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13 de julho de 2025

 

Golpe em curso no Brasil: nota da embaixada dos EUA revela algo além das taxas de Trump

Em meio a tarifas agressivas anunciadas por Trump, um gesto ainda mais simbólico passou quase despercebido: a nota oficial da embaixada dos EUA em Brasília, que rompe com o protocolo diplomático ao apoiar abertamente Bolsonaro e atacar o governo Lula.

A escalada de interferência externa coincide com o isolamento político do Planalto e a ofensiva do capital financeiro por reformas neoliberais. O cenário lembra perigosamente o pré-golpe de 2016, mas agora com alianças entre o trumpismo, o centrão e a elite empresarial.

Estaria o Brasil diante de uma nova tentativa de mudança de regime articulada de fora para dentro?

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Tradução:

O Brasil entrou definitivamente no radar dos Estados Unidos. Em um único dia, três ações acenderam o sinal vermelho para o governo brasileiro. Primeiro, novas declarações de Donald Trump em apoio a Jair Bolsonaro e contra as instituições brasileiras; em seguida, manifestação no mesmo sentido da embaixada dos EUA em Brasília; finalmente, o anúncio de tarifas de 50% para todos os produtos brasileiros, com os mesmos argumentos políticos contrários ao atual governo brasileiro.

Embora esquecida, sobretudo diante do anúncio tarifário, a ação que mais me preocupa é a emissão de uma nota oficial da embaixada. Esta é a primeira vez em toda a história das relações bilaterais que a embaixada dos EUA critica aberta e duramente o governo e as autoridades brasileiras e defende um opositor. O comunicado repete as falas de Trump, dizendo que o ex-presidente Bolsonaro e seus familiares “têm sido fortes parceiros dos Estados Unidos” e que eles e seus apoiadores sofrem uma perseguição “vergonhosa”.

Não há nenhuma necessidade de uma embaixada se pronunciar apenas porque a Casa Branca se manifestou sobre a política local. O gesto da embaixada dos EUA é uma interferência maior na política brasileira do que os comentários proferidos por Trump. Mais do que isso: se uma embaixada emite uma nota como essa, tendo a certeza de gerar uma crise diplomática com acusações de interferência nos assuntos internos, é porque o governo americano já está trabalhando nos bastidores para interferir concretamente na política interna do Brasil. Ou melhor, já está interferindo de forma concreta.

De fato, no final de 2024 os esforços desestabilizadores contra o governo de Lula foram redobrados e 2025 começou com uma breve guerra especulativa para forçar a administração a adotar um ajuste fiscal em benefício dos grandes bancos e do conjunto do capital financeiro internacional. A pressão não surtiu o efeito esperado. Os setores imperialistas e a burguesia brasileira – sócia minoritária da dominação estrangeira sobre o país – perceberam que a única saída seria derrubar o atual governo. O processo golpista foi iniciado.

Os partidos da direita com os quais o PT se aliou, como sempre, desde o começo do governo já o estavam sabotando internamente, mas nos últimos meses passaram a debandar gradualmente. No Congresso, esses partidos estão em guerra contra Lula. A imprensa ecoa diuturnamente as exigências dos grandes capitalistas: o corte de programas sociais, o congelamento do salário mínimo, as privatizações e o afastamento dos “autocratas” (Putin e Xi Jinping) de quem Lula está se aproximando. O governo, por seu lado, está perdido, limitado pela política de colaboração de classes que o faz seguir parcialmente a cartilha estabelecida pelo Consenso de Washington, especialmente através do Ministério da Fazenda e do presidente do Banco Central.

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A desestabilização causada pelas instituições da burguesia (bancos, latifúndio, multinacionais, Congresso, imprensa, institutos de pesquisa, etc), somada às alianças com seus inimigos e à manutenção das estruturas fiscais e econômicas erguidas a partir da década de 1980, transformaram o governo em uma vítima vulnerável à mudança de regime pretendida pelo imperialismo americano. O governo Lula é extremamente débil.

União de interesses

“O Brasil não tem sido bom para nós”, declarou Trump. O conjunto do capital internacional pensa da mesma forma, assim como os seus sócios minoritários dentro do Brasil. Nesse sentido, há um ponto essencial de convergência entre o trumpismo e os setores tradicionais do imperialismo: a necessidade da derrubada do governo Lula. E o alvo central disso tudo é justamente o presidente Lula, embora muitos digam que seja a Corte Suprema e o ministro Alexandre de Moraes – estes, na verdade, com sua atuação absolutamente arbitrária, estão trabalhando contra os interesses do Brasil e do próprio governo Lula. O presidente e seu partido pagarão caro pelas ações de Moraes e do STF, ainda que não sejam responsáveis por elas.

Rubens Ricupero, ministro da Fazenda e embaixador em Washington em parte do período de ascensão neoliberal e submissão completa aos EUA, acredita que as declarações de Trump são um “presente eleitoral” para Lula, porque reforçam o discurso nacionalista do líder brasileiro. Mas ele não percebe que a interferência dos Estados Unidos na política brasileira vai muito além da retórica de Trump nas redes sociais. Lula só poderia aproveitar essa oportunidade – aberta não agora, mas desde que Trump foi eleito presidente dos EUA – se ele agisse na prática, e não só no discurso, contra o avanço imperialista sobre o Brasil e a favor de uma verdadeira independência do país.

A atual política econômica de Lula não é uma proteção da soberania do Brasil. Suas alianças políticas, tampouco. As classes dominantes brasileiras, que fizeram o governo de refém desde a farsa do 8 de janeiro, não se interessam por um confronto com os Estados Unidos. Seu instinto de classe fala mais alto. A burguesia nacional brasileira é muito pouco nacional.

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