A Guerra ao Terror, fabricada pelos EUA, após o 11/09/2001 gastou milhões de milhões de dólares, para derrotar um inimigo fantasma, matou mais de meio milhão de pessoas e ramificou-se em guerras ilegais contra sete estados de maioria muçulmana. Tudo justificado por “razões humanitárias” como “ordem internacional baseada em regras”.
A revelação do general Wesley Clark de um plano secreto para destruir sete grandes países islâmicos ao longo de cinco anos, mostrou-nos que o planeamento fora feito com antecedência. Essas nações tinham uma coisa em comum: eram inimigas do estado de ocupação de Israel e firmes defensoras dos direitos palestinos.
O hegemon ocidental é excelente na construção de narrativas e atualmente está chafurdando nos pântanos da russofobia, da iranofobia e da sinofobia. Mas uma falsa narrativa não pode manter-se para sempre. Há três anos, o Talibã estava de volta ao poder, comemorando a vitória sobre o Hegemon. A obsessão dos “sete países em cinco anos” – com o objetivo de forjar um “Novo Médio Oriente – descarrilava completamente. A Síria foi o ponto de viragem, embora os dados estivessem lançados quando a resistência libanesa derrotou Israel em 2000 e novamente em 2006.
Esmagar a Síria independente teria aberto caminho para o grande objetivo do hegemónico e de Israel: a mudança de regime no Irão. Sob Obama, os EUA entraram na Síria no final de 2014 com o pretexto de combater o “terror”. Na realidade, Washington usava dois grupos terroristas importantes – Daesh (ou ISIL ou ISIS) e a Al Qaeda (ou Jabhat al-Nusra ou Hayat Tahrir al-Sham). Tanto o ISIS quanto a Frente Nusra eram ramificações da Al-Qaeda, como comprovado por um documento desclassificado da Agência de Inteligência de Defesa dos EUA de 2012.
A entrada da Rússia na Síria, a pedido de Damasco, em setembro de 2015, foi o divisor de águas. Putin, decidiu envolver-se numa verdadeira guerra contra o terror no território sírio antes que esse terror chegasse às fronteiras da Rússia. Afinal, já haviam sido submetidos ao mesmo tipo de terror na Chechênia na década de 1990. Depois disso, muitos jihadistas chechenos fugiram juntando-se a grupos na Síria.
Terá sido Qassem Soleimani, que convenceu Putin a entrar no teatro de guerra sírio e ajudar a derrotar o terrorismo, debilitando os EUA na Ásia Ocidental. O establishment nunca perdoaria Putin e Soleimani, por derrotar os seus jihadistas. O general Soleimani foi assassinado em Bagdade em janeiro de 2020, ao lado de Abu Mahdi al-Mohandes, vice-líder das Unidades de Mobilização Popular (PMU) do Iraque.
As PMU foram criadas para defenderem "o seu país, seu povo, a honra de seus cidadãos e seus locais sagrados” quando o ISIS iniciou a devastação no Iraque. Várias PMU foram apoiadas pela Força Quds de Soleimani – que, ironicamente, seria rotulado por Washington como “terrorista”. Paralelamente, o governo iraquiano hospedou um centro de inteligência anti-ISIS em Bagdade, liderado pela Rússia. O crédito pela derrota do ISIS no Iraque foi principalmente para as PMU, era a verdadeira guerra contra o terror, não a falsa construção americana chamada “Guerra ao Terror”.
A resposta ao terror foi e é não sectária. Teerão apoia a Síria secular e pluralista e a Palestina sunita; o Líbano apresenta uma aliança entre o Hezbollah e os cristãos; as PMU do Iraque apresentam uma aliança entre sunitas, xiitas e cristãos.
O que aconteceu em 7 de outubro de 2023 impulsionou as forças de resistência regionais a um nível totalmente novo. Destruiu o mito da invencibilidade militar israelita, a sua elogiada vigilância e inteligência. Porém enquanto o terrível genocídio em Gaza prossegue ininterruptamente (com possivelmente até 200.000 mortes de civis, de acordo com o The Lancet), a economia israelita está de rastos.
O bloqueio estratégico do Iémen ao Bab al-Mandeb e ao Mar Vermelho para embarcações ligadas ou destinadas a Israel, além de ter levado à falência o porto estratégico de Eilat, em Israel, representa uma humilhação espetacular do hegemon, com os iemenitas derrotando de facto a Marinha dos EUA.
Em menos de um ano, as estratégias combinadas do Eixo da Resistência enterraram a falsa Guerra ao Terror. Hoje, existe uma condenação maciça da Maioria Global ao genocídio de Israel em Gaza, Israel permanece como um pária – manchando os aliados e expondo a sua hipocrisia. Em 1997 disse Brzezinski: “É imperativo que nenhum desafiante eurasiano seja capaz de dominar a Eurásia e, portanto, desafiar os Estados Unidos”. Não surgiu apenas um “desafiante”, mas uma parceria estratégica Rússia-China que está definindo uma nova Eurásia.
Washington esqueceu-se completamente do terrorismo. Não é a Al-Qaeda, uma invenção da CIA, e suas muitas encarnações, reabilitada como “rebeldes moderados” na Síria. A falsa Guerra ao Terror foi desmascarada; está morta. Mas preparem-se para guerras de terror, para “confrontar a agressão russa” na Ucrânia, porque o hegemon não aceita não ser dono das narrativas, da terra e dos mares. E isso está fadado a cair no pântano da sinofobia porque a ascensão da China é considerada pelos EUA “o maior desafio geopolítico do século XXI."
Fonte: A falsa “Guerra ao Terror” entra em colapso , Pepe Escobar
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