Viriato Soromenho Marques
A União Europeia (UE) não cessa de mostrar sintomas da sua doença incurável. Não só as instituições existentes constituem uma imitação descolorida de um federalismo de contrafação, sem constituição, nem cidadania europeia, como os titulares das mesmas não revelam nem a formação, nem o talento ou a vontade de aprender indispensáveis para o razoável desempenho dos cargos.
Numa altura em que a guerra na Ucrânia parece hesitar entre uma solução coreana – fim das hostilidades nas linhas atuais do campo de batalha, deixando tratado de paz para o futuro -, ou um enfrentamento direto NATO-Rússia, capaz de incendiar grande parte do mundo, o Parlamento Europeu (PE) escolheu esta última opção, ao aprovar no dia 19 uma “Moção conjunta” sobre a continuação “do apoio financeiro e militar à Ucrânia pelos Estados-membros da UE”.
A Moção, grosseiramente russófoba, cheia de exigências aos Estados da UE, é mais brutal do que muitas declarações de guerra registadas pela historiografia.
Vejamos apenas algumas das medidas propostas pelos eurodeputados: 1) acabar com todas as restrições ao uso por Kiev de armas ocidentais contra alvos na Rússia; 2) exigir ao chanceler alemão a entrega a Kiev do míssil germânico de longo alcance, Taurus (uma pressão absurda sobre Scholz, imposta por essa criatura esquisita em que se transformou o partido alemão Os Verdes); 3) Solicitar à Comissão “uma comunicação estratégica” europeia sobre a importância de apoiar a Ucrânia (mais propaganda e desinformação para preencher o vazio deixado pela repressão do debate sério e esclarecido); 4) Depois de ter arrefecido o seu breve entusiasmo pelo Pacto Ecológico, o PE exulta com a rápida implementação da Estratégia para a Indústria de Defesa Europeia.
O clímax guerreiro dos eurodeputados foi atingido, contudo, quando insistem em “que todos os EM da UE devem comprometer-se a apoiar anualmente a Ucrânia militarmente com não-menos de 0,25% do seu PIB.” No caso português, os nossos eurodeputados, cidadãos de um país com o Estado Social em falência, querem investir 628.450.000 euros (referência ao PIB de 2023) do OE 2025 no prolongar sangrento de uma guerra absurda.
A Moção passou com 425 votos a favor, 131 contra, e 63 abstenções. Os eurodeputados portugueses que querem mísseis a destruir Moscovo, nem que para isso seja preciso empobrecer ainda mais os portugueses, são todos os da AD, PS (exceção da abstenção de Bruno Gonçalves) e IL. O Chega absteve-se.
Os dois sensatos e residuais votos contra, respetivamente, do PCP e do BE, comprovam que Descartes errou (ou seria ironia fina?) quando escreveu que: “O bom senso é a coisa mais bem distribuída no mundo.”
Sem comentários:
Enviar um comentário