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19 de julho de 2025

O reaça do Rangel

 

Portugal opõe-se ao direito de um povo a comer!

(João Gomes, in Facebook,18/07/2025, Revisão da Estátua)

: Rangel, o ministro que envergonhou Portugal

Portugal, país de marinheiros, poetas e missionários, orgulhoso do seu humanismo universal e da herança cristã de solidariedade, acaba de escrever uma das páginas mais vergonhosas da sua diplomacia contemporânea.

Na recente reunião da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), em Bissau, o nosso governo opôs-se explicitamente à inclusão do direito dos palestinianos à alimentação numa declaração sobre segurança alimentar e nutricional. Repito: Portugal recusou apoiar o direito de um povo sitiado… a comer (ver notícia aqui).

É difícil escrever isto sem sentir indignação. Em que é que nos tornámos?

Segundo a delegação portuguesa, a menção ao direito dos palestinianos à alimentação seria demasiado política. Mas quando é que a fome deixou de ser política? Quando um povo inteiro, encurralado num território devastado por bombardeamentos, cercado por mar e ar, privado de água, eletricidade e comida, é deixado à mercê do esquecimento internacional, recusar-se a mencionar o seu direito à alimentação é um ato político em si mesmo – e dos mais cruéis.

Esta decisão não é neutra. É um alinhamento vergonhoso com os interesses das potências que apoiam o bloqueio e a destruição de Gaza. É a negação da humanidade de milhões de pessoas que, além de perderem as suas casas e os seus filhos, são agora silenciadas também na luta pela sobrevivência mais básica: o direito ao pão, à água, ao leite.

Uma traição ao povo português e à nossa História

Portugal sempre gostou de se apresentar como uma  ponte entre culturas, como um país de paz, de diálogo, de solidariedade. Foi esse o espírito com que muitos portugueses aplaudiram os acolhimentos de refugiados, as campanhas de ajuda humanitária, o reconhecimento do direito do povo palestiniano à autodeterminação.

Mas tudo isso parece hoje uma retórica vazia. Quando, na prática, o governo português age como cúmplice do silêncio e da opressão, tudo o que resta é o cinismo da diplomacia sem alma. Pior: é uma traição a todos os portugueses que acreditam nos direitos humanos universais e que crescem a ouvir que quem tem fome, tem pressa, como dizia Betinho, o ativista da segurança alimentar.

Esta é a política que os portugueses escolheram

É preciso dizê-lo com toda a clareza: esta é a consequência das escolhas eleitorais recentes. Os partidos que formam a maioria política atual (ou que lhe dão cobertura institucional e ideológica) representam uma visão da política externa submissa ao eixo euro-atlântico, mais preocupada em não desagradar a Washington ou Bruxelas do que em manter-se fiel à Constituição da República, que no seu artigo 7.º afirma que Portugal se orienta pela paz, pela solidariedade entre os povos e pela defesa dos direitos humanos.

Sim, os portugueses votaram – direta ou indiretamente – nesta posição. Votaram em partidos que relativizam o sofrimento dos outros, que esvaziam a diplomacia da sua dimensão moral, e que veem o mundo como um xadrez de interesses e não como uma casa comum da humanidade.

A fome em Gaza é uma fome portuguesa

Quando Portugal se recusa a reconhecer o direito dos palestinianos a comer, está a negar-se a si próprio. Está a negar os valores cristãos que dizem alimentar a sua cultura, onde partilhar o pão sempre foi símbolo de comunidade e de compaixão. Está a negar o seu passado de país pobre, emigrante, tantas vezes faminto e esquecido – como hoje o são os palestinianos.

A fome de Gaza é também uma fome portuguesa – a fome de alma, de coragem e de justiça.

Um apelo à consciência nacional

Não é possível construir uma paz verdadeira com base na omissão e na cobardia. Portugal não pode continuar a invocar princípios humanistas e, ao mesmo tempo, virar as costas a um povo que sofre um castigo coletivo que o direito internacional reconhece como crime. Todos os cidadãos conscientes, todas as organizações da sociedade civil, e todas as igrejas, movimentos estudantis e culturais, deveriam levantar a voz. Não em nome de ideologias, mas em nome da decência.

Porque quando um país nega a alguém o direito de comer, está a negar o direito de se ser humano. E isso, nós, portugueses, nunca deveríamos aceitar que tal fosse feito em nosso nome

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