Jorge Cadima
Mais uma vez as comemorações oficiais do desembarque das tropas anglo-americanas na Normandia foram palco duma grotesca falsificação histórica. Pretendem reescrever a história da II Guerra Mundial, apagando o papel central e decisivo da URSS, dos comunistas e das resistências populares anti-fascistas, ao mesmo tempo que 'reabilitam' os agentes e colaboracionistas do nazi-fascismo, com destaque para os seus agentes no poder na Ucrânia.
Na realidade, nada disto é novo. A 'paixão' de largos sectores das classes dominantes pelo nazi-fascismo foi traço dominante em quase todos os países europeus nos anos 20-30 do Século XX. Essa simpatia desempenhou um papel central na ascensão ao poder do fascismo, incluindo com a colaboração das democracias burguesas (veja-se a vergonhosa política da Inglaterra e França perante o golpe de Franco contra a República Espanhola em 1936). Esse apoio visava encontrar uma solução de força para a profunda crise em que o sistema capitalista tinha caído com a I Guerra Mundial; a Revolução de Outubro e o surgimento do movimento comunista; a Grande Crise económica de 1929. Mas esse apoio ao fascismo acabou, paradoxalmente, por aprofundar e agravar a crise, conduzindo directamente à II Guerra Mundial.
Uma guerra em que o papel reservado a Hitler e ao nazismo alemão pelos guiões traçados em Londres e Paris era o de se virar para Leste e destruir a URSS, mas cuja fase inicial não seguiu o previsto, dado o desejo de desforra da classe dirigente alemã – derrotada na I Guerra Mundial – e a vontade de Hitler consolidar a sua retaguarda e pôr mão nos gigantescos recursos económicos da Europa Ocidental antes de se lançar na invasão da União Soviética. Quando Hitler invade a URSS em Junho de 1941, a União Soviética enfrentou quase sozinha o grosso da máquina militar alemã. Foi apenas quando os soviéticos inverteram o curso da guerra, libertaram a quase totalidade do seu território e se preparavam para iniciar o caminho que haveria de conduzir à libertação de Berlim, que as potências anglo-saxónicas decidiram entrar no principal terreno de guerra (Normandia, Junho 1944). É fácil de compreender que a preocupação maior não era derrotar o nazi-fascismo, mas impedir que o primeiro país socialista da História ficasse com os louros exclusivos da Vitória e que a derrota do nazi-fascismo pudesse representar também a libertação social dos povos europeus. No final da II Guerra Mundial, os dirigentes do imperialismo norte-americano e inglês recuperaram os fascistas derrotados, com a sua integração nos centros de comando de numerosos países (desde logo a República Federal da Alemanha (1) e o Japão) e nas estruturas repressivas, subversivas e golpistas (incluindo as várias organizações de tipo Stay Behind, geridas pela CIA e pela NATO). É conhecida a repressão feroz que se abateu sobre os heróis da resistência anti-fascista em vários países (com destaque para a Grécia), no âmbito da 'normalização' do poder das classes dominantes conduzida pelo eixo anglo-americano.A realidade histórica indesmentível é que foram a União Soviética e o seu Exército Vermelho que tiveram o papel decisivo na derrota do nazi-fascismo. A resistência popular armada anti-fascista, onde os comunistas eram quase sempre força dirigente, teve um papel crucial na libertação de muitos países, entre os quais a França, a Itália, a Grécia, a Jugoslávia, a Albânia. Essa resistência de massas representou a entrada em cena de vastas camadas populares, historicamente excluídas, facto que aterrorizou as classes dirigentes que haviam apostado no fascismo precisamente para impedir esse 'desafio' ao seu secular poder hegemónico. O seu pavor acentuou-se com o enorme prestígio que a União Soviética e os comunistas alcançaram graças ao seu papel determinante na derrota do nazi-fascismo. É também assim que se explica a ferocidade da resposta (incluindo o uso das armas atómicas no Japão), cujo único entrave foi a correlação de forças existente; as alianças dos novos poderes burgueses com os fascistas derrotados; o permanente combate, mesmo durante a guerra, à resistência popular que não estava sob o seu controlo; as monumentais campanhas de mentira e falsificação histórica que procuram fabricar uma ficção histórica e apagar da memória dos povos uma das páginas mais belas e heróicas da sua intervenção política e da sua luta de libertação. Campanhas que, com o passar do tempo, tendem a tornar-se mais eficazes.
