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23 de julho de 2025

UE: um caso de psicopatologia política

 Perante o delírio belicista da UE parece estarmos num caso de psicopatologia política. O primeiro sintoma, é a negação da realidade e os impulsos auto-destrutivos de nível psicótico, tornando-se negação e exclusão (perda de relação com a realidade, típica da psicose). Em seguida, a idealização do "eu", acompanhada por uma forte dose de infantilismo político, que alimenta uma deriva fanática e irracional sacrificando os interesses dos povos europeus e a sua vontade, mantendo um falso europeísmo. Portanto, há cinismo, há interesses (mesmo não mencionáveis), mas o que está em jogo é uma questão identitária que toca o lado negro da construção europeia.

Há um elemento de destrutividade ligado a uma síndrome obsessivo-paranoica (a absurda comparação Putin-Hitler, a ideia de que a Europa está prestes a ser invadida pela Rússia, hipótese desprovida de qualquer base política ou prático-militar). Enquanto a UE protege a ortodoxia neoliberal e globalista, Trump é técnico-comercial, anti globalista, tentando obter vantagens estratégicas na competição global.

UE, é humilhada em primeiro lugar pelos seus erros grosseiros e pela sua cegueira. Apesar da propaganda frenética, não faltam vozes que apontam não apenas para a falta de fundamento, mas também para a fragilidade e autodestruição da posição da UE sobre a Ucrânia. O fracasso da política imposta pelos democratas neocons americanos, saudada de forma totalmente subordinada na UE, era previsível e havia sido previsto, por exemplo, por Mearsheimer e Todd.

A política da UE, ilusória e antidemocrática, é um instrumento de despolitização tecnocrática alinhando-se no belicismo. É por isso que vivemos tempos perigosos, porque um "acidente" pode acontecer ou ser procurado, impondo um facto consumado.

A UE tornou-se um lugar da despolitização sem identidade onde "simulacros de resistência" são gerados, como o Linke na Alemanha, a falsa Frente Popular presa na instrumentalização de Macron, ou a pseudo-esquerda radical na Itália), uteis para a oligarquia eurocrática neoliberal e globalista.

Mas o que é a UE, afinal? Não é um estado federal; não é uma confederação. Tem uma moeda sem Estado ou governação política da economia, sem real integração económica e financeira, baseada na solidariedade e em políticas orçamentais comuns. Tem um aparelho tecnocrático desmedido, em torno do qual giram lóbis; não é um verdadeiro Estado de direito; não tem constituição, mas tem um tratado pomposamente descrito como constitucional; tem um parlamento, não é uma verdadeira democracia representativa. Tudo isso é temperado com um melaço moralista cada vez mais distante da realidade e da verdade histórica.

A despolitização moralista e tecnocrática contribuiu para enfraquecer a Europa, para fazer dela uma confusão, que aumentou após um imprudente alargamento a Leste, debatendo-se com interesses contraditórios. Em resultado foi levada a uma série de reveses retumbantes, à austeridade, à gestão sem sentido da crise financeira desencadeada pelas hipotecas subprime americanas (apresentadas como uma crise de dívidas soberanas, na realidade de dívidas privadas de bancos, especialmente alemães e franceses), até ao fracasso total na Ucrânia e apoio ao massacre em Gaza.

O triste resultado é uma UE política e moralmente falhada, o abandono do pensamento crítico e do realismo saudável, uma má consciência temperada com supremacismo moral histérico como compensatório. Qualquer coisa, para escapar à realidade. Uma mistura grotesca e perniciosa de belicismo, impotência e marginalização geopolítica.

Muitos caíram no feitiço sugestivo da indefinição da UE, o clima pró-europeu dos anos 90 enganou alguns de boa fé. A verdade é que quando uma "classe dominante" falha de forma tão espetacular, deve ir para casa. A burocracia sabe-o, luta para sobreviver e está pronta a fazer os povos pagarem qualquer preço por isso.

Um novo fascismo tornou-se o paradigma. Aquele que, por exemplo, cancela eleições e exclui arbitrariamente candidatos indesejáveis (como na Roménia, mas a tendência pode espalhar-se). Afinal, a deriva abertamente antidemocrática, está em curso (a carta Trichet-Draghi e a chantagem à Grécia foram sinais disso), precipitando um "novo fascismo" que Pasolini havia previsto profeticamente.

O apocalipse cultural denunciado pelo Pasolini é o principal trabalho dos media e do entretenimento. Um pós-moderno, neoliberal e pseudo-progressista, o "antifascismo dos antifascistas". Na UE, o que é grotesco é que décadas de despolitização, de pregação pós-soberana e pós-estatal, resultam numa adesão fanática a uma farsa de "política" e rearmamento: apenas a tentativa desesperada de uma elite medíocre se manter à tona.

O resultado é uma confusão irrealista, enganadora, profundamente injusta (dinheiro para armas sim, para hospitais não), em contraste com tudo o que os bonzos pró-europeus pregaram em defesa da paz. Se não fosse perigoso, riríamos, mas a UE está a ir na direção oposta à necessária. Por conseguinte, se queremos uma política de cooperação entre Estados baseada no respeito pelos povos e na paz, a lógica da UE tem de ser decisivamente invertida.

Fonte:, Psicopatologia Política da União Europeia prof. Geminello Preterossi, filósofo italiano, ligado às teses de Gramsci. Examina os conceitos de "povo" e que lutas pelos direitos e pela constituição possam ser vetores de uma repolitização da democracia.

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