Linha de separação


11 de julho de 2025

Cimeira dos BRICS e o fim do império unipolar

 A cimeira dos BRICS realizada no Rio de Janeiro, apenas mereceu irrelevantes notícias ainda menos comentários: trata-se de evitar a todo o custo que a opinião pública se aperceba que o império unipolar perdeu credibilidade e as mudanças geopolíticas e geoeconómicas consolidam-se.

A cimeira abordou questões como “Paz, Segurança e Reforma da Governança Global”, “Fortalecimento do Multilateralismo", "Temas Económico-Financeiros”, “Meio Ambiente", "Saúde Global”.

Como Pepe Escobar resume: "A guerra do império é contra todos nós membros dos BRICS, mas vamos travá-la em termos muito civilizados... e estamos a organizar um sistema diferente de relações geoeconómicas e geopolíticas para um futuro melhor."

Os BRICS representam um terço da superfície do planeta, perto de metade da população global, 40% da economia mundial”. O PIB total, em termos de Paridade do Poder de Compra, atingiu os 77 mil milhões de dólares, segundo o FMI, ultrapassando significativamente o G7, que tem 57 mil milhões. O grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) integra agora Egito, Irão, EAU, Etiópia, Arábia Saudita e Indonésia. Países associados: Bielorrússia, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietname.

Os BRICS consideram ser necessário transformar profundamente o Conselho de Segurança” da ONU, abrindo este órgão a novos membros permanentes da Ásia, África, América Latina e Caribe. Só assim será possível “garantir a própria sobrevivência da ONU”. A China e Rússia reiteraram o seu apoio às aspirações do Brasil e da Índia desempenharem um papel mais relevante nas Nações Unidas, incluindo no Conselho de Segurança que deve ser objeto de reformas visando a ampliar a voz do Sul Global".

Lula da Silva, o anfitrião, afirmou que o "multilateralismo está sob ataque", colocando "a nossa autonomia novamente em xeque”. O Direito Internacional é agora “letra morta, juntamente com a solução pacífica de conflitos”, agora em “número inédito desde a II Guerra Mundial”.

Iniciativas tomadas na cimeira mostram como se está a desenvolver a cooperação e integração do Sul Global, nomeadamente entre a América do Sul e o Sudeste Asiático. A Indonésia o primeiro membro de pleno direito do bloco no Sudoeste Asiático, com um PIB de 1,4 milhões de milhões de dólares e reservas críticas de níquel. Vietname é um polo industrial em ascensão. A Malásia exportadora de tecnologia e semicondutores, aprofunda a integração na ASEAN. A Tailândia, parceira da China em projetos de infraestruturas ligados à BRI.

Porém como Lula e Lavrov sublinharam, os BRICS não são um "clube anti-Ocidente", mas um fórum para a construção de um novo modelo de relações internacionais liderado pelo Sul Global. Perante isto, Trump ameaça uma guerra comercial aplicando uma tarifa global de 10%, com 36% para a Tailândia e 24% para a Malásia, o que vai alienar aliados, oferecendo aos BRICS a possibilidade de acelerar a desdolarização. Os analistas ocidentais podem ignorar, mas BRICS e parceiros sendo a maioria da população mundial e com um peso económico a aumentar, significa que o G7 está destinado a ser cada vez mais irrelevante.

A Rússia lidera os planos para um novo sistema de liquidação de pagamentos, uma agência de notação de crédito dos BRICS e as bases para uma ordem financeira global alternativa com o Novo Banco de Desenvolvimento anunciado pelo Ministro das Finanças russo, uma plataforma fundamental para o financiamento de trocas comerciais ignorando o SWIFT. Ou seja, "uma nova arquitetura financeira a nível global, aprofundando o trabalho de base lançado na reunião de Kazan, pela Rússia. Por exemplo, 90% das transferências entre a Rússia e os membros dos BRICS realizam-se em moedas nacionais, um efetivo impulso na desdolarização, com óbvio impacto na geoeconomia e portanto na geopolítica. Por videoconferência, Putin, declarou que estamos a testemunhar que o modelo de globalização liberal se tornou obsoleto para os mercados em desenvolvimento. 

A Cimeira analisou questões como a expansão do comércio em moeda local através do BRICS Pay e outras plataformas, oferecendo alternativas às condições do FMI/Banco Mundial, especialmente para infraestruturas. As exigências erráticas de Trump e a sua inconsistência foram também analisadas na forma como minam a confiança, posicionando-se os BRICS como parceiro estável. Ao unificar as queixas do Sul Global, os BRICS podem transformar a guerra comercial de Trump num catalisador para a multipolaridade, se agirem de forma coesa.

Na declaração final os BRICS condenaram o genocídio em Gaza, os ataques a alvos civis na Rússia, o ataque dos EUA ao Irão como "um ataque unilateral e não provocado".

Para Pepe Escobar, a Cimeira foi um "enorme sucesso" para o Sul Global, apesar das tentativas dos media ocidentais o desmentirem ou ignorarem. Quando pensávamos estar condenados, com uma nova e longa nuvem escura a pairar no horizonte, vejam-se as atuais convulsões do Império do Caos, um vislumbre de esperança trespassa a escuridão.

1 comentário:

Gabriel M. Branco disse...

Excelente artigo! Animador! Precisamos todos nos unir para o mundo melhor, de respeito e seriedade. Respeito à saúde, a educação, ao meio ambiente e a tantos outros aspectos.
Por incrível que pareça, a política criminosa, mas desastrada de Trump pode nos ajudar, acelerando esse processo… 🙏🙏