No sector financeiro a Rússia, antecipando já em 2015 o risco de ser cortada do sistema internacional de mensagens bancárias Swift, controlado pelo Ocidente, criou seu próprio sistema, o SPFS, bem como o seu sistema MIR para cartões bancários. Ambos os sistemas podem ser usados internacionalmente e estão ligados ao sistema bancário chinês Union Pay. Outros países vão aderir ao SPFS. A grande ferramenta de ameaças e chantagem a qualquer país de ser cortado do SWIFT não é mais um perigo existencial.
Agora discute-se muito seriamente não apenas a criação de uma nova moeda comum para os países do BRICS, mas também o rublo digital. A moeda será um excelente meio adicional para se livrar das sanções ilegais, pois pode ser usada sem recorrer aos serviços de bancos que podem temer ser objeto de hostilidades ocidentais.
Com as relações económicas russo-alemãs destruídas, as repercussões na economia alemã serão dramáticas. A indústria alemã, em grande parte intensiva em energia, já se encontra em grandes dificuldades, uma vez que os seus custos de produção simplesmente explodiram e os seus concorrentes diretos não europeus, a começar pelos americanos, não têm os problemas que os alemães acabaram de criar.
Na UE que é, de facto, o segundo grande alvo colateral das sanções anti-Rússia dos EUA, a maioria dos projetos de cooperação intracomunitária nos domínios científico, tecnológico e energético já foi reduzida. A médio prazo, as perdas totais de todos os países da UE devido às sanções contra Moscovo são estimadas em várias centenas de milhares de milhões de euros.
Relativamente às importações de alimentos de países hostis à Rússia, os agricultores europeus perdem milhares de milhões de euros todos os anos e acabarão por perder dezenas de milhares de milhões, porque o mercado russo está fechado para eles a muito longo prazo. Mesmo quando as restrições russas forem levantadas, as quotas de mercado serão irrisórias em comparação com as que tiveram no passado.
Do lado do turismo, é principalmente a França que paga a conta. Não há mais turismo entre Rússia e França. No sul da França, é desastroso, bem como para o setor imobiliário. Durante 30 anos, o cliente russo foi importante em termos de volume de negócios. Os media escondem esta realidade.
Para o setor de energia, nem vale a pena falar. Todos sabemos a dimensão do desastre. Uma catástrofe ocultada por gigantescas compensações do Estado aprofundando a já desproporcional dívida pública e que certamente não será paga.
Na economia como nos negócios, tudo é uma questão de alternativas. E a Rússia tem alternativas que os países da UE não têm e não terão. E aqueles que pensam que os americanos vão dar presentes aos seus concorrentes e vassalos que europeus, isso não irá acontecer.
De um modo geral, todos os que seguiram o projeto dos EUA estão a sofrer e sofrerão consequências negativas nas suas economias, consequências muito mais nefastas do que as que a Rússia experimentará. Para que a situação mude, a política externa na UE deve mudar radicalmente. Mas com a propaganda veiculada pelos media e o condicionamento do eleitorado, fica claro que mesmo futuras eleições não têm hipótese de permitir uma melhora significativa nas relações com a Rússia.
Toda a gama de sanções graves controláveis pelo campo atlantista já está esgotada. Uma das principais sanções aplicadas era contra o petróleo russo. Qual o resultado? A Rússia vendeu ainda mais petróleo no primeiro trimestre de 2023 do que antes mesmo do início da guerra na Ucrânia.
O embargo ao ouro russo também não funciona. O ouro terá um papel muito mais importante na economia mundial do que atualmente. O governo russo deveria ter restringido muito mais as exportações de ouro. Deve-se notar que, enquanto as reservas nacionais de ouro nos Estados Unidos e na Alemanha quase não mudaram de volume desde 2000, na França até diminuíram muito, na Rússia, foram multiplicadas por seis no mesmo período.
Quanto às sanções graves, restam apenas aquelas que passam por chantagem e ameaças aos parceiros da Rússia. Mas como são elementos estratégicos, mesmo vitais para os países visados, as hipóteses de sucesso são próximas de zero.
Hoje, estamos a falar de sanções contra o combustível nuclear russo. São planos totalmente irrealistas. O que os responsáveis, ou melhor, os irresponsáveis, da política europeia querem, nunca funcionará. Os burocratas em Bruxelas exigem que a Hungria, fortemente dependente do combustível nuclear russo, a abandone. Quase metade da energia do país vem de instalações nucleares construídas pela Rússia. Novas instalações nucleares estão sendo construídas, a fim de aumentar a independência energética dos húngaros. Von der Leyen pediu a Orbán para as fazer cessar, mas as perdas para o povo húngaro seriam enormes.
Josep Borrell, também se referiu às sanções contra a Índia pelos produtos petrolíferos russos refinados no país. A aplicação de tais sanções seria seria muito dispendiosa para a Europa: a Índia tem um grande número de alavancas retaliatórias contra a economia europeia.
"A guerra na Ucrânia é a guerra do dólar" (Parte 2) -- Oleg NESTERENKO (legrandsoir.info) Oleg Nesterenko, presidente do Centro Europeu de Comércio e Indústria (CCIE) é o parceiro oficial, representando a França nos interesses da Câmara de Comércio e Indústria Russa.
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