Não é possível compreender a realidade do passado e do presente, ignorando o papel central que a luta de classes desempenhou e desempenha nos grandes acontecimentos históricos. E a França é disso exemplo cimeiro.
França: colaboracionismo e resistência
A França tem um longo historial de revoltas e revoluções populares. Berço da grande Revolução Francesa de 1789, uma das mais profundas revoluções da História, foi palco durante os Séculos XIX e XX duma permanente movimentação popular, sendo um dos centros do ascenso do movimento operário (recorde-se a Comuna de Paris) – e mais tarde do movimento comunista (2). Esta realidade ajuda a compreender como nos anos 1930s, e perante a grande crise mundial do capitalismo e o contraponto duma União Soviética em pleno e pujante desenvolvimento económico, os receios da revolução tenham conduzido uma parte substancial da classe dirigente francesa a optar pela traição nacional, indo buscar no estrangeiro apoios contra o seu povo. Já assim fora em 1870-71. Se uma parte dessa classe dirigente (Radicais) acreditava na sua capacidade de introduzir reformas que sustivessem o conflito social e ajudassem a conter e assimilar o movimento operário, tendo participado na Frente Popular que ganhou as eleições de Maio de 1936, a parte mais substancial do grande capital (com papel de destaque para o grande capital financeiro e os centros de comando dos grandes monopólios, como o Comité des Forges), optaram pela derrota, para usar o título dum livro da grande historiadora francesa Annie Lacroix-Riz (3). Falando sobre 1937, o jornalista norte-americano William L. Shirer escreve: «Recordo que foi nesta altura que se começou a ouvir nos círculos da classe alta de Paris um comentário que mais tarde se haveria de transformar quase num cântico, 'Antes Hitler que Blum'», numa referência a Leon Blum, chefe do primeiro governo da Frente Popular (4). Os dirigentes duma das maiores potências coloniais do seu tempo temiam mais o seu próprio povo do que a ocupação pelos seus irmãos de classe nazis.
A 'opção pela derrota' esteve na origem da política de 'não intervenção' (ainda no tempo da Frente Popular e com Leon Blum como Primeiro Ministro (5)) que ajudou Franco a ganhar a guerra em Espanha. Esteve na origem da rápida viragem à direita de sectores da Frente Popular a partir de 1937, que conduziram à sua destruição em 1938. Esteve na origem da conivência com o nazismo que teve o seu ponto alto no vergonhoso Acordo de Munique (Setembro 1938), quando a França e a Inglaterra ajudaram Hitler a desmembrar a Checoslováquia. Esteve na origem dos acordos entre os MNEs da França e Alemanha, Bonnet e Ribbentrop, de Dezembro de 1938, em que, nas palavras do historiador gaullista Paul-Marie de la Gorce «o essencial era que a França e a Inglaterra davam a impressão de não mais quererem que a Europa de Leste fosse motivo para um novo conflito mundial: a Alemanha teria pois as mãos livres a Leste, incluindo a um prazo mais distante, para as suas acções contra a União Soviética» (6). A 'opção pela derrota' esteve na origem da proibição e perseguição do PCF (Setembro de 1939): «Segundo declarações oficiais, 620 sindicatos e 675 agrupamentos onde tinham assento comunistas foram dissolvidos. Tiveram lugar 11 000 buscas, 2778 eleitos comunistas foram privados do seu mandato, a imprensa comunista foi suprimida; até 7 de Março de 1940 houve 3400 prisões e internamentos e 3000 sanções contra funcionários. [...] A 26 de Março de 1940 o tribunal militar de Paris condenou 26 deputados comunistas já presos a 5 anos de prisão. Condenações à morte foram emitidas, à revelia, contra [7 dirigentes do PCF]» (7). A 'opção pela derrota' levou a que, nos meses que antecederam a invasão da França pela Alemanha Nazi (Maio de 1940), e quando oficialmente a França e a Alemanha já estavam em guerra (a 'comédia de guerra' – drôle de guerre – de Setembro de 1939 a Abril de 1940), os Estados Maiores das forças armadas francesas terem preparado... a guerra contra a União Soviética! (8). E a 'opção pela derrota' esteve na origem da autêntica entrega que levou a que, em cerca de um mês, as tropas nazis derrotassem o que era considerada uma das maiores potências militares da época e ocupassem Paris (14 Junho 1940), com as chefias militares e políticas a trabalharem desde o início pela rendição (9). Tal como esteve presente no estabelecimento dum regime colaboracionista no sul da França, a 'República de Vichy', chefiada pelo Marechal Pétain e onde boa parte dos dirigentes políticos das classes dominantes francesas aceitou o papel de fantoches dos nazistas (10).
