Linha de separação


18 de março de 2024

A extrema-direita exibe-se

 A extrema-direita exibia cartazes em que os impostos que pagamos são para pagar aos corruptos e em que pretendia limpar Portugal. Um milhão de eleitores acreditou nestes absurdos. Não admira, note-se que a CNE prestou um mau serviço ao permitir este género de despolitização e insultos a todos os que honestamente dedicam a sua vida a tentar melhorar o país e a vida das pessoas. Permitir tais insultos é uma forma de despolitização, de cultivar o anticivismo, uma forma expedita de atacar a democracia e o que o 25 de ABRIL representa. Não é de admirar num país em que o ensino e divulgação da Constituição é tabu.

Pois bem os tais agentes de limpeza escandalizam-se por o PSD não os querer no governo, isto é, fazerem parte da corrupção, pois por um lado para a extrema-direita a corrupção começou com o 25 de ABRIL, por outro mesmo com o PS no governo o PSD obtinha impostos do IMI e outras fontes.

Recentemente um “comentador” afirmava que a extrema-direita (o chamado Chega) era democrático. Antidemocrático era o PCP, pelo que tinha feito em 1974-1975. Alguém lembrou o terrorismo praticado pela extrema-direta do ELP e MDLP? Não, nem que o PCP e seus militantes foram as principais vítimas do terrorismo. Claro que não, e é desta forma que a extrema-direita é promovida.
Atualizemos o exemplo da extrema-direita no poder, na Argentina. Milei, o presidente, cancelou a entrada da Argentina no BRICS, esfriou as relações com os dois maiores parceiros comerciais o Brasil e China, alinha o país com os EUA e Israel. Milei, já visitou Israel, chorou no muro, dançou e cantou com colonos, enquanto bombas caíam sobre Gaza e revelou planos para transferir a embaixada para Jerusalém.
Embora o seu projeto de lei geral não ter sido aprovado no Congresso o novo governo da Argentina, pretende abrir as portas a tropas dos EUA, como no Peru e no Equador. Embora a proposta para autorizar a entrada no país de tropas e equipamentos de forças armadas estrangeiras bem como o envio de forças argentinas para o exterior, não tenha sido apresentada ao Congresso Nacional conforme está estabelecido em Lei, isto não impediu que o governo de Milei oferecesse às forças armadas dos EUA um pequeno e suculento acordo: permissão para operar ao longo do trecho argentino do rio Paraná, a mais longa via navegável da América do Sul – algo que Washington vem procurando ativamente há anos.

Mais importante ainda, o acordo permite a presença militar dos EUA ao longo de toda a extensão da rota fluvial mais importante da Argentina, pela qual transitam cerca de 80% de todas as suas exportações agrícolas. Os militares dos EUA já assinaram um acordo semelhante com o governo paraguaio em 2022, concedendo ao seu Corpo de Engenheiros o direito de operar ao longo do trecho paraguaio do Paraná.

Enquanto isto, o que acontece na Argentina é precisamente o contrário das delirantes promessas eleitorais da extrema-direita no poder: a vida piora cada dia, a taxa de inflação oficial é de 276,2% ;  A UNICEF alertou que a pobreza infantil aumentará de 57% para 70% se as condições económicas não mudarem. À medida que os salários reais desmoronam devido à inflação mensal de dois dígitos, salários e pensões estão congelados, os impostos são crescentes, as vendas de quase tudo estão em colapso.

O economista norte-americano Steve Hanke, um dos primeiros apoiantes da campanha de Milei e firme defensor da dolarização da economia argentina, descreveu as políticas de Milei como “engenharia financeira, tentando colocar em prática o que é apenas o programa padrão do FMI. Esses programas, disse ele, “simplesmente não funcionam e têm um histórico de não funcionar”. Além disso, causam dor e destruição económica incalculáveis nas classes média e pobre do país.

A raiva e o desespero do público estão aumentando rapidamente na Argentina à medida que as condições económicas se deterioram. É por isso que a decisão do governo de adotar um protocolo de segurança tão rígido desde logo no seu mandato é tão ameaçadora. O termo “terrorismo” pode ser, e muitas vezes é, usado para justificar a repressão política e social, seja contra manifestantes políticos, trabalhadores em greve ou grupos indígenas mapuches que reivindicam direitos históricos à terra na Patagônia. Não menos ameaçadora é a decisão do governo de convidar as forças armadas dos EUA para ajudar a administrar a hidrovia mais movimentada da Argentina.



Sem comentários: