*Para Luciano Gallino, o uso da narrativa é decisivo na criação de relações de poder, permitindo justificar as políticas adotadas para enfrentar a crise. Assim, graças à crise da dívida soberana, o discurso que prevaleceu contou outra história da crise.*
A crise resulta do capitalismo financeirizado e da lógica desigual que ele traz. Mais ainda, o conluio entre o aparelho estatal e o financiamento do mercado que caracteriza o funcionamento capitalista desestabiliza os alicerces das nossas democracias.
Entre as obras italianas de sociologia, Il colpo di Stato di banche e governi. L’attacco alla democrazia in Europa (2013), em francês, “O golpe de estado dos bancos e dos governos. O ataque à democracia na Europa”, oferece uma análise única da crise.
O que se pode sublinhar :
A crise de 2007-2008 não é um fenómeno inexplicável ou uma catástrofe natural que afecte um ambiente económico saudável. Pensar nos fenómenos económicos como mecanismos naturais equivale a despolitizá-los e a recusar submetê-los ao debate. A crise de 2007-2008 surgiu numa economia que já se debatia em grande parte com as consequências da financeirização. Uma economia crescentemente desigual em termos de redistribuição da riqueza e que se baseia no endividamento das famílias que parece, a longo prazo, insustentável.
Para Luciano Gallino, o uso da narrativa é decisivo na criação de relações de poder, permitindo justificar as políticas adotadas para enfrentar a crise. Assim, graças à crise da dívida soberana, o discurso que prevaleceu contou outra história da crise.
Em vez de o fazer parecer aquilo que realmente era, ou seja, fruto do capitalismo financeiro e desregulamentado, foi apresentado pelas instituições e pelos governos europeus como o resultado de uma despesa social demasiado generosa e particularmente inconsistente. Esta narrativa dominante tornou possível a austeridade aplicada na União Europeia de 2011 a 2013.
Luciano Gallino utiliza a noção de golpe de Estado que, embora pareça fantasiosa, tem ajudado a realçar a responsabilidade das instituições nacionais, europeias e internacionais na implementação de políticas de austeridade. A Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI adquiriram poderes que não deixaram de ter consequências no bem-estar das populações e no nível de distribuição da riqueza.
Assim, a crise viu nascer uma série de novos mecanismos para controlar e limitar a despesa pública fora de qualquer domínio de controlo democrático. A partir de agora, as principais orientações europeias em matéria orçamental e social parecem ser cada vez menos objecto de deliberações colectivas.
Biografia dos autores
Luciano Gallino (1927-2015) é sociólogo, escritor e professor. É um dos sociólogos italianos mais citados, especialista nas questões das relações entre as novas tecnologias, a formação e as transformações no mundo do trabalho.
Durante uma carreira bastante diversificada, Luciano Gallino trabalhou para impor a sociologia no campo das ciências sociais na Itália. Professor de sociologia na Universidade de Turim (1971-2002), presidente da Associação Italiana de Sociologia (1987-1992), escreveu numerosos livros e artigos, especializando-se em sociologia económica em relação às transformações do mercado de trabalho.
Atenção: Este documento é um resumo da obra de referência acima mencionada,
Sem comentários:
Enviar um comentário