Apesar de duramente golpeado pela repressão e com boa parte da sua direcção presa ou perseguida, o PCF reagiu. Logo no dia 15 de Junho de 1940 uma delegação comunista procurou contactar o Presidente do Parlamento para apelar à resistência, mas foi obrigada a fugir para não ser presa pela polícia (11). Nas semanas e meses seguintes, por iniciativa do Partido Comunista Francês, foram sendo criados os grupos de resistência no âmbito da Organização Especial, que haveriam de se transformar, em Abril de 1942, numa força armada unitária de resistência, os Franc-Tireurs et Partisans (FTP) franceses. Ainda em 1940 juntou-se a essas forças de resistência o comunista Pierre Georges, mais conhecido pelo seu nome de guerra Colonel Fabien, que em Agosto de 1941 participou no primeiro ataque mortal contra um militar alemão, em represália pelo fuzilamento na ante-véspera de dois jovens militantes comunistas (12). Em 1944 as FTP organizavam mais de 100 000 resistentes armados (13), e a sua importância real levou o General de Gaulle a aceitar a unificação (pelo menos formal) dos FTP no seio das Forças Francesas do Interior (FFI) (14).
A Resistência francesa teve um papel central na libertação da França, por vezes abrindo caminho e acelerando a chegada das tropas aliadas, outras vezes libertando sozinha cidades e vilas importantes. Charles Tillon, um dos principais comandantes das FTP e, tal como Colonel Fabien, comunista e operário metalúrgico, escreveu anos após a guerra um livro, não para alegar que a Resistência libertou sozinha a França, mas «para reparar a injustiça cometida até hoje em relação às FTPF por terem sido criadas pelos comunistas, e para afirmar o papel que desempenharam, quer na libertação, quer na formação das FFI, exército da Libertação» (15). Afirma Tillon: «A intervenção do povo e dos seus 'sem uniformes' na táctica e estratégia dos Aliados modificou profundamente o ritmo e o resultado da guerra em França e contribuiu também para apressar o fim da guerra». Acrescenta: «pelo seu lado, as FFI e a massa dos patriotas ofereceram aos exércitos desembarcados um território que já fora, em quatro quintos, libertado. [...] Como avaliar em divisões regulares o facto de que a insurreição libertou por si só, sem qualquer participação anglo-saxónica, a vasta região, correspondente a cerca de metade da França, situada grosso modo a sul duma linha Nantes-Orléans-Dijon e a oeste duma linha Dijon-Avignon?».
O papel das massas populares e dos comunistas na Resistência francesa é incontornável, embora cada vez mais se falsifique a História, para que caia no esquecimento. Como escreve Tillon, «o gaullismo tornou-se um empreendimento de reconquista do poder político para o que viria após a derrota do fascismo. [...] A massa do povo ultrapassou o peso da traição da ocupação e das hostilidades de todo o tipo. A classe capitalista, pela sua parte com as suas contradições, apenas se preocupou com sair vitoriosa de todas as conjunturas duma guerra engendrada pelo seu sistema e pela sua política» (16). Esta contradição, que no pós-guerra irá explodir com maior violência em perseguições ao PCF, estava já presente nas preocupações do General De Gaulle, contrário à traição de Vichy, e que se exilou em Londres em Junho de 1940. Comenta Tillon: «Anuncia, nos céus do exílio, que continuará em Londres a praticar para com os comunistas, uma discriminação necessária aos seus interesses políticos: «Haverá, da parte dos que visam a subversão, a vontade de desviar a Resistência nacional em direcção ao caos revolucionário de onde sairá a ditadura». Sim, em 17 de Junho de 1940, nas suas palavras, não é a ditadura dos nazis sobre a França que assusta De Gaulle. Mas sim a ameaça dos comunistas!». Comunistas, cujo papel na Resistência é reflectido no facto espantoso de 75 000 de entre os seus membros terem sido fuzilados pelos nazis e seus colaboracionistas durante a ocupação.
