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30 de março de 2024

A comunidade internacional dos comentadores encolhe...

 Os EUA e a UE/NATO tentam viver num mundo de fantasia que só existe na propaganda. Falam na “comunidade internacional”, isto é, eles e os países que dominam política e economicamente. Mas isso já nada tem que ver com a realidade global, o conflito na Ucrânia, os pressupostos que levaram à expansão da NATO cercando a Rússia e ao golpe de 2014 em Kiev, para isolar e submeter a Rússia, acabou por remodelar a geopolítica global. Como disse Tucker Carlson, a ordem económica liderada pelo ocidente está a desmoronar-se rapidamente, e com ela o domínio do dólar. Estas não são pequenas mudanças, são desenvolvimentos que alteram a história. 

Por exemplo, dos dez portos comerciais mais movimentados, sete estão na China, um ou dois na Coreia do Sul e em Singapura. Os EUA e o ocidente estão a perder a sua preeminência em relação ao resto do mundo.

Mas existem outras comunidades internacionais, que os media fazem o possível por ignorar, como o BRICS. A participação dos países BRICS no PIB global aumentou para 35%, ultrapassando a participação do G7. Prevê-se que até 2028, a sua participação na economia global em paridade de poder de compra será 36,6%, enquanto a do G7 27,8%. Os países BRICS representam uma grande parte do mercado energético e outras matérias primas como os cereais, em alguns casos mais de metade.

A guerra económica contra a Rússia, através de sanções, fez com que muitos dos aliados tradicionais dos EUA percebessem que as relações económicas e financeiras estão inextricavelmente ligadas à vontade e interesses dos EUA.

Neste contexto, a importância do BRICS veio afetar o domínio do dólar e seu uso como arma geopolítica. O comércio bilateral está crescentemente a ser feito em moedas locais, está em curso desenvolver uma moeda BRICS e um sistema de pagamentos internacional independente do SWIFT, que como se viu com as sanções é transformado em arma. A Rússia criou um sistema alternativo ao qual tinham aderido no final de 2023, 159 participantes de 20 países. A transição, destes sistemas e do dólar é complexa, mas considerada crucial para garantir a estabilidade financeira e a soberania do Sul Global.

Desde janeiro fazem parte do BRICS, Irão, Etiópia, Egito, Arábia Saudita e Emirados Árabes e mais de 30 países manifestaram forte interesse em estabelecer uma cooperação estreita. É relevante o Iémen pretender fortalecer a cooperação com o BRICS particularmente com a China.

Os objetivos da Rússia (atualmente com a presidência do BRICS) e da China, são claros liderando um processo de integração global num equilíbrio de interesses, ao pretender aumentar a cooperação entre os países da União Económica da Eurásia (EAEU) e o BRICS.

Há portanto uma mudança no equilíbrio de poder entre o ocidente (que se considera a “comunidade internacional”) e o resto do mundo que na sequência do conflito da NATO na Ucrânia, mostrou o irrealismo das suas decisões e uma fragilidade inversamente proporcional à arrogância do seu poder.

O problema desta “comunidade internacional” é que não aprende com os erros. Depois de considerar o Guaidó, “presidente legítimo” da Venezuela - já se esqueceram disto, apesar de sucessivamente badalado nos media. Depois de considerar Navalny, o “maior opositor” de Putin (2% em sondagem em 2019), as suas "boas qualidades" de racismo, nacionalismo fascista (por isto expulso do partido pró-ocidental Yabloco) e demagogia anticorrupção (apesar de comprovadamente corrupto), serviram para fazer um curso sobre geopolítica nos EUA. Com esta prática a UE, segundo Borrel, considerou as eleições presidenciais na Rússia, “ilegais” (?).

Aconteceu então o seguinte, Lavrov, dias depois das eleições, convocou os embaixadores dos países da UE para uma reunião no seu ministério, a que se recusaram comparecer. A questão que os russos colocaram foi a seguinte: se embaixadores se recusam a reunir com o Ministro do Negócios Estrangeiros, o que estão cá a fazer? A conspirar?

Lavrov enviou-lhes então uma notificação, dizendo que não lhes era permitido contactar cidadãos russos ou instituições livremente. Se o desejassem fazer, teriam de enviar um pedido por escrito ao ministro, que depois de avaliação despacharia favoravelmente ou não.

Este episódio, os media só passaram a primeira parte, mostra um nível de infantilidade e impotência a que esta “comunidade internacional” – a que pertencemos – chegou, incapaz de entender sequer as consequências das suas ações. Uma UE cada vez mais encolhida na sua afirmação internacional.

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