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24 de outubro de 2023

Em Gaza, o "direito internacional" ocidental aceita o genocídio

 Continuação da análise de Jonathan Cook, jornalista inglês especializado no Médio Oriente, sobre a deturpação e violação pelo ocidente de conceitos, que pareciam evidentes e definitivos, . (1)

O ataque de Israel ao incipiente reator nuclear do Iraque em 1981, foi um ato de guerra condenado pelo CS da ONU, “hoje (2008), diz-se que é legítima defesa preventiva. “O direito internacional avança a cada violação". ( David Reisner)

Estas redefinições das regras da guerra mostraram-se valiosas quando os EUA invadiram e ocuparam o Afeganistão e o Iraque. Israel continuou a "evoluir" o direito internacional: introduziu o conceito de "aviso prévio", às vezes alguns minutos antes da destruição de um prédio ou bairro. Civis vulneráveis ainda na área, como idosos, crianças e deficientes, são considerados alvos legítimos se não saírem a tempo.

O Haaretz em 2009 refere-se a Yoav Gallant, então comandante militar encarregado de Gaza, considerado um "homem selvagem" pelas autoridades policiais. Gallant é agora ministro da Defesa e responsável pelo "cerco completo" a Gaza: "Sem eletricidade, sem comida, sem água, sem combustível – tudo está desligado". Uma linguagem que apaga qualquer  distinção entre o Hamas e os civis de Gaza, descrevendo os palestinos como "animais humanos". O direito internacional, entra no território do genocídio. A situação mudou tanto que até políticos ocidentais centristas apoiam Israel sem sequer pedir "contenção" ou "proporcionalidade", termos vagos usados para mascarar apoio à violação da lei.

Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista do RU, apoiou o "cerco completo" a Gaza, um crime contra a humanidade, reformulado como o "direito de Israel de se defender".

Questionado na Sky News, se tinha alguma simpatia pelos civis de Gaza serem tratados como "animais humanos", Starmer nada disse em seu apoio, optou pelo mentira acusando o Hamas de sabotar um "processo de paz" que Israel enterrou anos. Para Emily Thornberry, também do PT, o corte de fornecimentos a Gaza está de acordo com o direito internacional.

O ministro da Defesa britânico, expressou apoio inabalável à política de Israel de matar dois milhões de palestinos de fome em Gaza. A bandeira israelita foi içada na fachada da  residência ofiUma equipe de televisão perseguiu Corbyn pelas ruas de Londres exigindo que ele "condenasse" o Hamas. insinuaram, que as preocupações de Corbyn com o bem-estar dos civis de Gaza confirmava o antissemitismo do ex-líder trabalhista. A implicação clara dos políticos e dos media é que qualquer apoio aos direitos palestinos equivale a antissemitismo, um desafio ao "direito indiscutível" de Israel cometer crimes de guerra. 

Esta abordagem encoraja as políticas genocidas de Israel em Gaza, sufocando a dissidência ou rotulando-a como antissemitismo, não se limita ao Reino Unido. Von der Leyen, presidente da CE, declarou repetidamente que "a Europa está com Israel", mesmo quando os crimes de guerra israelitas se  acumulam. Há um ano, ela denunciou os ataques russos a infraestruturas civis na Ucrânia como crimes de guerra. "Privar homens, mulheres e crianças de água, eletricidade e aquecimento à medida que o inverno se aproxima é um ato de puro terror", mas nada equivalente disse sobre os ataques ainda mais graves de Israel à infraestrutura palestina.

Grupos de direitos humanos relataram que Israel está disparando fósforo branco, uma arma química incendiária, em Gaza, que constitui um crime de guerra quando usado em áreas urbanas. A Defence for Children International informou que mais de 500 crianças palestinas tinham sido mortas por bombas israelitas. (antes de 13/10)

A França começou a dispersar e proibir protestos. O ministro da Justiça diz que a solidariedade com os palestinos corria o risco de ofender as comunidades judaicas e deveria ser tratada como "discurso de ódio". Biden prometeu armas e dinheiro, e enviou o equivalente militar de "grandes armas" para garantir que ninguém incomode Israel enquanto comete crimes de guerra.

Mesmo funcionários cujo papel principal é promover o direito internacional, como António Guterres, SG da ONU, começaram a adaptar-se à situação: ele falou das "necessidades" humanitárias" de Gaza, evitando falar sobre as regras de guerra que Israel é obrigado a cumprir. Este é o sucesso de Israel. A linguagem do direito internacional que deveria aplicar-se a Gaza deu lugar, na melhor das hipóteses, a atos de caridade internacional para curar o sofrimento daqueles cujos direitos são sistematicamente violados e cujas vidas são destruídas.

As autoridades ocidentais estão mais do que satisfeitas, porque um dia, as suas próprias populações podem causar-lhes tantos problemas como os palestinianos em Gaza estão a causar hoje a Israel.

1 - https://www.declassifieduk.org/lawless-in-gaza-why-britain-and-the-west-back-israels-crimes/

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