A libertação de Paris
Assinalam-se, no dia 24 de Agosto, 80 anos da libertação de Paris. Uma libertação que foi no fundamental obra da Resistência. A conquista da cidade não estava nos planos das tropas anglo-americanas, que no início do mês se encontravam a 175 km de Paris. O Comandante do 3.º Exército dos EUA, General Bradley escreveu nas suas memórias: «A cidade já não tinha qualquer significado táctico. Apesar da sua glória histórica, Paris apenas representava uma mancha de tinta nos nossos mapas, e era preciso evitá-la na nossa marcha para o Reno» (17).
Mas o povo de Paris e os seus representantes tinham outras intenções. A Resistência combina acções militares e acções de massas, que Tillon descreve em pormenor, permitindo perceber a atmosfera da época. «A classe operária da região parisiense conjuga, após o 1.º de Maio, uma erupção de movimentos reivindicativos com o surto da sabotagem do aparelho produtivo. Em Junho os serviços públicos, tal como a produção, são lentamente desorganizados. [...] um olhar sobre os comunicados dos FTP mostram os resultados alcançados com a acção desenvolvida e a paralisação dos transportes na região de Paris [...]. Os descarrilamentos sucessivos como em La Ferté-Gaucher imobilisam mais de quatro mil soldados inimigos durante três dias... Em apenas 48 horas, de 8 a 10 de Junho, só no departamento de Seine-et-Marne, efectuam-se 47 destruições ferroviárias pelos FTPF [...]. Os cabos telefónicos de longa distância Paris-Bordeaux e Paris-Marseille, essenciais para as comunicações alemãs, são cortados. [...] Uma sucessão de 'ordens do dia' enviadas pelos estados-maiores das tropas sem uniforme assinalam as diversas etapas da preparação militar da insurreição parisiense. [...] O movimento de massas passa à ofensiva, sob forma de manifestações de rua. Após as celebrações do 14 de Julho [...] e com enquadramento das FTP, milhares de parisienses ocupam as ruas durante horas [...]. Em 10 de Agosto, o Comité militar nacional das FTPF lança a sua ordem n.º 3 para a acção insurreccional: [...] 'Chegou a hora da batalha decisiva!' [...] A partir de 10 de Agosto, a generalização das greves de ferroviários leva à paralisação geral dos transportes e facilita a mobilização efectiva das massas trabalhadoras nas cidades e nos bairros. [...] O metro faz greve a 17 de Agosto. À data de 18 de Agosto, a greve será efectiva [nos correios]; no metro; nos [comboios], na metalurgia, no têxtil. [...] A 19 de Agosto as FFI e as milícias patrióticas desenvolvem a sua acção comum, os combates generalizam-se em Paris e nos seus grandes subúrbios, com a participação de parte da população».
