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15 de outubro de 2023

Duas guerras em curso preparando uma terceira.

A da Ucrânia configura mais uma derrota dos EUA/NATO/UE. Os media deixaram de transformar as ficções de Kiev em estratégia, tudo ou quase o que andaram a dizer ao longo do tempo, esvaziou-se como balão furado.

Da Palestina é cedo para tirar conclusões. Tudo depende dos apoios que o Hamas mobilize. Por agora, além de escaramuças com o Hezbollah, palavras inquietantes sem dúvida, embora Israel tenha morto médicos egípcios, bombardeado um comboio de viaturas para Sul, 70 mortos (números provisórios) mais de 200 feridos.

Se o Hamas não for apoiado com abertura de frentes a Norte e anular o bloqueio marítimo e a Sul por Rafah – com menores ou maiores perdas de Israel, o seu destino está traçado. Gaza será ocupada e anexada, procedendo Israel a uma limpeza ética e expulsão da maior parte dos remanescentes.

Para Israel, segundo o seu presidente, Isaac Herzog, todos os cidadãos de Gaza são responsáveis pelo ataque perpetrado pelo Hamas - algo que os nazis só diziam em privado! - os EUA apoiam e desprezam os pedidos de cessar fogo e negociações (Rússia e China): “o governo Biden recusou qualquer esforço para criticar as ações militares israelitas, denunciando os pedidos de desescalada "repugnantes". (Intel Slava Z – Telegrama 14/10)

Com o ataque do Hamas, estamos perante mais uma “guerra não provocada” do império. Os neocons no poder nos EUA, através de um incapacitado Biden, conseguiram – por agora – unir atrás de si a esmagadora maioria da população, coisa que nem no início foi possível para a Ucrânia.

Os neocons acham que têm agora a oportunidade de mostrar o seu poder e voltar ao objetivo de reconfigurar o Médio Oriente. Israel tentará, depois de as coisas minimamente acalmarem, incorporar a Cisjordânia com estatuto a definir e prosseguir ações contra a Síria, Líbano e Irão, o inimigo número um de Israel e que os EUA querem abater. Os EUA já lá estão com o grupo de combate do porta-aviões Gerald Ford a que se juntou o Dwight D. Eisenhower. Qualquer resposta às ações de Israel será considerado “ataque não provocado”! Dando direito aos EUA de intervirem em defesa do seu aliado. A propaganda justificará tudo isto, as pessoas vão chorar pelos israelitas mortos e tratar sírios, libaneses e iranianos como “tendo o que merecem”.

As ações de Israel dificilmente podem deixar de ter consequências para si e para os que os apoiam. Manifestações que nos países aliados dos EUA são reprimidas. Na Austrália, milhares de manifestantes pró-palestinos são ameaçados de deportação. Ser contra os crimes de guerra cometidos por Israel é ser “antisemita”…

Também a UNICEF será, ao alertar para a extrema situação humanitária se a deslocação de pessoas do norte de Gaza, que não têm sítio para onde ir, se concretizar. Também a ONU, em todos os seus ramos, pediu que a decisão da deslocação fosse abandonada e que a ajuda humanitária fosse permitida para distribuição a crianças, famílias, civis. Também a OMS, que considera a exigência de Israel de evacuar hospitais do norte da Faixa de Gaza uma sentença de morte para doentes e feridos, será antisemita.  O hospital vai virar vala comum quando os geradores ficarem sem combustível' disse o médico diretor do hospital Al-Shifa, em Gaza. No norte de Gaza o hospital Al-Ahly Al-Arabi, foi atacado.Mas os “animais palestinianos” – nova espécie declarada por Israel – parece não merecerem mais dos “direitos humanos” dos EUA nem da UE. Abbas, presidente da OLP, disse a Biden, rejeitar totalmente a ideia de retirar os habitantes de Gaza de suas terras. 

O alargamento do conflito parece ser imparável. Israel bombardeia o Líbano e a Síria. O Hezbollah libanês atacou bases israelitas atingindo instalações de infraestrutura militar. Teria também capturado posições israelitas perto da fronteira. Um canal de TV de Israel, anunciou que a guerra com o Hezbollah já começou

Apesar dos bombardeamentos maciços sobre Gaza, o Hamas continuou a lançar drones em direção a Israel e o número se de soldados israelitas mortos desde o início do conflito a 279, segundo as FDI.

Israel está numa situação difícil. Não iniciar uma operação terrestre significa mostrar fraqueza, depois de várias declarações ameaçadoras, que passarão por histeria e confusa sede de vingança. Lançar uma operação terrestre corre o risco de atrair o Irão e o Hezbollah para a situação e transformar o conflito numa guerra regional.

Através da ONU, o Irão avisou Israel contra uma ofensiva terrestre em Gaza, sublinhando que não quer uma nova escalada na guerra Hamas-Israel, mas que terá de intervir se a operação israelita em Gaza continuar, direta ou indiretamente através de militantes na Síria ou do Hezbollah. Entretanto o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, vai pessoalmente a todos os aliados na região.

A estratégia dos EUA, de “apoio total a Israel”, como habitualmente não tem em conta as consequências. Para a China é a liquidação da talvez mais importante via da sua “Iniciativa do Cinturão e Rota”. Para a Rússia é ver-se atacada na Síria e com o seu vizinho Irão em guerra com Israel e atacado pelas forças dos EUA. Contudo, o Irão tem acordos militares com a Rússia e a China. E depois? 

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