UM DESEJO COLETIVO DE MORTE PARA O MUNDO"
Viriato Soromenho Marques, no DN
O
título deste artigo foi retirado do mais importante discurso de John F.
Kennedy (JFK), proferido em 10 de junho de 1963. Nele, o presidente dos
EUA enunciou um conjunto de medidas conducentes ao desanuviamento das
relações entre Washington e Moscovo, de modo a evitar a III Guerra
Mundial. Em outubro de 1962, os dois Estados estiveram à beira de um
confronto nuclear direto, numa situação limite que ficou conhecida como a
Crise dos Mísseis de Cuba.
Durante
duas semanas, o planeta baloiçou no precipício do holocausto nuclear.
Não surpreende que JFK, depois de ter superado essa crise existencial,
tenha procurado extrair lições do acontecido, visando prevenir a
repetição de uma situação semelhante.
O
primeiro passo nesse sentido foi a criação de uma linha de comunicação
permanente entre a Casa Branca e o Kremlin - o lendário telefone
vermelho -, de modo a evitar uma guerra por acidente ou erro de
interpretação.
O segundo
gesto consistiu na negociação de um tratado de proibição parcial de
testes com armas nucleares, que seria assinado em 7 de outubro desse
mesmo ano.
Mas JFK foi mais longe, afirmando: “Todos prezamos o futuro dos nossos filhos, todos somos mortais.”
JFK,
tal como Nikita Krutschev, conheceram a devastação da guerra como
soldados, viram camaradas tombar a seu lado. A mortalidade da condição
humana não era para eles uma expressão meramente literária.
A
seguir, JFK identificou o princípio de convivência entre superpotências
nucleares que evitou a destruição mútua total durante a Guerra Fria:
“Acima de tudo, enquanto defendem os seus próprios interesses vitais, as
potências nucleares devem evitar os confrontos que levam o adversário a
optar entre uma retirada humilhante ou uma guerra nuclear. Adotar esse
tipo de atitude na era nuclear seria apenas uma prova da falência da
nossa política - ou de um desejo coletivo de morte para o mundo.”
Estas
palavras de 1963 acentuam, por contraste, a gravidade extrema deste
tempo de 2024. A nulidade intelectual de Biden no debate com Trump,
revelou que a cadeira presidencial dos EUA está de facto vazia. À beira
de uma escalada nuclear nem sequer sabemos quem governa hoje os EUA.
O
encarniçamento da NATO numa guerra que se tornou absurda, consiste
precisamente em encostar a Rússia ao dilema que JFK considerava ser
essencial evitar.
Há um
punhado de gente, a maioria não-eleita, com provas dadas de
incompetência em estratégia e história militar, que campeia em
Washington e Bruxelas. Foi a esse restrito clube, que as nossas
degradadas e disfuncionais democracias concederam poder de vida ou de
morte sobre o nosso destino coletivo.
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