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13 de setembro de 2024

MackDraghi voltou à cidade

 O sr. Draghi é daquelas pessoas que em tudo o que se mete deixa pior do que estava, mas sai sempre muito prestigiado. Foi diretor da famigerada Goldman Sachs conhecida pela emissão de derivativos financeiros tóxicos que contribuíram para a crise financeira iniciada em 2007, foi presidente do BCE e primeiro-ministro (não eleito) de Itália que se manteve em completa estagnação económica e mais dívida. É o "burocrata perfeito", à Maquiavel.

Em 2015 como presidente do BCE, emitiu 60 mil milhões de euros por mês, o "quantitative essing" ou emissão temporária de liquidez, para salvar o sistema financeiro do descalabro. O "êxito" desta medida foi tal que em março de 2016, o BCE aumentou esta emissão para 80 mil milhões, e começou a incluir obrigações de empresas no âmbito da compra de ativos e anunciou novos empréstimos a custo que chegou a zero ou mesmo negativo aos bancos. Estas e outras medidas enriqueceram a banca não tiraram a UE da estagnação e da perda de competitividade. Sem ser de admirar, pouco tempo decorrido com tanta liquidez improdutiva - "eles não sabem nem sonham" o que é capital fictício - o BCE aumentava os juros, um filme já visto noutras paragens.

Com tão boas referências, a CE encomendou-lhe um relatório para definir soluções para o desenvolvimento económico da UE. Draghi concluiu que os problemas económicos da Europa estão enraizados no custo da energia para a indústria, segundo o relatório a eletricidade é 158% mais cara do que nos EUA e o gás natural é 345% mais caro. "A era do comércio global aberto governado por instituições multilaterais parece estar terminando". Assim, estimou que a UE deve gastar entre "750 e 800 mil milhões de euros adicionais (!) por ano para competir globalmente e atingir metas climáticas, cerca de 5% do PIB.

Nisto ele vê uma oportunidade para a UE no futuro exportar tecnologias verdes e também modernizar a produção com IA. Draghi propõe que a UE emita uma nova dívida comum para financiar suas necessidades industriais e de defesa - o que sempre foi recusado vários países nomeadamente a Alemanha, lembremo-nos dos "PIGS". Os 800 mil milhões por ano estão em linha com os 60 mil milhões por mês do "quantitative easing" que emitiu como presidente do BCE, copiando os seus mestres americanos e que não serviram para tirar a UE da estagnação, retrocesso tecnológico e competitivo e degradação dos níveis de vida. A cara aparvalhada de Ursula ao receber o relatório de Draghi titubeando sobre envolver o capital privado, esclarece-nos sobre a continuidade do "plano".

O relatório afirma que o investimento pode ser feito sem sobrecarregar os recursos da economia europeia (?) mas que o setor privado “necessitará de apoio público para financiar o plano”. Draghi mostra-se a favor de uma política industrial e subsídios mais agressivos, mudanças na política de concorrência (?) da UE e uma reformulação dos mercados para atrair mais investimentos: as dificuldades do bloco serão aprofundadas se não houver uma maior competitividade em setores emergentes de tecnologia limpa e digital, que são subsidiados na China e nos Estados Unidos. Isto é, adeus mercado, adeus neoliberalismo, resta a ditadura financeira e da burocracia da UE.

O que tudo isto mostra é que a economia que se ensina nas escolas e universidades e é defendida por palradores mediáticos (alguns srs. prof. universitários) está totalmente errada nos seus princípios. Não funciona para as pessoas nem para os países: sob a chantagem do "não há alternativa" destina-se apenas a enriquecer oligarcas, com a delirante hipocrisia do "pinga para baixo". Mas há quem acredite e vote nisto...

O que Draghi, vem dizer é que todos aqueles burocratas da UE com milionários ordenados, regalias e ajudas, levaram a UE à situação de não ter competitividade, nem defesa, nem sistema financeiro adequado. Gerem sacrossantas regras orçamentais, controlam os orçamentos dos países do euro, decidem sobre sanções e apoios, julgam e penalizam políticas governamentais, etc., e o resultado está à vista como o relatório confirma.

Mas também o "plano" Draghi não funciona, a UE não tem condições para tal. Não dispõe de matérias-primas abundantes e de extração económica como outros países - a começar pela Rússia - a obsessão neoliberal, a concorrência livre e sem entraves e o desejo de concentrar a produção num punhado de megaempresas levou à desindustrialização generalizada. A loucura de dominar a Rússia e seus recursos colocou a UE perante a impossibilidade de desenvolvimento e competitividade internacional sem energia abundante e barata.

O que as sanções fizeram é que as empresas e a população da UE simplesmente pagam muito mais por tudo o que precisam. A prioridade seria fazer a paz e retomar relações normais com os países seus vizinhos. Mas se a UE escolhe a via da guerra e das falsidades, que de positivo se pode esperar?

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