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20 de fevereiro de 2024

O caso Navalny resumidamente

 Navalny, 47 anos, morreu numa prisão russa. De imediato, os media asseguraram tratar-se de um crime – mais um – do “regime de Putin” sobre um importante opositor que até impedia a família de aceder ao cadáver. Ora Navalny só era “importante opositor” no ocidente. O maior partido de oposição é tanto nas presidenciais como legislativas, o Partido Comunista da Federação Russa. Navalny nem sequer participou das eleições presidenciais de 2018, devido a uma anterior condenação por corrupção. Quanto ao resto é prática comum também no ocidente o corpo só ser libertado para a família após ser efetuado o relatório do médico patologista sobre a causa da morte. É evidente que não existem no ocidente quaisquer provas de tratar-se de um crime.

Os “euroatlantistas” do costume que pediram manifestações frente à embaixada russa, (mas não frente à de Israel) nunca se preocuparam com Julian Assange entre outros. Os EUA tão excitados com Navalny, ignoraram Gonzalo Lira, cidadão americano que morreu em janeiro, devido a tortura e negligência médica numa masmorra ucraniana.

Em 2007 Navalny foi expulso do Yabloko, um partido neoliberal apoiante de Yeltsin, pelas posições ultranacionalistas e participação em manifestações da extrema-direita russa. Em 2011, fundou a Fundação Anticorrupção (FBK), cujo financiamento vinha em grande do Ocidente. O FBK veio a ser acusado de apropriação indevida de doações no valor de milhões.

Desde o início da década de 2010, Alexei Navalny viu-se envolvido numa série de casos criminais, incluindo corrupção e peculato. Em 2011, Navalny participou de protestos patrocinados pelo Ocidente e foi preso 15 dias por “desafiar um funcionário do governo”. Em 2012, o Comité de Investigação da Rússia acusou Navalny de peculato envolvendo uma empresa madeireira estatal na região de Kirov, numa altura em que era conselheiro do governador de Kirov.

Em 2014, foi acusado de peculato relativo à subsidiária russa da Yves Rocher, empresa francesa de cosméticos. Foi condenado a 3,5 anos de prisão, suspensa. Foi por este motivo em 2018, impedido de concorrer à presidência.

Desde 2007, que se tornava notado, pela luta contra Putin baseada na corrupção, processo típico da extrema-direita, idêntico ao que antedeu o golpe Maidan em Kiev. Desenvolvia atividade na internet e no Youtube onde apresentou Putin como estando à frente de um império imobiliário financiado pelos oligarcas.

Tão boas referências, chamaram a atenção das ONG dos EUA que procuram captar elementos que executem políticas que lhe sejam favoráveis. Em 2010, participou no programa World Fellows ligado à Universidade de Yale, seguindo um curso em que “os bolsistas de 2010 demonstraram uma capacidade extraordinária de influenciar o diálogo sobre questões de importância nacional, regional e global.“

Ao regressar dos EUA, através da internet e o apoio de alguns media tornou-se conhecido desenvolvendo campanhas contra corrupção e manifestações contra alegadas fraudes eleitorais. Em 2013, candidato à Câmara de Moscovo recebeu 27%, a sua campanha foi apenas combate à corrupção (pelos vistos não tinha ideias para a cidade!) e contra os imigrantes: "50% dos crimes graves são cometidos por imigrantes".

Em agosto de 2020, teria sido atacado com o agente nervoso Novichok sendo satisfeito o seu pedido de se tratar em Berlim. O governo alemão, confirmou o Novitchok, embora, apesar dos pedidos das autoridades russas nunca tenha apresentado provas.

Em 2021, os tribunais proibiram o FBK e os projetos de Navalny, rotulando-os de extremistas e acusados de “criar condições para mudar os fundamentos do sistema constitucional, derrubar o governo e criar o cenário de uma revolução colorida."

O caso Navalny é exemplar pela forma como o “ocidente” apoia a extrema-direita. Apesar do seu passado obscuro e casos criminais, de ter apresentado os imigrantes como "delinquentes” e ideias ultranacionalistas, nada disto impediu que em 2021, o Parlamento Europeu lhe atribuísse o Prémio Sakharov (o que diz muito sobre este prémio!) e em 2022 fosse nomeado para o Prémio Nobel da Paz. Porquê?

Em 2022, Navalny foi condenado a uma pena adicional de nove anos por peculato e desacato ao tribunal. Foi acusado de gastar fundos arrecadados para as atividades do FBK na sua campanha presidencial em 2018, em atividades extremistas e necessidades pessoais. Por insultar a juíza Vera Akimova e caluniar Ignat Artemenko, um veterano da 2ª Guerra Mundial, foi condenado a uma multa equivalente a 7 500 dólares.

Em agosto de 2023, Navalny foi condenado por novas acusações de extremismo e sentenciado a 19 anos numa colónia penal de segurança máxima, sendo transferido no final de 2023, para a colónia prisional do Ártico em Yamalo-Nenets, onde morreu a 16 de fevereiro.

Noticias chegaram a afirmar que tinha sido condenado a 30 anos de prisão, quando tinha sido condenado a 19 anos, dizia-se também não saber o paradeiro, contudo em 7 de dezembro de 2023, Navalny apelava da cadeia ao voto contra Putin nas eleições de 17 de março próximo. Aguarde-se então o relatório do patologista.

Ver: Geopolítica ao vivo – Telegram 17/02; Navalny : un nationaliste russe | L'Humanité (humanite.fr) : Alexei Navalny – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) ; Alexey Navalny - Maurice R. Greenberg World Fellows Program (yale.edu)

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