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5 de fevereiro de 2025

As catástrofes nos EUA e as vantagens da economia privatizada

 Os EUA têm sido cenário de devastadores incêndios. Cá também há incêndios, mas felizmente temos comentadores que nos dizem o que deve ser feito para os evitar. Ano após ano repetem-se, sempre com o mesmo ar assertivo de quem tem a verdade no bolso. Ano após ano vai ficando tudo na mesma, mas os crentes no sistema ouvem-nos e sentem-se tranquilos. Quanto ao governo culpa o aquecimento global no verão (no inverno transforma-se em alterações climáticas), a oposição responsabiliza a incúria do governo. Periodicamente os papeis invertem-se entre os "principais partidos", é a democracia a funcionar segundo as regras "euro-atlantistas.

Curiosamente não houve comentários críticos às catástrofes nos EUA, várias simplesmente ignoradas. Divulga-las poderia dar ideias às pessoas de que os EUA não são o país líder que devemos admirar. Porém, o "paraíso" EUA revela -se grosseiramente mal administrado...

A Califórnia, uma terra de ultramilionários foi cenário de catástrofes que expõem o sistema económico e social dos EUA e, em termos gerais, do ocidente. Em 50 anos a sua população duplicou, para quase 40 milhões de pessoas, neste período as propriedades privadas cresceram 13 milhões de unidades. No entanto, nem um único novo reservatório de água foi construído desde 1960.

Em 2014, foram aprovados planos para construir uma rede de novos reservatórios. Sempre que a construção ia começar o processo era interrompido por ações ambientalistas. Além disto, nenhum trabalho de limpeza de madeira morta nas florestas e terras adjacentes, foi feito, apesar do clima árido e temperaturas elevadas; os moradores vivem literalmente num barril de pólvora.

Em 2018, na Califórnia um grande incêndio florestal queimou 65 000 hectares e 19 000 estruturas, causando um prejuízo de 17 mil milhões de dólares. Causas? Florestas sem manutenção e uma empresa de serviços públicos deixando as linhas de energia deteriorarem-se. Com ventos fortes - comuns na Califórnia - um curto-circuito originou o desastre. Naquela época, os bairros ricos foram poupados, o alvoroço foi silenciado.

Em 2019, na cidade de Santa Rosa arderam 7 000 estruturas, novamente devido a um curto-circuito. A empresa elétrica tinha cortado custos, mas como foi um dano "menor": apenas 1,5 mil milhões, ninguém se preocupou em investigar a situação ou tomar providências. Um sinal de alerta tinha soado em dezembro de 2024, quando um incêndio de 1 200 hectares eclodiu perto de Santa Mónica, Los Angeles. Em janeiro de 2025, voltam os mesmos culpados: montanhas de madeira morta, ventos fortes e funcionários corruptos em empresas e municípios. Desta vez, além das mortes (números provisórios davam 25) e feridos, os danos são estimados em 275 mil milhões - porque os bairros ricos arderam. Estes incêndio arderam intensamente durante três semanas. No fim de janeiro apenas 98% estava contido. Porém, um novo incêndio perto de Santa Clarita espalhou-se por 3 500 hectares, ameaçando 14 000 estruturas e no condado de San Diego havia dois incêndios adicionais, cada um abrangendo 1000 hectares, no início de fevereiro.

Mas numa sociedade privatizada é complicado definir o que é interesse público. Em Palos Verdes, uma cidade costeira, um projeto caro drenou 112 milhões de galões de água subterrânea para estabilizar o solo para propriedades de luxo. E como imperialismo oblige os bombeiros de Los Angeles doaram equipamentos “excedentes” para a Ucrânia, situação agravada pela redução do orçamento em 17,6 milhões de dólares e... falta de água nos hidrantes (!). Como a Califórnia é também uma zona de tempestades, com os incêndios arrancando a vegetação, haverá deslizamentos de terras. No meio deste caos a maior instalação de armazenamento de baterias do norte da Califórnia, de propriedade da Vistra (uma das maiores produtoras de energia dos EUA), ardeu. Ninguém menciona os danos, embora o incêndio de baterias de lítio tenha consequências tóxicas.

Esses são apenas alguns desastres que assolam a Califórnia, mas mesmo ações urgentes como desmatamento de florestas e construção de reservatórios param através de obstáculos burocráticos mesmo para iniciar trabalhos de emergência.

No resto dos EUA a situação é também complicada: explosões, incêndios, descarrilamentos, colapsos, incidentes aéreos, são rotineiros. Os media enterram a verdade. Os EUA têm uma média de 1000 descarrilamentos de comboios por ano (relatórios independentes dizem 1700). Em 2020, a refinaria de Marathon em Carson, Califórnia - a terceira maior dos EUA - explodiu. Permanece fechada, causa desconhecida. A Refinaria Martinez, inaugurada em 2023, pegou fogo, o que gerou um alerta para que os moradores permanecessem em ambientes fechados devido aos riscos de ar tóxico. Em 2023, a refinaria de Marathon em Garyville, Louisiana - a segunda maior - ardeu .No outono passado, dois super furacões - Helene e Milton - atingiram os EUA, causando mais de 100 mil milhões de dólares em prejuízos.


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