O comandante das tropas alemãs, von Choltitz, hesita em cumprir as ordens de Hitler para destruir Paris. Multiplicando os fuzilamentos dos combatentes, procura negociar uma rendição alemã às tropas anglo-americanas, que ainda estavam fora da cidade. Nas costas da Resistência, é negociada uma trégua «entre os alemães e a delegação civil e militar do General De Gaulle em Paris», na manhã do dia 19. Escreve Tillon: «A trégua nasceu do medo que inspirava uma Paris patriótica que tomava o seu destino nas mãos. Mas como explicar que o medo pudesse residir nos dois campos, o dos vencidos e o dos vencedores, se se dissimular que a luta de classes nunca pára durante uma insurreição? [...] Tal como em 1940, para as duas partes em conversações há uma preocupação: a da 'Ordem'. Alemães e colaboracionistas pensavam preservar 'a ordem' até à chegada das tropas regulares adversárias». Mas a trégua é recusada pelos comandos da Resistência e mesmo por muitos combatentes gaullistas. Os combates retomam no dia 20, tendo a confusão da trégua provocado perdas desnecessárias. «A única noite de combate onde as perdas francesas foram superiores às do inimigo foi a de 20 para 21 de Agosto, quando os patriotas tiveram 99 mortos contra cinco alemães. [...] Ao fim do dia 21 de Agosto, 69 dos 80 bairros de Paris estavam completamente libertados. [...] 22 de Agosto será o dia das barricadas. [...] 23 de Agosto será o dia da caça aos tanques, com garrafas incendiárias que Joliot-Curie e outros cientistas fabricam nos seus laboratórios. [...] No dia 24 de Agosto, às 10 da manhã, o Coronel Fabien desencadeia o ataque à posição alemã mais importante em Paris, no Luxembourg». Von Choltitz assina a capitulação no dia 25, perante o representante de De Gaulle, acompanhado pelo comandante das tropas FFI na região da Île-de-France, o comunista e também operário metalúrgico Henri Rol-Tanguy. Segundo Tillon, «De Gaulle nunca perdoou ao General Leclerc ter aceite a rendição de Choltitz na companhia de Rol!» A libertação de Paris custou à Resistência 1483 mortos e 3477 feridos (face aos 2788 mortos e 4911 feridos do lado alemão).
A libertação da França não significou a libertação dos povos colonizados pela França, entre os quais sírios, vietnamitas, argelinos. No próprio dia da libertação de Paris começavam as operações de 'recuperação' e de reescrita da História, em torno da entrada das tropas aliadas na cidade já libertada. Como relatou a Radio 4 da BBC muitos anos depois (7.4.09): «O programa Document da BBC viu provas que os soldados negros das colónias – que constituíam cerca de dois terços das forças da França Livre – foram deliberadamente retirados da unidade que conduziu o avanço aliado para o interior da capital francesa. [...] O dirigente das forças da França Livre, Charles De Gaulle, tornou claro que desejava que os franceses conduzissem a libertação de Paris. O Alto Comando Aliado [anglo-americano] concordou, mas sob uma condição: a divisão de De Gaulle não deveria incluir quaisquer soldados negros [...]. No fim, quase todos ficaram felizes. De Gaulle obteve o seu desejo de ver uma divisão francesa conduzir a libertação de Paris, embora a escassez de tropas brancas significasse que muitos dos seus homens eram na realidade espanhóis». Republicanos Espanhóis refugiados da Guerra de Espanha, que a República Francesa tão mal tratara, encerrando milhares em campos de concentração. Acrescenta a BBC: «Para os Tirailleurs senegaleses, houve poucos motivos para celebração. [...] Após a libertação da capital francesa, muitos foram simplesmente despidos dos seus uniformes e enviados para casa. Para agravar as coisas, em 1959 as suas pensões foram congeladas». A restauração excluía os resistentes franceses brancos, porque em boa parte comunistas, e os povos das colónias francesas, que colonizados deveriam continuar.
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Hoje procura-se falsificar e reescrever a História. De novo surge a deriva fascista no seio das classes dominantes em crise. De novo alastra no seio das classes dominantes europeias a 'opção pela derrota', desta vez para servir os amos norte-americanos. É, pois, crucial recordar e prestar homenagem a todos os que morreram para libertar Paris e a Humanidade da peste nazi-fascista. É crucial fazer justiça aos combatentes comunistas e à verdade histórica. É crucial recordar o papel dos trabalhadores e dos povos que, entrando em acção, se tornam os motores da História.
Notas
(1) Na RFA, o poder recheado de ex-Nazis procedeu à proibição do Partido Comunista da Alemanha, KPD, em 1956.
(2) Em parte, o ódio das classes dominantes francesas por essa história revolucionária alimenta hoje o seu fanatismo 'europeista', o seu desprezo pela França, pela sua língua e cultura. Pretendem apagar a memória histórica e destruir a consciência popular da sua própria força.
