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23 de setembro de 2024

A UE corre o risco de se desintegrar se não mudar em relação à Ucrânia - 2

 Há cada vez mais políticos ucranianos a sugerirem que esta guerra não pode durar muito mais sendo necessária uma solução negociada. O ataque de unidades militares ucranianas em território russo não mudou isso, apesar de seu valor como propaganda na imprensa ocidental. Então, qual é o objetivo da UE e do PE com a resolução sobre a guerra?

A UE isola-se na política externa. Com a resolução sobre a Ucrânia e a nomeação de Kallas como chefe de política externa da UE, parece estar a substituir-se aos Estados Unidos como o bloco pró-guerra dominante na Ucrânia. Isso isolará ainda mais a UE em política externa.

Já com Biden, os Estados Unidos tinham começado a retirar-se da guerra na Ucrânia e a transferir cada vez mais a responsabilidade para os europeus. As decisões tomadas na cúpula da NATO em Washington e a criação do centro de coordenação para o apoio militar à Ucrânia em Wiesbaden são sinais disso (assim como a planeada implantação de mísseis de médio alcance na Alemanha).

Se a dupla Trump-Vance vencer as eleições em novembro, sabemos que eles chegariam a um acordo com Putin, independentemente dos europeus, para acabar com essa guerra. Mas mesmo com uma presidência de Harris-Walz, os Estados Unidos irão concentrar-se cada vez mais em questões internas e terão menos interesse em continuar a guerra na Ucrânia, para poderem atender ao conflito do Médio Oriente e ao confronto com a China.

Os Estados Unidos tentarão, repercutir para a Europa os enormes custos desta guerra – em que a paz poderá tornar-se ainda mais cara. Além disso, a coesão europeia necessária para um confronto com a Rússia está quebrada, tornando-se impossível uma política externa comum sobre a guerra na Ucrânia. A razão para isso não são apenas as posições divergentes da Hungria, da Eslováquia e, em certa medida, da Itália, mas também o facto dos partidos políticos a favor de uma paz negociada estarem a ganhar cada vez mais popularidade em muitos países da UE. Após as eleições presidenciais nos Estados Unidos, esta tendência para uma resolução pacífica do conflito poderá ser ainda mais reforçada.

Mas o maior desafio de política externa para a política de guerra da UE vem do Sul Global. Isso manifesta-se mais fortemente no rápido desenvolvimento dos países BRICS+ com 45% da população mundial e 37% da produção económica global, muito à frente da UE, que representa 5,5% da população mundial e 14,5% da produção económica global. Mais 30 países querem se tornar membros do BRICS+, incluindo a Turquia.

Os países BRICS+ não compartilham a postura agressiva da UE e, em vez disso, veem seus interesses de segurança ameaçados pelas tentativas ocidentais de expandir a NATO para a Ucrânia e o Mar Negro. São, portanto, todos a favor de uma solução negociada. É de grande importância simbólica que a próxima cúpula do BRICS+ seja realizada sob presidência russa em Kazan, Rússia, em outubro.

Em Kazan, pudemos assistir a um verdadeiro ponto de viragem histórico, que a UE, na sua própria arrogância, ignora em grande medida. Apesar de todas as fantasias de grande potência de Ursula von der Leyen, deve ficar claro para nós que a Europa há muito deixou de ser o centro do mundo e que estamos atrasados demográfica, económica e, em certa medida, tecnologicamente. Nenhuma militarização da UE alterará isto. Uma política externa mais pacífica seria uma opção melhor. Mas Kallas, com sua postura extremamente anti Russa e agressiva, é provavelmente a escolha menos favorável para tal abordagem. 

A UE está apenas a prejudicar-se a si mesma. Ao decidir continuar a centrar-se exclusivamente na guerra, tendo esta política sido confirmada pelo PE, a UE reduziu consideravelmente a sua margem de manobra e colocou-se, geopoliticamente, à margem. Por conseguinte, embora guerra na Ucrânia seja de importância existencial para o futuro da Europa no seu conjunto, é pouco provável que a UE desempenhe qualquer papel na resolução do conflito. Como resultado, a UE perderá sua influência sobre o que poderia ser um futuro acordo de paz na Europa. Independentemente de como se avalia a questão da responsabilidade pela guerra na Ucrânia, esta é uma estupidez política indescritível que terá consequências desastrosas não só para a população ucraniana, mas também para os cidadãos da UE. 

O facto de, dois anos e meio depois de uma das guerras mais brutais em solo europeu e de centenas de milhares de mortos, a UE ainda não conseguir emancipar-se dos Estados Unidos e formular uma política de paz alternativa independente para a Europa, a UE destruirá completamente a ideia europeia, que se baseia na paz na Europa. UE pode muito bem desintegrar-se devido à sua política militarista em relação à Ucrânia.

Fonte: UE deve mudar de rumo em relação à Ucrânia, caso contrário, corre o risco de se desintegrar

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