Carlos Matos Gomes
Celebrar o 25 de Novembro sem referir Kissinger e Carlucci é tão sério, ou tão desonesto, como celebrar o Santo António sem falar do Santo, ou como celebrar a invenção da guilhotina sem referir o doutor Guilhotin, ou o festejar o estratagema do Cavalo de Troia sem lembrar Odisseu o pai da ideia e Epseu o seu ajudante. Pois foi o que fizeram os participantes da farsa. Podiam ter estudado. Ou terem um pingo de vergonha. Ficam aqui as fotos dos autores, os soldados desconhecidos do 25 de Novembro- Ou são clandestinos a quem o Ventura anda atrás a farejar? Foto de Kissinger e de Carlucci
Manuel Loff no «Público»
(...) «A direita nunca gostou do 25 de Abril. E, impossibilitada de comemorar o que quer que seja a 25 de Abril, quer encontrar no 25 de Novembro uma data para comemorar. Ela e os seus presidentes (Cavaco, Marcelo) já fizeram regressar a comemoração do 10 de Junho, Dia de Camões, aos tempos da Guerra Colonial, transformando-o no “Dia dos Combatentes”, frequentemente com discursos que roçam o elogio da própria guerra, como se ela tivesse sido uma guerra “em nome de Portugal”.
Mas, entre as datas da contemporaneidade, a única alternativa disponível – e não exagero – era continuar a comemorar o 28 de Maio e a “Revolução Nacional” de que falava Salazar. Sendo-lhes inviável fazê-lo, as direitas querem comemorar o 25 de Novembro mas como Salazar comemorava o 28 de Maio: como o momento em que se pôs fim “à ruína da economia, ao assalto da propriedade, à desordem da rua e dos espíritos, (…) à “justiça popular”, à “indisciplina” (discurso de 1940).O 25 de Novembro em tons de 28 de Maio
Não há originalidade alguma. Nesta falsificação repetitiva da história, é sempre assim que as direitas veem os processos de mudança democrática. A democracia fez-se apesar delas, contra elas. Mas ainda não desistiram de vingar-se.»
Sem comentários:
Enviar um comentário