Linha de separação


13 de novembro de 2024

A esquerda que dança ao som do liberalismo

 Vemos nos media elementos do PS ou do Livre muito assertivos a defenderem a democracia liberal. Dizem-se de esquerda, mas defendem o mesmo sistema de economia política (termo em desuso) que a direita. Democracia liberal é o eufemismo encontrado para o domínio da oligarquia. Marx explica porquê: “Numa nação livre onde não são permitidos escravos a riqueza mais segura consiste numa multidão de pobres laboriosos.(1)

Defender a democracia liberal, permite atacar países socialistas, países com economia mista onde sistemas públicos proporcionam necessidades fundamentais dos cidadãos, países onde o Estado define as estratégias de desenvolvimento económico e social, tratando-os como autocracias, totalitarismos, mesmo tiranias.

Na dita democracia liberal as necessidades básicas, são mercadorias para obter lucros, a habitação, a saúde não são direitos básicos, são oportunidades de lucro monopolista para bancos, farmacêuticas, seguradoras. O emprego não é um direito social, mas perder o emprego é o direito do capital gerar lucros apesar da anarquia capitalista.

Para Frederic Lordon, filósofo marxista, ser de esquerda é reconhecer e lutar pela necessidade de mudar as estruturas financeiras, passando desde logo pelo controlo público da banca. O escândalo não foi salvar os bancos, foi terem sido salvos sem a menor contrapartida dando-lhes carta-branca para retomarem os seus tráficos.

Ser de esquerda, não é enfraquecer o Estado, liquidar o controlo público sobre as grandes empresas e o sistema financeiro e chamar-lhe democracia; tal como não é chamar totalitarismo ou populismo à participação popular e à subordinação do poder económico ao poder político. A dita esquerda democrata liberal, serve precisamente de álibi à direita para mascarar as contradições fundamentais do capitalismo-imperialismo. Destes socialistas é que eu gosto teria dito Reagan acerca de Mário Soares...

O texto seguinte (1) evidencia alguns dos aspetos básicos do liberalismo, não esquecendo que a UE é fundamentalmente um projeto neoliberal. A oligarquia longe de correr riscos, tem os lucros garantidos pelo Estado e instituições públicas. Com a desindustrialização, a financeirização, o trabalho precário, designadamente de imigrantes, o capital venceu nas relações com a força de trabalho e na partilha do rendimento nacional. Como o que se considera riqueza deixou de estar ligado à economia real, os países empobrecem, endividam-se, porque efetivamente só é riqueza a produzida pelo trabalho produtivo, não através de oportunidades financeiras e rentistas.

O aumento da exploração e desigualdades, é mascarado com as boas intenções e eufemismos da "democracia liberal". Uma das máscaras adotadas são as formas de contrato social, mesmo sendo totalmente desiguais. É o caso dos "europeístas" terem definido que não há escolha democrática contra os tratados europeus” (Jean-Claude Juncker). De forma a que o papel do Estado se destine prioritariamente a apoiar e proteger o grande capital no âmbito de mercados alargados. Fora disto "democraticamente" "não há alternativa".

Os Estados e os bancos centrais deixaram de ter o monopólio da criação monetária em benefício dos bancos - resgatados com o dinheiro dos contribuintes em consequência de desvairadas formas de gestão. Contudo, o argumento máximo do liberalismo é que "o Estado é mau gestor"! Donde os Estados têm de financiar-se nos mercados financeiros internacionais, fora disto passa a ser "totalitarismo". Para não fazer concorrência à "eficiência" da finança, até as obrigações do Estado deixaram de ter peso no seu financiamento e ser atrativas para investimentos seguros dos particulares.

O liberalismo toma como critério básico o interesse dos acionistas, não o interesse da nação, como se não houvesse contradições e as prioridades nacionais estivessem sempre do lado dos primeiros. Neste sentido visa-se limitar a intervenção estatal na política social visto que o interesse do grande capital, designadamente financeiro/credor, tem sempre precedência sobre os interesses coletivos, sobre os objetivos de justiça social e de solidariedade nacional. Por isso a fiscalidade progressiva, a tributação redistributiva como meio de reduzir as desigualdades, é vista como confiscatória e totalitária, intrinsecamente injusta e uma violação do direito internacional. (?!) Logo, antidemocrática...

O liberalismo diz-se centrado no indivíduo, mas ao mesmo tempo faz por limitar-lhe o direito de se apoiar em coletivos de classe, na sua continuidade cultural e seus valores históricos. É tempo de ter alternativas ao liberalismo estruturando uma projeção criativa para o futuro comum. É simplesmente tempo de aprender a arte de habitar a terra. Quanto à esquerda, ao contrário da mistificação da "democracia liberal", terá como uma das prioridades de lutar pelo monopólio da criação monetária pelo Estado através do seu banco central.

1 - Marx, cita B de Mandeville (século XVIII) em O capital, Livro 1º Tomo III, Ed Avante, p. 700.
2 - Fonte: Transumanismo como o ponto culminante do liberalismo final

Sem comentários: