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10 de setembro de 2024

Uma ilha chamada "Europa" - 2

A metáfora da "Jangada de Pedra" de Saramago, aplica-se agora à UE/NATO, na deriva atlantista, segundo os ventos e marés de Washington. A UE/NATO tornou-se uma ilha geopolítica ao colocar-se à margem do mundo multipolar. A ordem unipolar colapsou, substituída por organizações com base no consenso e equilíbrio de interesses como BRICS (com a qual mais de 30 países demonstram disposição em cooperar), OCX, UEEA que desenvolvem processos de integração enquanto o FMI e o BM mantêm os países empobrecidos e endividados. 

A população é mantida na ignorância de realizações como o Fórum Económico do Oriente em Vladivostok, este ano com cerca de 7 000 convidados de 75 países (62 em 2023), líderes de países da Ásia-Pacífico, altos funcionários, empresários, jornalistas, analistas. Foram concluídos 258 acordos de investimento num valor equivalente a 60 mil milhões de dólares. Os blocos temáticos incluíam, “Novos contornos da cooperação internacional”, “Tecnologias da independência”; “Sistema financeiro e valores”; “Transporte e logística: novas rotas", etc.

O vice-presidente chinês Han Zheng destacou o papel da China como um importante parceiro comercial e investidor: “Estamos prontos, juntamente com o lado russo para contribuir para garantir prosperidade e estabilidade na região e em todo o mundo”.

O Extremo Oriente Russo (cerca de 6,95 milhões de km²) é uma região de imensos recursos inexplorados, embora seja já responsável por 100% da produção de antimónio da Rússia, 98% dos diamantes, 50% do ouro, 40% do estanho, cerca de um terço das reservas de carvão e hidroelétricas da Rússia, além de uma variedade de minérios e terras raras, etc.. Dispõe também de um conjunto de industrias como a construção e reparação naval, automóvel, defesa, etc. É com a Sibéria um dos dois "pulmões" florestais do mundo (o outro a floresta tropical do Brasil).

O Extremo Oriente é também um centro estratégico de transporte, através das Linhas Ferroviárias Transiberiana e Baikal-Amur, em fase de modernização e expansão, integradas na Iniciativa Cinturão e Rota da China. A Rússia e a China desenvolvem planos para transformar o Extremo Oriente num propulsor do crescimento económico não apenas da Rússia mas de toda a região Ásia-Pacífico. Com este objetivo foi estabelecido o Diálogo Empresarial Rússia-ASEAN. 

Acerca do dólar, Putin acentuou que dadas as mudanças económicas em curso, os países do Sul Global representam 50% do PIB global, o que naturalmente altera a posição do dólar, dando prioridade ao uso de moedas nacionais. “As autoridades políticas e financeiras dos Estados Unidos pelas suas ações descuidadas, pouco profissionais e tolas, fazem este processo avançar, porém não conseguem encontrar uma maneira de sair dessa situação difícil."

Aliás, para o Sul Global que têm os EUA ou a UE/NATO a oferecer? A "ameaça" russa e chinesa? O ser por nós ou contra nós? A chantagem financeira pelo dólar e por via FMI? Revoluções coloridas e sanções?

A "ilha Europeia", envolvida em problemas como sanções, guerras, endividamento, racismo, que não querem ou não sabem resolver, apresenta-se desindustrializada, endividada, em estagnação económica, instabilidade social, com lideranças políticas como na França, RU, Alemanha sem apoio claro e definido do eleitorado, na prática perderam o controlo dos seus países.

Na "ilha", enquanto a finança e as guerras estão a destruir as economias, burocratas e propagandistas concentram-se na guerra que provocaram na Ucrânia desde 2014, quando só têm duas opções: negociar já ou então reconhecer que se encaminham para uma guerra que se tornará global e nuclear.

A "ilha Europeia", pela sua vassalagem aos EUA, designadamente na Ucrânia e relativamente a Israel, conseguiu a proeza de perder credibilidade, tornar-se geopoliticamente irrelevante e isolar-se economicamente dos seus vizinhos no Leste, Médio Oriente, Norte de África (o apoio a Marrocos isola-a de outros países africanos devido ao conflito do Saara Ocidental), levando a que os mais diversos países se aproximassem da Rússia e da China. O mundo vê que nem Nethanyahu nem o clã de Kiev respeitam o hegemónico que os sustenta: exigem, criticam, não obedecem, avaliando pelo que o hegemónico diz publicamente.

Com tudo isto, a situação torna-se ainda pior porque por onde sai a luta ideológica ("socialismo do século XX" a mascarar neoliberalismo, "não há direita nem esquerda", "eurocomunismo") entra a extrema direita. E é por aqui que será necessário começar, porque "sem teoria a prática é cega, sem prática a teoria é inútil". É no materialismo dialético que as duas encontram consistentemente reunidas.

Fonte de dados e informações: Geopolítica ao vivo – Telegram


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