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8 de julho de 2024

Os EUA enfrentam uma derrota no Mar vermelho

 Os Houthis concordaram cessar os ataques ao tráfego comercial no Mar Vermelho se Israel permitir a entrega de ajuda humanitária aos palestinos. Não é apenas uma proposta razoável, é uma política apoiada pela grande maioria das pessoas em todo o mundo.

Em junho, a Defense Intelligence Agency dos EUA divulgou um relatório sobre os ataques Houthis. O relatório é devastador do fracasso de Washington em proteger uma das vias navegáveis mais importantes do mundo. A coligação naval, designada Operação Guardião da Prosperidade, não só não foi capaz de garantir segurança naval no Mar Vermelho, como piorou a situação. Os Houthis afinaram as suas operações e adicionaram armas mais letais ao seu arsenal, mostrando que um grupo de militantes pode impor elevados custos aos seus inimigos, implementando estratégias assimétricas que minam a "ordem baseada em regras".

Ataques houthis pressionam comércio internacionalEm meados de fevereiro, o transporte de contentores pelo Mar Vermelho tinha diminuído aproximadamente 90% desde dezembro de 2023; o transporte marítimo através do Mar Vermelho representava 10 a 15% do comércio marítimo internacional.... Rotas alternativas contornando a África adicionam cerca de 11 000 milhas náuticas, mais de 20 300 km, 1-2 semanas de tempo de trânsito e cerca de 1 milhão de dólares em custos em cada viagem. Em meados de fevereiro, os prémios de seguro no Mar Vermelho tinham subido para 0,7 a 1,0% do valor total de um navio, em comparação com menos de 0,1% antes de dezembro de 2023.

Os Houthis basicamente alcançaram todos os seus objetivos estratégicos, enquanto a intromissão de Washington não conseguiu nada. Infelizmente, na política externa dos EUA dominam guerreiros de poltrona que respondem a todas as crises com a aplicação contraproducente da força militar. Navios de guerra da Marinha dos EUA estão presos numa batalha no Mar Vermelho que não podem lutar para sempre

Na Estratégia de Segurança Nacional de Biden para 2022 os Estados Unidos não permitirão que potências estrangeiras ou regionais coloquem em risco a liberdade de navegação, incluindo o Estreito de Ormuz e o Bab al Mandeb, nem tolerarão esforços de qualquer país para dominar outro – ou a regiãoO trecho acima equivale a uma declaração de guerra. A propósito, esta operação naval dos EUA nunca foi aprovada pelo C de S da ONU, pelo Congresso ou pelo povo americano. É mais uma intervenção unilateral, impedindo uma solução diplomática e garante que os EUA enfrentarão outra derrota humilhante.

Os custos adicionais da cadeia de abastecimento estão a pesar fortemente nas previsões económicas já pessimistas para a UE e o Egito. Quanto mais tempo os ataques continuarem, maior será o impacto, diminuindo as perspetivas de crescimento.

Em suma: os ataques houthis no Mar Vermelho mostraram como entidades não estatais podem conduzir uma guerra assimétrica contra forças armadas convencionais: impuseram sanções económicas aos apoiantes do genocídio israelita; reorientaram o comércio entre a Ásia e a Europa proporcionando vantagens competitivas para os transportadores chineses e russos; preparou a expansão das operações houthis para o Mar Arábico e Oceano Índico.

Quais desses resultados servem os interesses dos EUA e dos países da UE/NATO e fortalecem a sua segurança? Nenhum deles. Os politicamente míopes que tomam estas decisões nunca tiveram em conta as consequências sobre os seus países e sobre os povos.

Culpar os houthis por um conflito pelo qual o governo Biden é 100% responsável por enviar a Marinha dos EUA para o Mar Vermelho para defender o direito de Israel de assassinar mulheres e crianças em Gaza, é total distorção dos factos. Os houthis não têm interesse em lutar contra os Estados Unidos. Fazem-no porque se opõem à brutalidade e à violência homicida das FDI. Por isso colocaram-se em risco de morte, acreditando que é a "coisa certa a fazer", - como diz Al-Bukhaiti - agir para apoiar os oprimidos é o verdadeiro teste da moralidade.

A maioria dos americanos apoia a justiça para os palestinos, apoia um Estado palestino soberano, apoia um cessar-fogo permanente e apoia o fim da violência e do derramamento de sangue. Só os governos de Israel e dos EUA é que querem que o banho de sangue continue.

Fonte: Mike Whitney, Washington Faces Defeat in Red Sea

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