há um obstáculo. Mobutu, que colocou
Kasavubu em prisão domiciliar, é o chefe de Estado de fato. Devlin foi
imediatamente vê-lo: “Você tem um grande problema de legitimidade”,
disse ele, “especialmente desde que você demitiu a Assembleia Nacional.
Há que restaurar o poder de Kasavubu.”
"Legitimidade?
Você deveria dizer hipocrisia!” diz um Mobutu furioso. No entanto, ele
fará isso porque não tem muita escolha. Em pelo menos três ocasiões nas
semanas que se seguiram ao golpe de estado, a CIA, informada por um de
seus informantes que faz parte da comitiva do próprio lumumbista Pierre
Mulele, permitiu que Mobutu escapasse a tentativas de assassinato.
Devlin
se envolve pessoalmente ao neutralizar acidentalmente um assassino
enquanto ele visitava seu amigo no acampamento Kokolo. Isso cria um
vínculo. O chefe da estação da CIA não esconde mais sua admiração por
este jovem coronel que não só possui uma coragem física surpreendente,
mas também é capaz de dominar uma horda de amotinados furiosos e
ameaçadores pela mera magia de suas palavras e carisma.
Afinal,
Mobutu está bem rodeado. Ele é membro do “grupo Binza”, que também o
assessora. Este grupo é composto por pessoas que são “amigos” da CIA ou
recrutados por eles: Bomboko é claro, Adoula e o novo diretor de
Segurança, Victor Nendaka, ex-braço direito de Lumumba, originário da
Província Oriental e considerado particularmente brilhante.
OPERAÇÃO AUTORIZADA POR EISENHOWER
Isso
deixa, é claro, em abero a questão de Lumumba. Apesar de detido, o
ex-primeiro-ministro ainda não abandonou a sua residência oficial. Pior,
aos olhos da CIA, ele agora está protegido por forças de paz da ONU. O
representante do secretário-geral Dag Hammarskjöld em Leopoldville,
Rajeshwar Dayal, que os EUA consideram altamente suspeito, soube que os
soldados congoleses serão substituídos pelos da ONU. As múltiplas
declarações de Lumumba são tão corajosas quanto inflamadas. Em suma, ele
deve ser parado.
Em 19
de setembro de 1960, Devlin recebeu uma mensagem secreta de Langley
(sede da CIA) : “Um certo 'Joe de Paris' chegará a Leopoldville em 27 de
setembro; ele entrará em contato com você e vocês precisarão trabalhar
juntos. No dia marcado, ele e “Joe” encontram-se num bar e depois numa
casa segura. “Joe” é um químico que trabalha para a CIA e trouxe toda
uma coleção de venenos para liquidar Lumumba.
“Quem
autorizou esta operação?” pergunta Devlin. “O próprio presidente
Eisenhower”, respondeu “Joe”, acrescentando: “Cabe a você e somente a
você realizá-lo.” Ele então entregou-lhe um pacote contendo os venenos:
vários pós e líquidos para comida, bebida e até uma pasta de dentes
especial. “Se nosso homem escovar os dentes com ele, pegará uma
poliomielite impressionante. Ele estará aqui hoje, e morre amanhã.
Devlin,
que não está convencido da necessidade de suprimir Lumumba – “ele não é
Hitler”, ele pensa –, no entanto, contacta seu único agente dentro da
comitiva de Lumumba. Mas o agente recusou-se: não tinha, garantiu-lhe,
acesso às cozinhas e aos apartamentos privados de um Lumumba cada vez
mais desconfiado. Nas semanas seguintes, Devlin continuou arrastando os
pés enquanto Langley ficava cada vez mais impaciente: “Onde você está,
Larry?” Larry seria salvo no último round.
Em
27 de novembro de 1960, numa noite de tempestade, Lumumba deixou
secretamente a capital para viajar para Stanleyville (atual Kisangani),
seu reduto. Ele foi preso alguns dias depois em Kasai, severamente
espancado e levado de volta para Leopoldville, antes de ser encarcerado
no campo militar de Thysville.
Dayal
implorou a Hammarskjöld que permitisse que o contingente ganense da ONU
tentasse uma missão de resgate. Mas o secretário-geral, sob pressão
direta dos americanos, não atende a esse pedido. No mínimo, a operação
de envenenamento é abandonada.
“Que os congoleses cuidem dos congoleses”
Enquanto
Antoine Gizenga, Mulele, Anicet Kashamura e a maioria dos companheiros
de Lumumba da Província Orientale ao Norte de Katanga, via South Kivu,
lançam um levantamento, outro plano americano surge: deixar que os
congoleses cuidem dos congoleses. Por outras palavras: deixe o exército
fazer o trabalho sujo sozinho.
Em
13 de janeiro de 1961, o campo de Thysville, onde Lumumba estava
detido, explodiu em motim. Muito em breve, a CIA descobre que soldados
descontentes libertaram o ex-primeiro-ministro e estão pensando em se
colocar sob suas ordens. Em Leopoldville, todo o governo está em pânico,
exceto Mobutu e Nendaka, que, após tomarem Kasavubu e Bomboko, voam
para Thysville.
Mais uma
vez, o chefe do estado-maior enfrenta suas tropas, as coloca sob seu
controle e ordena que Lumumba seja preso novamente. Este herói da
independência congolesa é colocado num avião com destino a
Elisabethville (atual Lubumbashi), capital da província secessionista de
Katanga, onde seu inimigo jurado, Tshombe, o espera.
Lumumba,
com o rosto inchado, foi visto chegando na pista do aeroporto no dia 17
de janeiro. Ele seria baleado mais tarde naquele mesmo dia. Em 20 de
janeiro, em Washington, o presidente John Kennedy tomou posse. Em
Langley, todos saúdam o facto de que o novo governo não terá que lidar
com o caso Lumumba.
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