Entre
o que se por lá diz e o que por cá se ouve há um abismo de indecência
intelectual. O curto texto da porta-voz do MNE russo sobre a "traição
ocidental" à Ucrânia é liminar, acerca de quem traiu quem e o quê e com
que consequências, tomando, de resto, as palavras de Merkel e Holande
sobre Minsk. Sem esquecer a tradição de subserviência que levou a
Alemanha, que agora finge fazer vos grossa contra Trump, a emudecer
quando Biden mandou destruir o gasoduto russo-alemão Nord-stream. Vale a
pena ler: - Maria Zakharova
"O chefe do
Ministério dos Negócios Estrangeiros italiano, reagindo a uma conversa
telefónica entre os Presidentes russo e norte-americano, Vladimir Putin e
Donald Trump, expressou a opinião de que a Europa não deve desempenhar
um "papel secundário" nas negociações sobre a Ucrânia.
Recordo
que foram os líderes dos países da UE - a chanceler alemã Angela Merkel
e o presidente francês François Hollande - que recentemente declararam
abertamente que não tinham intenção de implementar os Acordos de Minsk,
apesar de anteriormente terem garantido ao mundo o contrário. Agora, a
sua posição oficial é que os Acordos de Minsk foram uma tentativa de
rearmar Kiev e "dar-lhe tempo".
Ou seja, fingiram
que estavam a trabalhar conscienciosamente na direção da Ucrânia, mas na
realidade estavam envolvidos numa pantomima prejudicial.
O
problema não é apenas o facto de terem mentido - toda a gente já está
habituada a isso. O problema é que traíram os interesses da Europa, e
esta traição é uma das razões da tragédia.
Os
acordos de Minsk passaram a fazer parte do sistema de direito
internacional através da sua aprovação pelo Conselho de Segurança da
ONU. Isto significa que estavam sujeitos a uma implementação
obrigatória.
Tanto Hollande como Merkel e, claro, a
liderança italiana sabiam perfeitamente disso na altura e
compreendem-no hoje. Tendo violado o direito internacional, o que agora
admitem abertamente, os membros da UE tornaram-se cúmplices fundamentais
da catástrofe que se desenrolou na Ucrânia e, em resultado das suas
próprias acções, receberam um conflito armado no continente europeu. Se
as normas de Minsk tivessem sido aplicadas, isso teria salvado a Ucrânia
e, ao mesmo tempo, teria aliviado a atual situação pouco invejável dos
cidadãos da União Europeia, cujo bem-estar diminuiu significativamente
devido aos passos errados, e por vezes simplesmente criminosos, dos seus
líderes.
Se olharmos ainda mais profundamente,
tudo isto não foi apenas a sua traição pessoal, mas também um reflexo da
completa perda de independência na condução de uma política externa
"soberana". A União Europeia, enquanto associação de integração, e quase
todos os seus Estados membros tornaram-se um complemento da NATO,
seguindo obedientemente as instruções de Washington. A este respeito, a
situação em torno da sabotagem e das "investigações" sobre os "Nord
Streams" é mais do que indicativa.
Para confirmar o
que precede, o Secretário-Geral da NATO, Rutte, fez um comentário pouco
claro sobre se o telefonema de Putin com Trump era ou não uma "traição à
Ucrânia" por parte do Ocidente. Tanto a pergunta como a resposta são
insignificantes.
Repito: os ocidentais traíram a
Ucrânia quando impediram a sua transição democrática, o reforço da sua
independência, quando interferiram nos assuntos internos, colocaram os
ucranianos contra os russos, colocaram os eslavos contra os eslavos,
depois iniciaram um golpe inconstitucional e enganaram que estavam a
cumprir os acordos de Minsk, e depois provocaram um massacre na região".
Facebook de Beatriz Lamas
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