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13 de julho de 2024

Assim vai o mundo - a atual geopolítica - 1

 Da cimeira da NATO não saiu uma única palavra de paz. A perspetiva é escalar a guerra, sem avaliar consequências, acentuando a lavagem cerebral sobre a ameaça russa, quando são os países da NATO que nem sequer respondem às propostas de paz de Moscovo. Mas ao apresentar uma visão maniqueísta do mundo, dividindo as nações em "boas" e "más", assume que o mundo unipolar não existe: o que o ocidente conseguiu foi dividir o mundo em blocos, o gerido pelos EUA e o que se centra na China e na Rússia.

Enquanto a NATO se expande, integrando de uma forma ou outra Austrália, Nova Zelândia, Japão, Coreia do Sul, entre outros. O bloco da China e Rússia formalizam ligações militares com o Irão, RPDC (Coreia do Norte), Bielorrússia, países da Ásia Central.

É significativo - ausente dos noticiários - os exercícios ditos antiterrorismo entre a China e a Bielorrússia de 8 a 19 de julho. A Rússia desenvolve parcerias com a RPDC em todas as áreas, incluindo militares. Manobras navais no Golfo de Omã envolvendo mais de 20 navios, Russos, Iranianos e da China. Representantes do Paquistão, Cazaquistão, Azerbaijão, Omã, Índia e África do Sul participarão como observadores. Exercícios militares entre a Rússia e a China ou com a Bielorrússia são recorrentes.

Putin recentemente apresentou propostas para o sistema de segurança eurasiano: “foi tomada a decisão de transformar a estrutura antiterrorista regional da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) num centro universal encarregado de responder a toda a gama de ameaças à segurança” criando uma arquitetura de segurança aberta a “todos os países da Eurásia que desejem participar”, incluindo “países europeus e da NATO” e manter conversações sobre esta questão com organizações que operam na Eurásia, como a Rússia, a Bielorrússia, a CSTO, a UEEA, a CEI e a OCX. (Geopolítica ao vivo – Telegram 04/06O objetivo é: “eliminar gradualmente a presença militar de potências externas na região da Eurásia.” É isto que na NATO se tem de escolher: ou caminhar para a guerra ou então recorrer à diplomacia. 

A ineficácia das sanções contra Rússia, Irão, Venezuela, RPDC e China, levou a que muitos países alinhassem num bloco comercial alternativo, o BRICS+, que substitui a hegemonia dos EUA realizando comércio sem dólares, sem influência dos EUA. A participação dos países BRICS+ no PIB global é 35%, tendo ultrapassado o G7.

Putin tem traçado a filosofia da nova geopolítica. Enquanto o neoliberalismo reduz o papel do Estado, a Rússia propõe a soberania nacional definindo de forma independente as políticas internas e externas. No fórum internacional "Pela Liberdade das Nações", Putin atacou o neocolonialismo "legado vergonhoso da era secular de pilhagem e exploração dos povos". "Vemos hoje as suas manifestações agressivas nas tentativas do Ocidente coletivo de manter o seu domínio e supremacia por qualquer meio, para subjugar economicamente outros países, privá-los da sua soberania, impondo valores e tradições culturais estrangeiras". (Geopolítica ao vivo – Telegram 17/02 )

Na cimeira da OCX, Putin estabeleceu um quadro de integração económica, bem-estar social e segurança da Eurásia. Esta filosofia atrai cada vez mais países. No Sul e Sudeste Asiático pretendem aderir ao BRICS: Sri Lanka; Paquistão; Bangladesh; Tailândia; Indonésia; Malásia; Mianmar; Laos; Camboja. (cerca de 900 milhões de hab.). Em África a China e Rússia desalojam a influência e interesses dos EUA e UE/NATO. Alinhando nas propostas da multipolaridade na base a aplicação do direito internacional e num processo de integração global com base no consenso e equilíbrio de interesses. (Geopolítica ao vivo – Telegram 04/03)

Enquanto o ocidente arrastado pelos EUA/NATO se concentram na derrota na Ucrânia e nas provocações em Taiwan (contrariamente ao seu estatuto), restando-lhes caminhar para o confronto nuclear, a Rússia, China e aliados alargam a sua influência em todos os continente, incluindo países muçulmanos e América Latina.

Longe de ficar "isolada" (!) por se desligar do ocidente, numerosos fóruns e conferências têm sido realizados na Rússia, como o fórum Atomexpo com representantes de 75 países e mais de mil convidados, destacando o foco na tecnologia nuclear. Em Kazam foi realizado o fórum da Associação de Cidades e Municípios BRICS+ com mais de 100 autarcas, dirigentes de associações municipais e responsáveis do governo local, “promovendo uma cooperação mais estreita desde a economia, cultura e educação até à ecologia, gestão de resíduos e turismo.(Geopolítica ao vivo – Telegram 25/03 e 25/06)

A cimeira da OCX no Cazaquistão em 02/07 representou a consolidação do bloco euroasiático: Um grupo de países da Eurásia liderado por China e Rússia que avança para uma ordem mundial alternativa, que se expande com a Bielorrússia, e transformando-se num bloco de segurança regional em um contrapeso às instituições ocidentais.



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