(3) Veja-se entre outros, os livros de Annie Lacroix-Riz, Le choix de la défaite – Les élites françaises dans les années 1930 (Armand Colin, 2.ª ed., 2010); De Munich à Vichy – L'assassinat de le Troisième République, 1938-1940 (Armand Colin, 2008); e Les Élites Françaises entre 1940 e 1944 – De la Collaboration avec l'Allemagne à l'alliance américaine (Armand Colin, 2016).
(4) William L. Shirer, The collapse of the Third Republic – The fall of France 1940 (Pan Books, 1970, p. 359).
(5) Recorde-se que o Partido Comunista Francês nunca participou directamente nos governos de Frente Popular, embora os tenha inicialmente apoiado.
(6) Paul-Marie de la Gorce, 1939-1945. Uma guerra desconhecida (Caminho, 2004, p. 22).
(7) Charles Tillon, Les FTP, Éditions 10/18, 1971 (nota de rodapé, p. 17). Entre os dirigentes do PCF condenados à morte encontravam-se o próprio Tillon e Jacques Duclos. O pretexto para a repressão contra o PCF foi o Acordo de Não-Agressão entre a URSS e a Alemanha de 23 de Agosto de 1939. Não deixa de ser irónico que a repressão fosse desencadeada pelo mesmo governo francês que assinou o 'Pacto Bonnet-Ribbentrop' de Dezembro de 1938, dando luz verde à Alemanha nazi para atacar a URSS, um governo chefiado pelo Radical-Socialista Daladier que também assinou os Acordos de Munique de Setembro de 1938.
(8) Paul-Marie de la Gorce, op. cit. (p. 96 e segs.). O autor escreve: «O próprio Leon Blum não afastou de modo algum a perspectiva de um conflito com a União Soviética e a sua determinação em chegar a isso encheu de assombro o representante do partido trabalhista inglês na reunião da Internacional Socialista que se realizou em Bruxelas no mês de Fevereiro [1940]» (p. 96). Numa ironia histórica, o autor escreve: «Foi assim que, imediatamente após as conversações Bonnet-Ribbentrop [Dezembro, 1938], se desencadeou em França uma verdadeira campanha de imprensa a favor da criação de uma 'grande Ucrânia' dirigida por emigrados ucranianos conhecidos pelas suas ligações com a Alemanha» (p. 23). Veja-se também Annie Lacroix-Riz, Le choix de la défaite (op. cit., p. 512 e segs.)
(9) Segundo Annie Lacroix-Riz, Le choix de la défaite (op. cit., p. 547), o único General francês que aguentou as suas posições face ao avanço alemão foi substituído pelo seu comandante.
(10) O que restava do Parlamento eleito em 1936, após a expulsão e perseguição do PCF, suicidou-se, votando em 10 de Julho de 1940 em Vichy, com 569 votos a favor e apenas 80 contra, os plenos poderes ao Marechal Pétain (Lacroix-Riz, De Munich a Vichy, op. cit., p. 382).
(11) Tillon, op. cit., p. 22.
(12) A sede nacional do Partido Comunista Francês situa-se numa praça de Paris com o nome Colonel Fabien.
(13) Tillon, op. cit., p. 442.
(14) Em 1943 havia sido criado o Conselho Nacional da Resistência (CNR), que englobava diversas forças políticas, dos gaullistas aos comunistas.
(15) Tillon, op. cit., p. 380. Citações seguintes nas p. 381, 384 e 385.
(16) Tillon, op.cit., p. 397-8. Citação seguinte p. 404.
(17) Citado em Tillon, op. cit, p. 319. As restantes citações desta secção são dos Capítulos XVII e XVIII do livro.
1 comentário:
Obrigado pela informação que vem de encontro ao que eu pensava que os ditos nacionalistas foram os principais vendilhões da Pátria ao Nazi/Fascismo com medo que as classes trabalhadoras tomassem o Poder através da frente política organizada no partido comunista e davam ordens para aprezarem os Navios e Cargueiros nos portos que pertencessem à URSS...
Temos Alcapones governando-nos que aceitam ordens do estrangeiro contra os interesses dos seus próprios países...
O ex mais recente foi toda a dívida dos países em relação à Venezuela ser entre a um fantoche Guaidó a mando das embaixadas Americanas nos seus proprios países...ordem de rapina da principal potência capitalista EUA onde concentraram a principal central bélica da NATO.
Vão agora
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