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16 de julho de 2024

 O QUE PODEM OS EUROPEUS 

ESPERAR DA NOVA ADMINISTRAÇÃO TRUMP?
por Carlos Matos Gomes 

Analisar uma situação tem algumas regras, a primeira é conhecer as intenções dos chefes, os seus interesses e o seu modo de conduzir as suas forças na ação. A política é a guerra por outros meios e a guerra é a política por outros meios.

O que sabemos de Trump: ele representa a oligarquia cujos interesses se situam no mercado interno. Essa oligarquia defende a reindustrialização da América, a produção de riqueza no CONUS (Continent US) — os produtos a serem produzidos nos EU estão em competição com os da China, e não com a Rússia. Logo, o competidor-inimigo é a China que produz a baixo custo os produtos que a América produz mais caro com a mesma ou menor qualidade, caso de automóveis, eletrónica de consumo, têxteis, metalurgia, entre outros.

Trump vai atrair — já está a fazê-lo — as mais rentáveis industrias europeias para os Estados Unidos, o que será feito à custa da Alemanha (o motor industrial da Europa) e exportá-los para a Europa: vamos ter Mercedes e VW americanos na Europa. Os associados europeus destas e de outras marcas — Portugal, Espanha, Polónia — vão entrar em crise. Que acabará por atingir os operários alemães. A Alemanha é o principal financiador da Política Agrícola Comum, de que a França é o principal beneficiário, vai sofrer um corte a sério. Com os efeitos sociais e políticos imagináveis.

A Ucrânia, feitos que estão os grandes negócios das empresas do complexo militar industrial, com a transferência dos colossais pacotes de “ajuda” fornecida pela Europa para os Estados Unidos, via compras de material americano, de que o programa de troca de F16 obsoletos a serem enviados para a Ucrânia e a compra dos caríssimos F35 é um exemplo, será um problema europeu. Como o maior fornecedor de bens essenciais para a guerra na Ucrânia é o americano Elon Musk que através da sua empresa Starlink fornece o serviço vital de comunicações, de espionagem, de geolocalização e guiamento de misseis, a Europa vai ter de o pagar, dado não dispor de uma rede de satélites. Por outro lado, Elon Musk é o dono da Tesla que produz os Tesla na China e os vende na Europa, pelo que vai querer ser ressarcido dos prejuízos da guerra económica que Trump vai desencadear contra a China — a Europa vai pagar a preço de mercado os satélites de Musk e os Teslas que ele não vender na China. Trump está de fora destas despesas. A Ucrânia é um desastre cujas consequências serão pagas pelos Europeus, que pagarão também os custos dos migrantes que vão continuar a chegar do Médio Oriente e de África.

Para Trump a Europa e a NATO são pedras que ele vai tirar do caminho. Ele terá sobre a União Europeia a mesma frase de Vitoria Nuland, a antiga dirigente da CIA e estratega da crise ucraniana para provocar a Rússia: Fuck the EU.

Perante este cenário que podem os europeus esperar da nova tripulação da União Europeia, as warmonger Von der Leyen e Kallas? Como vão elas sacar dinheiro da política agrícola comum europeia, dos programas de coesão, que implicam conflitos com a França e com os países mais pobres da União? Como vai a U E e Kallas pagar as colossais exigências da Polónia pelo facto de estar na primeira linha do conflito, de fornecer as bases operacionais e logísticas da Ucrânia e de receber as retaliações da Rússia? E como vai o novo cabo da guarda holandês escalado para o posto de secretário geral da NATO sacar fundos aos europeus para pagar as forças armadas da Ucrânia? E com quem vai esta nova equipa técnica da União Europeia negociar na França e na Alemanha após as derrotas já confirmadas de Macron e prevista de Sholz? E, no caso de manutenção da politica de alinhamento da União pela política americana, como se desenrolarão as relações com a China, que destino terá o porto de Roterdão, a maior porta de entrada de produtos chineses na Europa? E, por arrastamento, o porto de Sines? E para que servirá um mega aeroporto em Alcochete, a menos de mil quilómetros (uma hora de voo) do mega aeroporto de Barajas, num ambiente de recessão e decadência da Europa?

Um exemplo nacional: o negócio da substituição dos F16 por F35 imposto pelos Estados Unidos. Em declarações de 24 de Maio de 2024, o chefe de estado maior da Força Aérea apresentou os seguintes número para o “programa português de soberania do espaço aérea”, a necessidade de 27 aviões F35, com um custo estimado de 50 mil milhões de Euros a distribuir por 20 anos. O que perfaz um custo anual de 2,5 mil milhões de Euros apenas para este programa. O orçamento anual da Força Aérea para 2023 foi de 397 milhões de euros com um reforço de 103 milhões de euros o que perfaz 500 milhões. Isto é, um décimo do que apenas a frota de F35 gastará num ano! O orçamento total do ministério da Defesa para 2023 foi de 2.585 euros, isto é cerca de metade do que será necessário apenas para a nova esquadra de F35!

É esta embrulhada que nós, portugueses estamos envolvidos, e conosco muitos outros estados da União Europeia. Era indispensável que os ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros, o das Finanças e o Primeiro-ministro explicassem o que pensam do assunto. E era imprescindível que as senhoras da guerra da União, e mais o secretário da NATO e o chefe do Eurogrupo explicassem como é que isto se resolve, é que os americanos imprimem moeda emitem moeda sem valor de referência, mas não aceitam as notas falsas dos outros. É para manter o dólar como a única moeda falsa de aceitação obrigatória e universal que desencadeiam guerras.

Uma última questão que a eleição de Trump levanta é a resposta da Europa ao eventual lançamento de uma arma nuclear tática na Ucrânia. É evidente que existem planos da NATO. Mas convém que os europeus saibam que a União Europeia não tem capacidade de resposta: não dispõe de redes autónomas de satélites de alerta e guiamento nem de armas de resposta — a force de frappe francesa é uma fantasia que satisfaz, iludindo, o ego dos franceses, nada mais. As armas nucleares dos ingleses estão sob as ordens de Washington, como todas as suas forças armadas desde a Segunda Guerra. Há notícias de que os mais ricos dos ricos alemães confiam tanto na capacidade de resposta da Europa que estão a construir bunkers, em vez de fábricas.

Entretanto, por cá, os e as missionárias da guerra apresentam aos seus crentes videojogos de guerra.

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